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Estado de Minas DA MIS�RIA AO ESTRELATO

Imigrante que cantava debaixo de ponte foi descoberta por programa de TV

Rosa Mar�a Mart�nez � uma enfermeira de 30 anos que participou de audi��o de competi��o musical na Espanha e conquistou o p�blico e os jurados.


14/10/2021 06:21 - atualizado 14/10/2021 09:28



"Voc� representa tudo o que temos que nos orgulhar", disse o apresentador Risto Mejide � imigrante venezuelana Rosa Mar�a Mart�nez, ap�s a apresenta��o dela no programa musical espanhol Got Talent Espa�a no m�s passado.

Ao classificar a apresenta��o como perfeita, Mejide e os outros dois jurados agradeceram Rosa por tamb�m ter ajudado o pa�s no combate � pandemia de covid-19. Ela � enfermeira e esteve na linha de frente contra o novo coronav�rus.

Segundo os jurados, ela representa os idosos (de quem ela cuida como enfermeira), os profissionais de sa�de e tamb�m o talento dos artistas. Na disputa, Rosa cantou a m�sica "Adi�s Nonino", de Astor Piazzolla.

Rosa María Martínez
Rosa Mar�a Mart�nez veio da Venezuela para a Espanha (foto: CORTESIA: ROSA MAR�A MART�NEZ)

Ap�s os diversos elogios, os jurados tomaram uma medida pouco comum na disputa: apertaram o bot�o dourado. Isso significa que ap�s essa primeira audi��o ela foi direto para a semifinal da competi��o.

A participa��o da cantora, exibida em 17 de setembro, foi um epis�dio emocionante no concurso, especialmente quando um grupo de idosos, seus "her�is" — como ela chama —, subiram ao palco para acompanh�-la antes da decis�o dos jurados.

Rosa gostava de cantar para os idosos que tratava no hospital. Para preparar as can��es de seu repert�rio, ela costumava ensaiar em baixo de uma ponte, onde havia boa ac�stica. Acabou sendo descoberta por acaso por um jornalista, que fez uma reportagem que despertou o interesse dos produtores do Got Talent Espa�a .

Essa � a hist�ria da enfermeira de 30 anos, m�e solo, que nasceu em Maracay, na Venezuela, e cuja voz cativou muitas pessoas na Espanha e em outros pa�ses.


Rosa María Martínez vestida para apresentação na Venezuela
Artista vestida para apresenta��o na Venezuela (foto: Cortesia: Rosa Mar�a Mart�nez)

"Um v�nculo muito forte"

"Quando crian�a, era muito doente e asm�tica. Eu admirava muito a minha tia Miriam, que era enfermeira. Queria ser como ela e como as enfermeiras que cuidavam de mim. Tamb�m queria usar o uniforme branco", conta a artista � BBC News Mundo (servi�o em espanhol da BBC).

Ela come�ou a estudar m�sica aos 12 anos e aos 17 passou a se especializar em canto l�rico.

Anos mais tarde, realizou o sonho de se formar em enfermagem. "Trabalhei em uma �rea muito dura no setor de sa�de na Venezuela, a oncol�gica".

"Os pacientes com c�ncer s�o muito afetados pelas dificuldades do pa�s", especialmente, explica Rosa, pela falta de rem�dios espec�ficos, que s�o importados.

"Quando uma pessoa passa por uma quimioterapia, precisa de um conjunto de medicamentos e se falta algum, a finalidade dos outros medicamentos � afetada. Por isso, tive de enfrentar com frequ�ncia as mortes dos meus pacientes", desabafa.

"Tive que ajudar muitos deles que n�o tinham recursos. Por exemplo: ou comiam ou iam para a quimioterapia. Ent�o, eu dizia: invista o seu dinheiro em vir para a quimioterapia, eu me encarrego de trazer comida para voc�", diz Rosa.

"Os pais dos adolescentes que tinham algum tipo de c�ncer, desses que acometem as crian�as, n�o tinham recursos", conta Rosa.

"Esses pais chegavam e me diziam: 'Enfermeira, preciso de passagem para levar essa amostra, o �nico dinheiro que tenho � para pagar o laborat�rio, mas tamb�m preciso de dinheiro para o transporte'. Eu acabava ajudando alguns a complementar o que faltava", relata.

"Por qu�? Bem, no fim das contas � estabelecida muita conex�o com o paciente, mesmo que n�o queira, e a ruptura desse v�nculo � muito forte."


Rosa María Martínez com colegas na Venezuela
Rosa junto com colegas que trabalhavam com ela em setor de oncologia na Venezuela (foto: Cortesia: Rosa Mar�a Mart�nez)

Rosa conta que quando o marido ligava para ela, na �poca ele morava em Caracas (capital da Venezuela), sempre a encontrava chorando porque algum paciente havia morrido.

Ela conta que a situa��o come�ou a afetar profundamente. "� muito sofrimento", lamenta. E Rosa sentiu que era necess�rio parar e fazer algo diferente por um tempo, "talvez para clarear a mente e me afastar um pouco daquela situa��o que tem a ver com doen�a e com morte".

