
Para quem era f� das atra��es, a not�cia n�o � das melhores: elas foram suspensas e n�o h� prazo para que retornem, nem garantia. Tamb�m est� fechada a �nica lanchonete do parque. Ela era administrada por Nivaldo Ferreira Fraga, de 81 anos, que tamb�m tinha a concess�o dos barcos. Seu Nivaldo trabalhou no parque por cerca de 65 anos, herdeiro da tradi��o do sogro, Otac�lio Pinho Tavares, que foi quem come�ou a explora��o dos barcos e da lanchonete ainda na d�cada de 1950.
Os animais de montaria, burros e jumentos que andavam com as crian�as pelo local, tamb�m j� n�o s�o mais vistos. Eles foram uma das primeiras atra��es do parque, e h� quase oito d�cadas faziam a alegria dos visitantes. Pertenciam � fam�lia de Jo�o Rafael Antunes, que come�ou a trabalhar com os simp�ticos “burrinhos”, como se tornaram genericamente conhecidos, ainda pequeno, ajudando o pai, Zacarias Antunes, pipoqueiro no parque, pioneiro dessa atra��o, iniciada em 1947. Quem comandava os passeios com os animais era a esposa de Jo�o Rafael, Vera L�cia Galvez, de 66 anos, com ajuda dos filhos.
Segundo os permission�rios, o motivo do encerramento dos servi�os foi econ�mico, j� que as atra��es j� n�o rendiam mais para pagar as despesas, principalmente depois da pandemia de COVID-19 e dos casos de raiva em morcegos, que levaram ao fechamento do parque por um longo per�odo. A exig�ncia de retirada pr�via de ingressos, que vigorou por certo tempo, tamb�m reduziu a frequ�ncia de visitantes e afetou a procura pelas atra��es.

Outro problema, segundo seu Nivaldo, foi o que classifica como intransig�ncia da Prefeitura de BH durante a pandemia. Segundo ele, a dire��o do parque determinou a retirada dos 45 barcos do parque, cada um pesando cerca de 250 quilos. A justificativa era evitar focos de dengue, afirma, mas n�o foi permitido que as embarca��es ficassem emborcadas sobre a grama, de acordo com seu Nivaldo.
A solu��o, conta Nivaldo, foi afundar todos na lagoa. “Eles ficaram quase um ano submersos. Quando retiramos, estavam em p�ssimas condi��es”, afirma. Tamb�m foi determinada a retirada de todo o equipamento da lanchonete, acrescenta. “Resolvemos ent�o vender tudo, pois onde �amos guardar os barcos e as coisas da lanchonete?”, questiona Nivaldo, que contabilizava 75 cafezinhos vendidos s� pela manh� para as pessoas que passavam pelo local cortando caminho.
Quando o Parque Municipal foi reaberto, Nivaldo afirma que a dire��o n�o quis rever os valores cobrados, o que tornou invi�vel manter o servi�o. Para a esposa do permission�rio, Nadma de Pinho Tavares, de 78, a dire��o n�o tinha mais interesse em manter os servi�os, por isso tanta “intransig�ncia”. “� uma pena a prefeitura n�o ter topado fazer uma diminui��o das taxas para poder manter essa tradi��o”, afirma. A fam�lia, segundo ela, n�o tem mais interesse em retomar o neg�cio que passou de uma gera��o a outra e que era um dos cart�es-postais da cidade.
Os barcos j� foram vendidos. Restou apenas um que, segundo Nivaldo, foi deixado no parque para ser usado para alimentar os patos que ficam no lago. Al�m das lembran�as dos tempos em que capitaneava a atra��o, ele guarda muitas fotos, hist�rias e uma r�plica fiel dos seus barcos, feita pela mesma pessoa que construiu os originais, Ivanildo Rodrigues. “Relembrar � viver”, afirma Nivaldo, que n�o esconde a tristeza pelo fim da tradi��o.
A minitropa que bateu em retirada

A tristeza do permission�rio que viu o neg�cio de anos afundar no Parque Municipal se repete na fam�lia de Vera L�cia Galvez, que comandava os passeios de burrinho. Ela conta que n�o tem mais interesse em retomar a atra��o, e que seis dos 23 animais de montaria que trabalhavam parque, entre burrinhos e jumentos, j� foram vendidos para conhecidos.
Os outros, segundo ela, permanecem, pois a fam�lia n�o encontrou pessoas amigas que quisessem adquirir os animas e n�o tem coragem de vender para desconhecidos. Todos ficam na propriedade dos donos, na zona rural, na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte, e, segundo ela, est�o bem,“sendo criados soltos no pasto”. “Eles s�o parte da nossa fam�lia”, afirma Vera.
“Nos �ltimos anos, a gente mantinha a atra��o mais por amor � tradi��o, pois o custo dos animais � alto e t�nhamos tamb�m os gastos com transporte, combust�vel, e ainda as taxas da prefeitura e os funcion�rios”, explica. Com o fim da atra��o, a fam�lia toda ficou triste, pois os burrinhos fizeram a alegria de muitas crian�as e, ao contr�rio do que muita gente falava, eram cuidados com muito amor.
Alguns animais est�o com eles h� 30 anos, caso do jumento Chinelo, que permanece no terreno da fam�lia na zona rural. “Meu filho fez at� um texto lindo sobre eles”, conta Vera. Nele, Zacarias Matheus, agradece os “jumentinhos aben�oados” que tanta alegria trouxeram para a cidade. “Vire e mexe algu�m aparece com uma foto com eles. Quem n�o tem essa foto, n�o teve inf�ncia em BH”, afirma Vera.
Frequentador do parque, Valmir Pereira Batista, de 34, disse que j� tinha notado o sumi�o dos barquinhos e o fechamento da lanchonete e lamentou o encerramento das atra��es. “J� remei muito aqui neste lago. Adorava desde menino fazer esse programa. � uma pena”, comenta.
Fernanda Garrido, de 30, estava nos arredores da lanchonete procurando pelos barquinhos para levar o filho Davi, de 7 anos, para um passeio, mas se decepcionou ao saber do fim do aluguel de embarca��es. “Que pena que ele n�o vai conhecer essas atra��es. Eu vinha aqui desde muito nova e me lembro disso tudo”, conta.
No parque, n�o h� nenhuma placa ou informa��o sobre a suspens�o dos servi�os.
Sem perspectivas
Por meio de nota, a Funda��o de Parques Municipais e Zoobot�nica informou “que as atra��es foram interrompidas por decis�o dos permission�rios, quando da reabertura do parque durante a flexibiliza��o de funcionamento de espa�os durante a pandemia de COVID-19”. Acrescentou que est�o sendo feitos estudos sobre o formato a ser oferecido ao mercado para opera��o de algumas atividades. “At� que esses estudos sejam conclu�dos, n�o � poss�vel prever cronogramas nem quais atividades ser�o, de fato, ofertadas no espa�o”, conclui o texto.
O�sis verde da capital
O Parque Municipal completa 126 anos em 2023. Com 182 mil metros quadrados de �rea verde, na regi�o central de Belo Horizonte, o local � uma das primeiras reservas ambientais da capital e foi inaugurado tr�s meses antes de Belo Horizonte. Inspirado nos parques franceses do s�culo 19, inicialmente n�o era gradeado e tinha cerca 600 mil metros quadrados de �rea, perdida para a constru��o, por exemplo, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, onde hoje fica a Avenida Alfredo Balena. Mensalmente, recebe cerca de 500 mil visitantes. Abriga esp�cies nativas e ex�ticas e � ref�gio de v�rios tipos de aves e pequenos animais.