
Ao meio-dia desta segunda-feira (25/9), os term�metros marcavam 36ºC no Centro de Belo Horizonte. Debaixo do sol de rachar, Maria de F�tima Silva, de 67 anos, carregava uma �nica garrafa d’�gua para matar a sede em meio � onda de calor extremo.
Ela e as quase 6 mil pessoas que vivem nas ruas de BH, segundo Censo Pop Rua 2022, s�o as mais vulner�veis ao calor�o, que bateu novo recorde na segunda-feira, chegando a 38,6ºC, maior temperatura j� registrada em Belo Horizonte desde 1961, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). Com acesso restrito � �gua, fica dif�cil manter a hidrata��o recomendada por especialistas neste per�odo.
H� oito meses, Maria de F�tima montou uma barraca na Avenida dos Andradas, esquina com a Rua dos Caet�s, no Centro, aproveitando a sombra de uma �rvore no local na tentativa de fugir do sol forte. Ela conta com a ajuda do amigo Wesley Faria para enfrentar as dificuldades da vida na rua. “N�o tem como amenizar esse calor. O sol est� castigando”, diz Wesley. A falta de solidariedade de comerciantes e moradores, segundo ele, agrava ainda mais a agonia das pessoas em situa��o de rua. “Ningu�m d� �gua, nem da torneira. � desumano. Eu pe�o: n�o � nem pra mim, � pra ela”, fala apontando para dona Maria.
- Leia tamb�m: BH registra o dia mais quente da hist�ria: 38,6 °C
Marcelo Gomes da Cruz vive, h� 13 anos, com a esposa, nas imedia��es da Pra�a Rio Branco, localizada em frente � rodovi�ria de Belo Horizonte, onde outras pessoas na mesma situa��o se aglomeram em barracas e camas improvisadas. Ele diz que nunca passou por um per�odo t�o quente e reclama da desativa��o de um antigo bebedouro p�blico instalado na pra�a.
“Tinha �gua aqui e cortaram, n�o sei porque. � covardia. Prometeram ajudar e nada”, conta ao Estado de Minas. “No frio, associa��es mobilizam doa��es de roupas, cobertores e sop�es e cobertores. No calor�o, a gente fica esquecido”, reclama um morador em situa��o de rua que preferiu n�o se identificar. Ele veio do Rio de Janeiro para BH h� um m�s e considera a vida nas ruas da capital mineira mais dif�cil. “Aqui � pura sobreviv�ncia”, descreve.
Sem sombra, nem �gua fresca
Em Belo Horizonte, segundo dados do Cadastro �nico para Programas Sociais (Cad�nico), s�o quase 9 mil pessoas em situa��o de rua. Mas o dado varia de acordo com o recorte empregado. Para a prefeitura, considerando cadastros realizados ou atualizados nos �ltimos 24 meses, s�o cerca de 5,8 mil moradores.
Certo � que o n�mero explodiu nos �ltimos dez anos, quando a capital possu�a pouco mais de 2 mil pessoas nessa situa��o, segundo o Minist�rio da Cidadania. A popula��o de rua se vira como pode: busca a sombra de �rvores, tenta se refrescar em fontes e no acesso de ventila��o de lojas e galerias.
A capital mineira tem 46 bebedouros p�blicos espalhados pela cidade, conforme levantamento feito pela C�mara Municipal de Belo Horizonte (CMBH), texto de autoria do vereador Wagner Ferreira (PDT). Destes, 17 est�o inativos e n�o tem previs�o para retomar funcionamento. O documento aponta, ainda, uma concentra��o de bebedouros p�blicos nas regionais Centro-Sul (12), Barreiro (12) e Pampulha (13). Venda Nova, ponto considerado uma 'ilha de calor' em BH, tem apenas um bebedouro p�blico para a popula��o de rua. A regional registrou m�xima 6ºC acima da m�dia da capital, conforme flagrado pelo Estado de Minas, com equipamento de medi��o, na �ltima quinta-feira (21/9).
A regi�o Noroeste, outro ponto de temperaturas elevadas, n�o tem nenhum equipamento de acesso � �gua. Diante da onda de calor vista em Belo Horizonte nos �ltimos dias, parlamentares enviaram um of�cio � PBH para cobrar a instala��o de equipamentos ou distribui��o de copos de �gua em parceria com a companhia de saneamento.
A regi�o Noroeste, outro ponto de temperaturas elevadas, n�o tem nenhum equipamento de acesso � �gua. Diante da onda de calor vista em Belo Horizonte nos �ltimos dias, parlamentares enviaram um of�cio � PBH para cobrar a instala��o de equipamentos ou distribui��o de copos de �gua em parceria com a companhia de saneamento.