A mudan�a

Ela foi trabalhar com m�sica em Caracas. Como soprano, integrou o Coro de �pera do Teatro Teresa Carre�o, o principal da regi�o.

A artista come�ou como cantora solo e, ap�s v�rias apresenta��es, em 2018 se apresentou junto com a Orquestra Filarm�nica da Venezuela.

Rosa se tornou prestigiada como cantora, mas uma decis�o se tornou inevit�vel. "Como muitos venezuelanos, deixei o pa�s em busca de mais estabilidade".

"A coisa mais dolorosa foi ter que deixar a minha filha, que tem 10 anos", conta.

"A Giselle � a minha maior inspira��o, o meu principal motor", afirma. "Ela, a minha m�e e a minha irm� dependem completamente de mim. Todos os gastos da minha filha s�o por minha conta", diz.

Ela conta que criou a garota sozinha, ap�s se separar do pai da crian�a.

Rosa chegou � Espanha em 2019, fez mestrado em M�sica Espanhola e Hispano-Americana na Universidade Complutense, fez est�gio no departamento de M�sica da Biblioteca Nacional da Espanha e algumas poucas apresenta��es.

Mas a chegada do novo coronav�rus virou tudo de cabe�a para baixo.


Rosa María Martínez junto com a filha Giselle
Junto com a filha, Giselle, que ficou na Venezuela com a av� e uma tia (foto: Cortesia: Rosa Mar�a Mart�nez)

O golpe da pandemia

"Como aconteceu em todo o mundo, na Espanha tamb�m apareceu a necessidade de recrutar enfermeiros que pudessem trabalhar em meio � crise sanit�ria", afirma Rosa.

"E para mim foi um dever moral, �tico e profissional oferecer os meus servi�os como enfermeira, tendo em vista que eu tenho forma��o e experi�ncia no meu pa�s, por isso atendi ao chamado e comecei a trabalhar em asilos".

Ela conta que trabalhou em um abrigo para idosos que foi muito afetado pela pandemia. "Houve v�rios (que morreram), um, dois, tr�s ou quatro no mesmo dia. A situa��o era dif�cil porque no in�cio t�nhamos que atend�-los sem os recursos necess�rios", desabafa.

Mas depois do in�cio da pandemia, per�odo em que a Espanha foi um dos pa�ses mais atingidos pela covid-19, a situa��o mudou e as coisas melhoraram.

"Hoje vejo o processo da morte de forma diferente", revela Rosa.

"A minha experi�ncia com pacientes com c�ncer me preparou um pouco e o trabalho com esses idosos e a morte terminou de me mostrar um outro lado desse processo da vida, que � o fim", diz.


Rosa María Martínez com um traje de proteção sanitária
Em meio � pandemia, Rosa com traje de prote��o sanit�ria (foto: Cortes�a: Rosa Mar�a Mart�nez)

'Cante o que quiser'

"Em um dos corredores de um dos primeiros asilos em que trabalhei, um grupo de idosos se reuniu para fazer o ros�rio".

Ela perguntou se poderia cantar para eles. "Como s�o muito simp�ticos, me disseram: 'Claro, filha, cante o que quiser' e eu cantei Ave Maria".

"Eles ficaram t�o emocionados que aquilo se tornou em um ritual para mim e todas as 17h30 passei a cantar. Se eu n�o aparecia, porque estava muito ocupada, mandavam me chamar", diz.

Para se apresentar para idosos, ela sempre seguiu um protocolo sanit�rio r�gido. "Comecei a cantar com todo o traje de prote��o (contra a covid), com �culos especiais, luvas, m�scara dupla e uma tela. Tudo para proteg�-los", detalha.

Depois dos meses mais dif�ceis da pandemia, os espa�os para receber idosos durante o dia come�aram a reabrir na Espanha e Rosa conseguiu emprego em um deles.

No novo emprego, ela n�o apenas cuidava da sa�de dos idosos. Ela tamb�m participava de atividades de estimula��o neurol�gica para eles.

Nesse per�odo, sua paix�o pela m�sica ganhou uma nova dimens�o e ela se especializou em musicoterapia.

"Eu havia cantado na festa de despedida de uma enfermeira e, desde ent�o, os idosos decidiram que eu cantaria para eles nos anivers�rios e em todas as comemora��es que surgissem".

E, aos poucos, ela foi passando a fazer apresenta��es no lugar, no qual os idosos iam vestidos com roupas de gala.


Rosa María Martínez com um grupo de colegas de trabalho e idosos
Rosa com um grupo de colegas que trabalha com ela em asilo e com alguns idosos (foto: Cortes�a: Rosa Mar�a Mart�nez)

Debaixo da ponte

Rosa diz que n�o tinha lugar para ensaiar para essas apresenta��es. Ela n�o podia fazer isso em casa porque, segundo a artista, isso n�o � comum na regi�o em que mora.

Ent�o, junto com o seu pianista, que � seu companheiro que migrou com ela, buscou um lugar.

