
J�lia esteve em Israel at� dois dias antes de acontecer o primeiro ataque do Hamas neste m�s. "Eu fui ao Egito para conhecer, dentro de um projeto que estou desenvolvendo que se chama 'atividades para as pessoas se expressarem atrav�s da arte'".
Ela conta que deixou suas roupas, pertences e dinheiro na casa de amigos, no Monte Sinai. "Eu tinha programado visitar o Egito, passar uns cinco dias e retornar a Israel. Mas como a guerra explodiu, n�o tinha como retornar. A solu��o foi comprar uma passagem e voltar para o Brasil".
Foi uma situa��o muito desgastante, segundo J�lia, mesmo n�o estando na guerra, mas pr�xima dela. "Nessa hora, nada tem valor, a n�o ser a vida. Por isso, considero que tudo o que ficou para tr�s, est� perdido. Talvez um dia volte l�, � um pa�s muito lindo. Espero rever os amigos que fiz. Um dia", afirma.
Toda a situal��o envolvedno a guerra mexeu com J�lia, que est� escrevendo um livro sobre as situa��es vividas. Um cap�tulo est� pronto. Leia um trecho:
Mais amor, por favor
Eu estou sem palavras.
H� tr�s dias j� estou sem ter muito o que dizer.
A inten��o hoje era falar sobre paci�ncia, mas sinto que preciso voltar para este lugar antes de coloc�-lo aqui.
Dado aos �ltimos acontecimentos, tornou-se imposs�vel trazer outra inten��o para este dia, esta semana, essa vida que seja diferente de PAZ, AMOR e HARMONIA para mim, para voc� e para o mundo.
Os �ltimos dias aqui no Oriente M�dio me fizeram visitar um lugar que eu n�o conhecia: a guerra, o terror e o medo.
O sil�ncio est� barulhento por aqui.
As ondas do mar e o vento no deserto trouxeram not�cias de guerra.
Uma realidade t�o distante de repente se mostrou assustadoramente pr�xima.
Ela n�o est� l�. Ela est� aqui.
O ar tem uma densidade diferente causada pelo medo.
Ele passa por mim em forma de arrepio que percorre da ponta do dedo do p� at� o �ltimo fio de cabelo.
Eu vejo a inseguran�a no olhar das pessoas que temem pela pr�pria seguran�a, de seus familiares e amigos.
Eu a vejo na m�e que teve o filho levado para a base no L�bano;
Eu a vejo na mulher que precisa fingir sua nacionalidade para tentar voltar para casa, sem saber como est� sua casa;
Eu a vejo na falta de not�cias das pessoas queridas e desaparecidas.
A gente cresce escutando falar sobre guerra de um lugar muito distante do Brasil.
Mas aqui � diferente.
J� imaginou viver com o som de bombas e alarmes de evacua��o sendo normatizado?
No meu mundo n�o tinha isso.
Mas o que eu conhecia por realidade virou de cabe�a para baixo nos �ltimos dias.
Sigo acreditando na beleza, magia e prote��o divina que me trouxe para o Egito 2 dias antes de tudo isso come�ar.
Era para ficar 5 dias no deserto e voltar.
Mas antes que eu tivesse tempo para isso, explodiu uma guerra.
Sa� de Israel com v�rios planos, sonhos e projetos para o m�s de outubro.
Umas roupas deixei na casa de uma amiga.
Alguns instrumentos ficaram na casa de outra.
"Na volta eu pego."
"Na volta eu fa�o."
"Na volta eu termino."
Mais uma vez a vida me convocou para desapegar.
Mais uma vez a vida me orientou para recome�ar.
Mais uma vez a vida veio me relembrar que se n�o agora, quando?
Esses momentos nos relembram que bens materiais n�o valem absolutamente nada.
De que adianta, roupa, dinheiro, mochila se minha vida est� em risco?
Penso nas pessoas que perderam e deixaram pra tr�s muito mais do que uma mochila.
Meu cora��o hoje est� com cada uma delas.
O futuro � imprevis�vel.
Na real a gente n�o sabe de absolutamente nada, e a melhor decis�o que a gente pode fazer da vida � viver.
Minha inten��o para hoje � orar para que o mundo encontre paz. Chega de separa��o, viol�ncia e guerra. Desejo que as pessoas se curem das doen�as causadas pela falta de amor. Sonho com o dia que o planeta encontrar� o caminho de volta para a liberdade, a alegria e o amor que conecta. Acredito que poder de transforma��o est� em reencontrar o lugar que a gente se une.
Com amor,
Julia Alvim