
A oportunidade no MIT teve origem em 2022, quando o ativista se candidatou em um edital da funda��o paulista Tide Setubal, que selecionou, entre 382 candidatos, 71 lideran�as negras no pa�s para receber R$ 15 mil de aporte em cursos de forma��o profissional. O valor foi pago em 11 de mar�o do ano passado. Ap�s presta��o de contas, o edital contemplou mais R$ 15 mil, em abril deste ano, que tamb�m s� poderiam ser utilizados em atividades educacionais. Agora, a terceira etapa do edital determina a necessidade de mais R$ 15 mil para forma��o no MIT por meio do financiamento coletivo. Por�m, a cada R$ 1 doado a Kennedy, a funda��o Tide Setubal deposita mais R$ 2.
“Quero ser ponte de oportunidades para pessoas do meu bairro e nos entornos. Ao longo dos anos, convivendo com os moradores e questionando as necessidades deles, sempre notei que havia aqui um grande problema: a falta de oportunidades e a evas�o escolar, causando assim um grande �ndice de analfabetismo”, afirma Kennedy, que v� na tecnologia um caminho para a transforma��o social. “Quero usar o conhecimento adquirido no MIT para transformar a realidade na qual eu nasci e cresci. Sonho em fazer daqui um local de oportunidades”, completa.
“Nossa ONG” e o projeto Programa��o na Quebrada
Como parte de seu ativismo, Kennedy se articulou com mais 20 pessoas para a cria��o da “Nossa ONG” — uma organiza��o de atua��o nacional em defesa do meio ambiente e dos direitos sociais das favelas, aldeias ind�genas, povos quilombolas e ribeirinhos. As lideran�as est�o espalhadas — mas em constante articula��o — por Minas, Rio de Janeiro, S�o Paulo, Bras�lia, Cear�, Bahia e Portugal.

Os moradores do Bairro Santa Rita de C�ssia, Mauricio Evaristo Luciano J�nior, de 21 anos, e Kellvin Farley de Souza, de 18, est�o entre os jovens que v�o participar do curso de programa��o. Para eles, essa � uma oportunidade �nica. “A gente n�o costuma ver pessoas na comunidade fazendo isso. N�o � comum. Ent�o � importante valorizar iniciativas como essa”, comenta Mauricio.

Empreendedor e programador, Mateus Costa, que conheceu Kennedy em um evento de tecnologia no segundo semestre do ano passado, em Juiz de Fora, aceitou o desafio de comandar de forma volunt�ria as aulas do projeto. “Vamos usar um programa chamado Scratch, que ensina a base da programa��o de forma interativa. O maior desafio � fazer os alunos pensarem nela como uma profiss�o que pode mudar suas vidas”, reflete Mateus.
O Scratch, disponibilizado a partir de 2007, foi criado por um grupo de desenvolvimento tecnol�gico do MIT em colabora��o com cientistas da Universidade da Calif�rnia. Trata-se de um software com uma sintaxe mais intuitiva se comparada com outras linguagens de programa��o.
Secret�ria no Cear� se alia ao ativista mineiro
Com sede em Juiz de Fora, em uma pequena casa comprada com recursos pr�prios por Kennedy no bairro onde sempre morou, a ONG tem na vice-presid�ncia a secret�ria de desenvolvimento econ�mico e turismo de Cascavel, no Cear�, Raquel Dias. Gestora p�blica h� 17 anos, ela pontua que suas primeiras coloca��es profissionais v�m de organiza��es n�o governamentais. Ela tamb�m � diretora de educa��o e articula��o social da plataforma �w�re Educa, respons�vel pela gest�o de projetos sociais para povos e comunidades tradicionais e origin�rias. A �w�re � uma iniciativa do Minist�rio P�blico do Trabalho (MPT) em conjunto com a Organiza��o Internacional do Trabalho (OIT) e o Fundo das Na��es Unidas para a Inf�ncia (Unicef).
“Desenrolar a sobreviv�ncia � minha arte”, revela Raquel, que diz ainda sempre ter mirado a oportunidade de estar envolvida de alguma forma na lideran�a de uma ONG. “Acredito na for�a do terceiro setor quando se consegue despender tempo, boas ideias e dedica��o. E eu enxerguei isso na Nossa ONG. Por isso me juntei ao Kennedy, que conheci em 2019, quando ele veio [em Bras�lia] para um evento do partido Cidadania. � �poca, eu j� estava por l� desde 1999. Sou fundadora do n�cleo interno chamado Igualdade 23, que � onde ele milita. Foi assim que nos misturamos pela primeira vez”, lembra.