"Caminhando no parque Madrid R�o, passei embaixo da Ponte de Toledo e, por acaso, me dei conta de que os arcos do local tinham uma ac�stica muito boa", diz.

"Quis experimentar com a voz e me pareceu um lugar extraordin�rio para ensaiar".

Assim, ela encontrou o lugar que precisava. "Um dos ensaios foi ouvido por um jornalista que, como muitos dos que foram ao parque, ficou at� o fim do ensaio", relembra Rosa.

Ele se aproximou, a parabenizou e perguntou se ela queria ser entrevistada.

Fizeram uma reportagem para a televis�o no dia em que ela faria uma apresenta��o para os idosos.

A reportagem foi vista por um dos produtores do Got Talent Espa�a , que entrou em contato com Rosa e perguntou se ela queria participar da competi��o musical.


Rosa María Martínez com um grupo de idosos e colegas
Rosa est� feliz com a repercuss�o de participa��o em programa e por ter sido apoiada por seus chefes, colegas de trabalho e pelos idosos que ela acompanha (foto: Cortesia: Rosa Mar�a Mart�nez)

N�o esperava

Rosa seguiu todos os passos para participar da atra��o e foi convidada para cantar em frente aos tr�s jurados e ao p�blico, que assistiria � audi��o dela na plateia do programa.

"No �ltimo minuto, a equipe de produ��o teve a ideia de que eu poderia levar alguns dos idosos. Ent�o, escolhemos os mais ativos, os mais art�sticos, os mais participativos e os levamos com uma equipe de cuidadores", conta.

"Eu podia v�-los sentados no teatro e disse algumas palavras a eles quando estava no palco", diz.

"Mas o que eu n�o esperava era que eles fossem subir e que os jurados apertassem o bot�o dourado enquanto eu estava com os meus idosos l� em cima", diz a artista, muito animada.

"Fiquei em uma esp�cie de choque, especialmente quando falaram para os av�s subirem, porque ali deixei de ser artista e voltei a ser enfermeira e falei: 'os meus av�s v�o cair, tenho que busc�-los' e calculei cada passo que eles davam. Me desliguei um pouco nesse momento, para ficar atenta a eles, que s�o uma responsabilidade muito grande", relata.

Ela afirma que n�o esperava ouvir palavras t�o bonitas dos jurados, que ela avalia que tamb�m se estenderam para os profissionais de sa�de, para os idosos que ela cuida e "para todos os venezuelanos que est�o espalhados por muitos pa�ses para sustentar suas fam�lias na Venezuela".

"Foi um reconhecimento muito bom. Para mim, na verdade, foi um grande pr�mio", diz.


Rosa María Martínez na Ponte de Toledo
"Na Ponte de Toledo, onde conheci o jornalista", diz Rosa (foto: Cortesia: Rosa Mar�a Mart�nez)

Os antigos pacientes

Rosa diz que se sente muito orgulhosa dos venezuelanos, da solidariedade deles e da capacidade que t�m de "se unir e celebrar as conquistas de outros".

Ela sabe que o "enorme sacrif�cio" que passa por estar separada da filha tamb�m se repete em muitas hist�rias de seus compatriotas.

"� algo que os pais n�o querem fazer, mas que os filhos t�m que saber que vamos busc�-los e daremos tudo o que merecem, principalmente o amor que temos contido", diz.

Ela afirma que fica feliz que sua filha a acompanhou, ainda que a dist�ncia, nessa experi�ncia na competi��o musical. "O que mais quero � que ela veja em mim uma pessoa exemplar, que queira ser como eu".

Diante da grande repercuss�o que a audi��o gerou nas redes sociais, muitas pessoas entraram em contato com ela.

"No momento, estou recebendo mensagens dos pacientes com c�ncer", diz.

"Eu me perguntava o que teria acontecido com eles, talvez tivessem morrido e eu n�o fiquei sabendo. Mas n�o. Eles est�o vivos!", comemora.

SIN PALABRAS

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— Got Talent Espa�a (@GotTalentES) September 17, 2021

"Por exemplo, a fam�lia de um dos meus pacientes com leucemia conseguiu lev�-lo para a It�lia para um transplante de medula e ele me escreveu: 'lembra de mim? Voc� me colocou em muitas quimioterapias. Continuo na It�lia.' Comecei a chorar de alegria".

"Admiro os pacientes com c�ncer. Eles s�o uma inspira��o, porque n�o existe pessoa mais pr�xima da morte do que um paciente com c�ncer, mas n�o h� pessoa que ame mais a vida do que um paciente com c�ncer. Ele a ama mais do que uma pessoa que est� saud�vel,e tem muita esperan�a e vontade de viver".

"Para eles, o meu respeito e o meu agradecimento por terem me ensinado a apreciar e a amar a vida e por terem me ensinado que existem milagres".

Enquanto espera a semifinal da competi��o, Rosa continua em seus trabalhos com idosos. Ela sonha em seguir para a final da disputa e procura uma forma de reencontrar a filha.

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