Profetas de Congonhas reagem bem a banho com biocida

Congonhas – Os l�quens morreram e se desprendem lentamente da superf�cie de pedra-sab�o, deixando � mostra a verdadeira face dos profetas. O bom resultado estimula os especialistas encarregados da limpeza das 12 obras esculpidas por Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814), destaques do Santu�rio Bas�lica Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas, na Regi�o Central de Minas. “Nosso objetivo � retirar as col�nias de micro-organismos. Durante oito meses, vamos fazer o monitoramento”, informa o especialista Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro.

 

H� dois meses, conforme documentado pelo Estado de Minas, foi aplicado um biocida para limpeza de bra�os, cabe�a e demais partes das pe�as esculpidas entre 1800 e 1805. “Al�m da interfer�ncia na beleza dos profetas, os l�quens podem ser deposit�rios de polui��o, por isso ficamos em alerta”, avisa o restaurador. Desde o in�cio de junho, foram feitas duas aplica��es do produto, servi�o custeado pela prefeitura local com acompanhamento do Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan).

A equipe respons�vel pelo trabalho de aplica��o do produto, coordenada por Adriano Ramos e pela tamb�m restauradora Ros�ngela Reis Costa, � composta ainda pelo ge�logo Ant�nio Gilberto Costa e pelo bi�logo Arist�teles Goes Neto, com consultoria do ge�logo portugu�s Jos� Delgado Rodrigues. “Estamos com um grupo multidisciplinar para estudar todos os aspectos envolvendo os profetas”, ressalta o coordenador diante do extraordin�rio conjunto, composto ainda pela bas�lica e por seis capelas (Passos da Paix�o de Cristo), reconhecido como Patrim�nio Mundial pela Organiza��o das Na��es Unidas para a Educa��o, a Ci�ncia e Cultura (Unesco).

Congonhas viveu, recentemente, os efeitos de uma nuvem de poeira, proveniente da minera��o, e os profetas, testemunhas de pedra da hist�ria local em mais de 200 anos, podem funcionar como um term�metro da situa��o. “Para avaliar qualquer fator externo nas pe�as, temos um ge�logo, um bi�logo e um consultor internacional, tamb�m ge�logo, na nossa equipe”, diz Adriano Ramos, do Grupo Oficina de Restauro. Al�m da limpeza com o biocida para retirada dos l�quens, a equipe vai verificar, via monitoramento de oito meses, se a polui��o vem causando danos �s pe�as esculpidas por Aleijadinho.

Olhando para as obras-primas em pedra-sab�o, Adriano explica que os l�quens, quando crescem, podem ser deposit�rios de poluentes. “H� dois tipos: os folhosos, que se assemelham, guardadas as devidas propor��es, a uma couve-flor, e os crostosos, que entranham na pedra e s�o de mais dif�cil remo��o. Estamos diante de um patrim�nio mundial, e faremos o melhor. Mas, resultados, s� mesmo daqui a alguns meses”.

A limpeza dos profetas demandou tr�s aplica��es, sendo a primeira no in�cio de junho, conforme documentado pelo EM. O tratamento � altamente especializado, para n�o interferir na beleza e integridade do conjunto bicenten�rio. A �ltima limpeza, com biocida, ocorreu em 2012.

Programada para ocorrer de cinco em cinco anos, a limpeza estava atrasada em seis anos, e foi alvo de reportagem do jornal, em 3 de novembro de 2021, quando visitantes mostraram essa preocupa��o com o bem cultural hist�rico e religioso. A Prefeitura de Congonhas custeia e est� � frente do servi�o, conforme entendimento com o Iphan, respons�vel pelo tombamento do conjunto em 1939, e autoriza��o do santu�rio bas�lica vinculado � Arquidiocese de Mariana.

Quem visita o Museu de Congonhas, a poucos metros da bas�lica, pode ver a Galeria das R�plicas, que tem 10 lugares reservados para os profetas, com seus nomes, e expostos apenas Jonas e Joel. Em 18 de novembro de 2011, conforme documentou o EM, os dois profetas foram escaneados em 3D, com uso de um rob� usado na ind�stria automotiva de Minas.

Na sequ�ncia, foram feitas as duas pe�as em fibra de vidro. A explica��o, na �poca, � que, caso os profetas em pedra-sab�o presentes no adro da bas�lica sofressem algum ato de vandalismo, mesmo com seguran�a, seria poss�vel fazer a restaura��o com total fidelidade. Al�m disso, as pe�as seriam mapeadas, e alvo de mais pesquisas.

Passados quase 12 anos, o servi�o est� paralisado. De acordo com a Secretaria Municipal de Planejamento e Gest�o/Prefeitura de Congonhas, todo o projeto de confec��o das r�plicas dos profetas de Aleijadinho � realizado juntamente com o Iphan.

Em nota, as autoridades municipais informam que o projeto se encontra em andamento “adotando condicionantes estabelecidas pelo Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional, sendo uma das condicionantes a limpeza das pe�as originais com aplica��o do biocida.

Ainda segundo a nota oficial, “ap�s essa etapa, ser�o realizados estudos para mudan�a da metodologia de escaneamento e confec��o das r�plicas”. A expectativa � que este processo esteja conclu�do nos pr�ximos meses.

De acordo com o Iphan, o conjunto dos profetas do Antigo Testamento, esculpido por Antonio Francisco Lisboa (1738-1814), o Aleijadinho, no Santu�rio Bom Jesus de Matosinhos, � considerado uma das obras-primas do barroco mundial. O conjunto foi tombado pelo Iphan em 1939 e reconhecido pela Unesco como Patrim�nio Mundial em 1985.

O conjunto se comp�e da igreja, com interior em estilo rococ� e seis capelas dispostas lado a lado, denominadas de Passos, com a via-cr�cis de Jesus, al�m de um adro murado e uma escadaria externa monumental decorada com est�tuas de 12 profetas.

A escolha de 12, dentre os 16 profetas que constituem a s�rie do Antigo Testamento, se deve, conforme a especialista em arte sacra e colonial do Brasil, Myriam Andrade, � disposi��o arquitet�nica dos suportes para as esculturas. Assim, o artista, restrito a esse n�mero, selecionou os profetas na ordem de sua entrada na B�blia, excluindo Miqu�ias para dar lugar a Habacuc. Cada um deles traz lateralmente o texto de sua profecia gravado em latim nos rolos de pergaminhos.

A riqueza de detalhes pode ser percebida pelos visitantes, seja no expressionismo das est�tuas ou nas ex�ticas vestimentas dos profetas barrocos. Essa �ltima foi, inclusive, tema de pesquisa do historiador Robert Smith, que verificou refer�ncias � arte religiosa portuguesa no per�odo de 1500-1800, inspirada nas pinturas flamengas do fim da era medieval.