
Perto da beira-mar em Tr�poli, cidade do norte do L�bano, artistas lan�aram um protesto sem precedentes para salvar uma joia da arquitetura modernista concebida h� mais de meio s�culo pelo brasileiro Oscar Niemeyer.
Estes artistas do L�bano e de outros lugares (cantores, diretores, atores...) ocupam h� um m�s a "Feira Internacional de Rashid Karami", um grande complexo arquitet�nico concebido na d�cada de 1960 pelo "pai de Bras�lia".
Localizado em um terreno de 70 hectares, segundo a Unesco, esse conjunto de pr�dios futuristas em concreto, cuja constru��o foi interrompida pela guerra civil que destruiu o L�bano entre 1975 e 1990, recebeu o nome de um ex-primeiro-ministro liban�s da regi�o de Tr�poli.
Foi usado pelas for�as armadas durante a guerra e depois abandonado. Hoje, est� repleto de marcas do tempo: estruturas rachadas, piscinas vazias, ervas daninhas...
O evento cultural organizado em seu interior, intitulado "Cycles of collapsing progress", visa a resgat�-lo do esquecimento, incitar a Unesco a inscrev�-lo na Lista do Patrim�nio Mundial e o governo liban�s de intervir rapidamente.

Era de ouro
Este local futurista � "�nico no L�bano e na regi�o", diz, entusiasmado, Wassim Naghi, presidente da Uni�o dos Arquitetos do Mediterr�neo.
C�pula, arco, escadas em espiral no topo: Niemeyer deixou sua imagina��o fluir em um lugar que ele concebeu como um espa�o p�blico para encontros, aberto a todos.
A "Feira" deveria receber exposi��es permanentes, tr�s museus e um teatro experimental, antes que a guerra civil do L�bano pusesse fim ao sonho.
"Em sua modernidade, suas formas curvas, resume o progresso da arquitetura nos �ltimos 100 anos", resume Naghi, lembrando que � uma das "maiores obras de Niemeyer fora do Brasil".
Mas esta heran�a est� amea�ada. "Os edif�cios de concreto armado devem ser restaurados o mais r�pido poss�vel: alguns sofreram corros�es, blocos est�o caindo e h� muitas rachaduras", adverte o presidente da Uni�o dos Arquitetos.
"Tememos surpresas desagrad�veis, especialmente no inverno, e pedimos urgentemente ao Estado que intervenha", pediu.
Este local "testemunha a era de ouro da hist�ria moderna do L�bano e seus sonhos arquitet�nicos, cient�ficos e culturais", diz a curadora Karina El Helou.

Foguete "Cedar"
Este per�odo pr�spero foi marcado por uma prolifera��o de ideias e projetos, lembra ela.
Originalmente, um espa�o subterr�neo abrigaria um museu de arquivos sobre a explora��o espacial do L�bano, em homenagem a um epis�dio de sua hist�ria que muitos libaneses desconhecem. Na d�cada de 1960, o pa�s lan�ou v�rios foguetes pequenos sem astronautas, dos quais apenas um deles conseguiu chegar ao espa�o.
Este programa parou em 1969 e o museu espacial nunca chegou a existir.
Para ressuscitar sua mem�ria, uma reprodu��o do foguete "Cedar" - que cruzou a atmosfera h� mais de 50 anos - est� exposto onde seria o museu, como parte do evento cultural em andamento.
Uma pe�a de teatro experimental tamb�m � proposta - um aceno ao teatro que o complexo iria abrigar - bem como um concerto dedicado aos imigrantes ilegais que vivem em Tr�poli.

Promessas
O evento cultural tamb�m "destaca o perigo iminente que pesa sobre este s�tio", diz H�lou. "� bom restaurar os locais da hist�ria antiga, mas tamb�m devemos preservar esses monumentos que refletem a hist�ria moderna do pa�s", aponta.
Dada a indiferen�a das autoridades, denunciada pelos artistas, a representante do L�bano na Unesco, Sahar Baassiri, garante que o Estado liban�s e a organiza��o internacional est�o mobilizados.
"Pretendemos continuar o trabalho em vista de inscrever o local na lista do Patrim�nio Mundial em Perigo, na se��o 'arquitetura contempor�nea'", informou.

Mas alguns temem que o atual impasse pol�tico no L�bano possa precipitar ainda mais a decad�ncia do local, enquanto o pa�s est� sem governo desde maio.
Para sua reabilita��o, "precisamos de estudos (...) de dinheiro e de um governo", insiste Naghi. "A atmosfera atual no pa�s n�o � um bom sinal".
Para Akram Oueida, diretor-geral da Feira, uma classifica��o da Unesco poderia "abrir as portas para doa��es externas". "Estamos tentando obter financiamento do governo, nos foi prometido, mas nada foi feito".
