
Do extremo sul do Chile, o esquerdista Gabriel Boric, de 35 anos, se tornou neste domingo (19) o presidente mais jovem da hist�ria do Chile, um pa�s com grandes desigualdades sociais que o l�der millennial quer resolver promovendo um Estado de bem-estar social.
Com 99,47% das urnas apuradas, o ex-l�der estudantil foi eleito ao derrotar o advogado de extrema direita Jos� Antonio Kast, de 55 anos, com mais de 11 pontos de diferen�a.
A retumbante vit�ria de Boric foi imediatamente reconhecida por Kast e suscitou os melhores votos do presidente cessante, o conservador Sebasti�n Pi�era, em uma liga��o tradicionalmente transmitida em todos os canais de televis�o. O telefone costuma ser usado, mas desta vez uma videochamada foi realizada.
Boric, para quem "o pa�s d� o melhor de si quando estamos unidos", vai liderar uma na��o que redige sua nova Constitui��o em uma Conven��o Constituinte, criada ap�s os protestos sociais de outubro de 2019.
Tamb�m ter� que lidar com a crise econ�mica derivada das restri��es sanit�rias de combate � pandemia do coronav�rus.
"Percebi que para Gabriel isso era um apostolado e parei de brigar. Para mim, isso � pisar em pedras o tempo todo; queria uma vida mais confort�vel, mais cl�ssica (para ele)", conta � AFP sua m�e, Maria Soledad Font, de sua terra natal, Punta Arenas, cerca de tr�s mil quil�metros ao sul da capital Santiago.
Ela n�o queria que Boric entrasse na pol�tica, mas a parede de seu antigo quarto j� mostrava um jovem focado nela: "Sejamos realistas, fa�amos o imposs�vel" e "a raz�o faz a for�a" s�o algumas das mensagens que ainda est�o nas paredes do c�modo, no segundo andar da casa de seus pais.
"Somos os herdeiros daqueles que lutaram para fazer do Chile um pa�s mais justo e digno", argumentou em seu discurso de encerramento de campanha, durante o qual prop�s um pa�s voltado para a melhoria dos direitos b�sicos de uma popula��o que sofre com graves desigualdades, ap�s seguir por 31 anos o modelo neoliberal imposto durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Sem medo de mudar
Embora diga que "tem muito a aprender", garante que quer aproveitar a "experi�ncia" de ex-presidentes que criticou quando era l�der estudantil e deputado, entre eles os socialistas Ricardo Lagos (2000-2006 ) e Michelle Bachelet (2006-2010; 2014-2018). Ambos o apoiaram fortemente nas �ltimas semanas.
Boric n�o tem medo de mudar de dire��o. Durante os quase sete meses de campanha, ele foi de um discurso de menino rebelde que liderou os protestos estudantis de 2011 exigindo "educa��o p�blica, gratuita e de qualidade" para o de um social-democrata.
"Diria que sua honestidade e transpar�ncia, sua abertura ao di�logo, s�o duas das maiores virtudes de Gabriel, e isso em um pr�ximo presidente do Chile � crucial", ressaltou seu irm�o Sim�n Boric, um jornalista de 33 anos, em declara��es � AFP.
Sua transforma��o pol�tica anda de m�os dadas com uma mudan�a de apar�ncia.
Pouco resta do jovem barbudo e despenteado que chefiou a Federa��o dos Estudantes da Universidade do Chile (FECH) e que em 2014, aos 27 anos, assumiu seu primeiro mandato como deputado. Hoje ele usa palet� e camisa, cabelo mais curto, barba bem cuidada e �culos.
Garantir direitos
Boric nasceu na cidade austral Punta Arenas em uma fam�lia de classe m�dia de bisav�s croatas e catal�es. Ele � o mais velho de tr�s irm�os e se mudou para Santiago para estudar Direito na Universidade do Chile, mas ainda n�o se formou.
Na campanha eleitoral, pediu que "a esperan�a ven�a o medo" diante das cr�ticas que o classificam como "extremista" por sua alian�a com os comunistas.
Leitor �vido, diz que poesia e hist�ria o relaxam. Solteiro e sem filhos, tem um relacionamento de quase tr�s anos com a cientista pol�tica Irina Karamanos.
Seus detratores o reprovam por sua falta de experi�ncia para liderar um governo e por suas posi��es mais extremas do passado, pelas quais ele se desculpou ou declarou que foram um erro.
"Nossa gera��o irrompeu na pol�tica em 2011, livrando-se um pouco dos medos que a ditadura havia gerado e dos pactos da transi��o", disse ele em entrevista � AFP antes do primeiro turno.
Sua fala se referia � Concertaci�n, coaliz�o de centro-esquerda que, desde 1990, governou boa parte dos 31 anos de democracia, e hoje jaz desintegrada, desprestigiada como reflexo da crise de confian�a institucional, mas que no segundo turno o apoiou.
Boric afirmou que, como presidente, quer "garantir um Estado de bem-estar social para que todos tenham os mesmos direitos, n�o importa quanto dinheiro tenham na carteira".
"Se o Chile foi o ber�o do neoliberalismo na Am�rica Latina, tamb�m ser� o seu t�mulo", declarou ao ser anunciado como candidato.