O general Jorge Enrique Mora passou toda a sua vida profissional combatendo rebeldes colombianos, cujos ataques a tropas sob seu comando o for�aram a comparecer a mais funerais do que a maioria das pessoas poderia suportar.
A partir de segunda-feira, no entanto, ele se sentar� com os rebeldes para discutir paz, e o ex-comandante das for�as armadas pode ter um papel crucial no sucesso ou fracasso das negocia��es, que come�am nesta segunda-feira (15) em Oslo, capital da Noruega.
Para o general, os rebeldes eram apenas "bandidos, traficantes de drogas e terroristas". Comandante do ex�rcito na �poca, Mora tornou lento o processo de retirada das tropas da �rea segura e os militares desafiaram repetidamente os l�deres civis, ao ordenarem sobrevoos na regi�o.
Desta vez, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, optou por n�o excluir os soldados, e incluiu Mora entre os cinco negociadores. Ele sabe que precisa da b�n��o dos militares para "vender" � popula��o, ou aos quart�is, qualquer acordo que eventualmente saia das negocia��es.
Adam Isacson, especialista em Col�mbia no Washington Office on Latin America, disse que o �ltimo processo de paz fracassou, entre outros motivos, porque o governo n�o tinha o comprometimento das for�as armadas. Inclu�-los no processo logo de in�cio foi uma decis�o acertada, opinou Isacson, porque agora eles n�o podem fazer como da �ltima vez.
Mora representa um grupo que tamb�m � bastante afetado pelo conflito. Todos os anos, centenas de soldados s�o mortos e outras centenas s�o mutiladas por minas. Soldados e policiais foram capturados e mantidos - em alguns casos, por mais de uma d�cada - em pris�es na selva. As Farc libertaram os �ltimos desses prisioneiros em abril, como uma das condi��es para o in�cio de negocia��es secretas em Havana.
O presidente da Associa��o Colombiana de Militares Aposentados, o ex-general do ex�rcito Jaime Ruiz, diz que o papel dos militares nas negocia��es � crucial. "Embora n�o tenhamos confian�a (nos guerrilheiros), n�o podemos nos opor ao processo, porque o pa�s quer paz", observou. Segundo uma pesquisa publicada no m�s passado pela revista Semana, 77% dos colombianos apoiam as negocia��es de paz.
Assim como outros militares, Ruiz ficou feliz quando Santos deixou claro que as opera��es militares continuar�o at� que se chegue a um acordo de paz que obrigue as Farc a se desarmarem. Desta vez, n�o haver� cessar-fogo nem uma �rea segura para os rebeldes.
Durante as negocia��es de paz entre 1999 e 2002, os rebeldes continuaram a atacar as tropas de Mora fora da �rea segura. O general disse que as Farc continuavam a fazer sequestros e a expandir o tr�fico de coca�na.
Os militares tamb�m se irritaram quando o principal negociador do governo, Victor G. Ricardo, forneceu a l�deres das Farc c�pias de documentos legais que detalhavam acusa��es de abusos praticados por membros das for�as armadas. As Farc exigiram que todos os soldados acusados de viola��o dos direitos humanos fossem julgados por tribunais civis.
O tema deve vir � tona novamente, principalmente pela fama de desrespeito aos direitos humanos adquirida pelas tropas durante a transforma��o do ex�rcito em uma for�a mais profissional, durante o mandato do ent�o presidente Alvaro Uribe, entre 2002 e 2010, com o apoio dos Estados Unidos.
As for�as armadas causaram grandes estragos aos rebeldes, reconquistando quase todo o territ�rio do pa�s, reduzindo significativamente o n�mero de sequestros e extors�es e causando uma onda de deser��es entre os guerrilheiros.
Centenas de militares, no entanto - inclusive alguns de alta patente - mataram sem autoriza��o. Em alguns casos, agricultores foram mortos, e depois vestidos com uniformes e classificados como rebeldes. At� agora, de 1.948 militares acusados por mortes desse tipo, 601 foram condenados, de acordo com o minist�rio p�blico. Qualquer acordo de paz ter� de incluir essa sens�vel quest�o, e tamb�m o que fazer com os l�deres das Farc acusados de crimes de guerra.