Muito antes da onda de calor, a falta de �gua para beber e de banheiros j� era uma demanda hist�rica da popula��o em situa��o de rua. “Agora ficou pior. Antigamente ainda tinha a fonte na Pra�a da Esta��o – nem isso tem mais. A distribui��o de �gua est� cada vez mais escassa”, afirma Alexandre Lima, defensor popular e membro do grupo gestor da rede Novo Olhar Rua, que congrega cerca de 100 coletivos de rua.
No ano passado, a Prefeitura de BH se comprometeu a criar pontos de acesso � �gua em pra�as de BH e a reativar banheiros p�blicos espalhados pela regi�o central da cidade, onde se concentra a maior parte da popula��o de rua. O acordo, firmado no Centro Judici�rio de Solu��es de Conflito e Cidadania, ficou s� no papel.
As entidades de apoio � popula��o de rua lutam pela garantia de direitos b�sicos, como banheiro p�blico, acesso � �gua e amplia��o da tem�tica da moradia e da gera��o de renda. “Isso � muito importante, inclusive, para que essa realidade mude um pouco. Precisamos de uma mobiliza��o coletiva, mudar o olhar da popula��o civil em rela��o a popula��o de rua”, avalia Alexandre Lima, do Novo Olhar Rua.
S� na promessa
No ano passado, a Prefeitura de BH se comprometeu a criar pontos de acesso � �gua em pra�as de BH e a reativar banheiros p�blicos espalhados pela regi�o central da cidade, onde se concentra a maior parte da popula��o de rua. O acordo, firmado no Centro Judici�rio de Solu��es de Conflito e Cidadania, ficou s� no papel.
As entidades de apoio � popula��o de rua lutam pela garantia de direitos b�sicos, como banheiro p�blico, acesso � �gua e amplia��o da tem�tica da moradia e da gera��o de renda. “Isso � muito importante, inclusive, para que essa realidade mude um pouco. Precisamos de uma mobiliza��o coletiva, mudar o olhar da popula��o civil em rela��o a popula��o de rua”, avalia Alexandre Lima, do Novo Olhar Rua.
Em junho, BH abriu consulta p�blica para interessados em instalar e operar banheiros p�blicos em Belo Horizonte. A iniciativa abrange 18 sanit�rios. Em troca, os concession�rios poder�o explorar 80 engenhos de publicidade na capital mineira e explorar comercialmente nove quiosques.
Em reportagem publicada no ano passado pelo Estado de Minas, a prefeitura da capital informou que os sete banheiros p�blicos que ela administra “est�o passando por uma revitaliza��o”. A gest�o municipal cita, ainda, que uma parceria p�blico-privada (PPP) para a instala��o de 75 sanit�rios em locais mais movimentados da cidade estava sendo elaborada.
Em reportagem publicada no ano passado pelo Estado de Minas, a prefeitura da capital informou que os sete banheiros p�blicos que ela administra “est�o passando por uma revitaliza��o”. A gest�o municipal cita, ainda, que uma parceria p�blico-privada (PPP) para a instala��o de 75 sanit�rios em locais mais movimentados da cidade estava sendo elaborada.
As pessoas em situa��o de rua dependem da boa vontade e solidariedade da sociedade civil, e de institui��es de apoio social. Nesta ter�a-feira (26/9), o projeto Comida Que Abra�a realiza uma campanha, emergencial, com distribui��o de �gua na Pra�a da Esta��o, a partir das 15h. Desde o in�cio da onda de calor que atinge a capital mineira, o projeto conseguiu arrecadar fundos para a compra de 500 garrafinhas. A meta, segundo a organiza��o, � garantir no m�nimo 2 mil garrafas de �gua.
O que diz a PBH
Para garantir a hidrata��o da popula��o em situa��o de rua, h� atualmente 85 bebedouros p�blicos nos parques municipais e Centros de Vigil�ncia Agroecol�gica (Cevae). Considerando somente os parques da regional Centro-Sul – onde se concentra o maior n�mero de pessoas em situa��o de rua – est�o instalados 34 bebedouros p�blicos.
Os moradores em situa��o de rua ainda podem procurar as unidades da Assist�ncia Social: os quatro Centros Pop da cidade e abrigos e casas de passagem para tomar banho. Nos locais eles ainda t�m acesso a sanit�rios, lavagem de roupas, lanche e �gua para beber.
A PBH ressalta ainda que os Centros de Sa�de e as UPAs est�o com estoques abastecidos de medicamentos e insumos para casos de desidrata��o associadas ao tempo seco.