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Estado de Minas URSS

Como Putin restaurou o status da R�ssia como pot�ncia global ap�s o colapso da URSS, h� 30 anos

Desde que assumiu o poder em 2000, Vladimir Putin n�o escondeu sua determina��o em restaurar status da R�ssia como pot�ncia global depois de testemunhar colapso da Uni�o Sovi�tica.


27/12/2021 10:57 - atualizado 27/12/2021 11:10

Vladimir Putin
Desde que assumiu o poder em 2000, Vladimir Putin n�o escondeu sua determina��o em restaurar status da R�ssia como pot�ncia global depois de testemunhar colapso da Uni�o Sovi�tica (foto: Getty Images)

Trinta anos atr�s, em 25 de dezembro de 1991, Mikhail Gorbachev, o l�der da ent�o Uni�o Sovi�tica (URSS), renunciou ao cargo e entregou seus poderes presidenciais a Boris Yeltsin, o rec�m-nomeado presidente da Federa��o Russa.

Naquela noite, a bandeira vermelha sovi�tica com os s�mbolos do martelo e da foice foi arriada do Kremlin e substitu�da pela bandeira tricolor russa.


No dia seguinte, o Soviete Supremo reconheceu a independ�ncia das rep�blicas sovi�ticas e dissolveu formalmente a Uni�o das Rep�blicas Socialistas Sovi�ticas (URSS).

O s�bito colapso da URSS, um imp�rio gigante que controlou mais de uma dezena de Estados aliados por 70 anos e espalhou sua influ�ncia geopol�tica por meio mundo, foi um evento s�smico que mudou o mundo.

E deixou a rec�m-criada Federa��o Russa atolada em uma crise de identidade.

"A R�ssia nunca foi um Estado-na��o como entendemos esse conceito no Ocidente. A R�ssia foi um imp�rio, mas nunca um Estado-na��o", diz Mira Milosevich, analista para R�ssia e Eur�sia do Real Instituto Elcano da Espanha, � BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC.

"Ent�o, com a desintegra��o da Uni�o Sovi�tica, a R�ssia tentou criar uma identidade nacional russa, mas � um processo muito complexo porque a R�ssia � um pa�s multi�tnico, multinacional, com grandes tradi��es e muito marcado pelo seu passado imperial", acrescenta.

Durante a d�cada de 1990, a R�ssia procurou definir n�o apenas essa identidade nacional, mas tamb�m sua rela��o com o Ocidente.

Mas ap�s a queda da URSS, no per�odo p�s-Guerra Fria, os Estados Unidos e seus aliados ocidentais pararam de tratar a R�ssia como uma "grande pot�ncia", como a URSS havia sido.

E a manifesta��o mais importante dessa degrada��o foi a expans�o da Otan (Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte) no Leste Europeu, regi�o at� ent�o sob influ�ncia de Moscou.

Na opini�o de observadores, o presidente russo, Vladimir Putin, se referia a isso quando disse que o colapso da Uni�o Sovi�tica foi "a maior cat�strofe geopol�tica do s�culo 20".

"Foi a desintegra��o da R�ssia hist�rica sob o nome de Uni�o Sovi�tica", disse Putin.

"N�s nos tornamos um pa�s completamente diferente. E o que havia sido constru�do em mais de 1 mil anos foi em grande parte perdido."


Putin e Yeltsin
Putin se tornou o presidente interino da R�ssia em 1999, ap�s a ren�ncia de Boris Yeltsin (foto: AFP)

Assim, desde que assumiu o poder em 2000, Putin n�o escondeu sua determina��o em restaurar o status da R�ssia como pot�ncia global ap�s anos de suposta humilha��o pelos Estados Unidos e seus aliados da Otan.

E, como Mira Milosevich aponta, Putin teve sucesso em devolver � R�ssia seu papel estrat�gico como pot�ncia mundial.

"Putin se v� como o salvador da R�ssia", diz a analista. "Porque a tentativa da R�ssia de fazer a transi��o democr�tica na d�cada de 1990 falhou; houve um colapso completo e fal�ncia do pa�s."

"Putin salvou a R�ssia e devolveu � R�ssia (seu papel) como ator estrat�gico no cen�rio internacional", acrescenta.

De fato, depois do que foi considerada a "d�cada perdida" dos anos 1990 na R�ssia, Putin fez quest�o de que o pa�s fosse novamente ouvido no cen�rio internacional.

Ascens�o mete�rica

Putin trabalhou como espi�o da KGB (ag�ncia de intelig�ncia sovi�tica) por 16 anos quando, em 1991, decidiu se lan�ar na pol�tica.

Ap�s a ren�ncia de Yeltsin em 1999, Putin tornou-se presidente interino e, menos de quatro meses depois, foi eleito para seu primeiro mandato como presidente da R�ssia.

Ele ostenta o t�tulo de l�der mais longevo no Kremlin desde o l�der sovi�tico Joseph Stalin, falecido em 1953.

Uma pol�mica vota��o nacional sobre as reformas constitucionais em abril deste ano deu-lhe a chance de permanecer no poder al�m de seu atual quarto mandato, que termina em 2024.

Assim, Putin, de 69 anos, poderia permanecer no Kremlin at� 2036.

Os que o criticam afirmam que o presidente adquiriu durante a era sovi�tica os tra�os que moldaram sua vis�o de mundo.

"� claro que a R�ssia voltou � agenda internacional, mas n�o por raz�es positivas", diz � BBC News Mundo Natasha Kuhrt, professora do Departamento de Estudos de Guerra da universidade King's College London, no Reino Unido, e especialista em quest�es de seguran�a e pol�tica externa da R�ssia e da Eur�sia.

"� interessante notar que h� dez anos (no Kremlin) falava-se sobre como a R�ssia precisava se tornar mais atraente. Que precisava usar o chamado 'soft power'".

"Agora, o tom mudou totalmente. Ningu�m (em Moscou) est� interessado em tornar a R�ssia mais atraente. Tudo o que eles querem � tornar a R�ssia um ator, para que a R�ssia consiga um lugar � mesa, para que o mundo reconhe�a a R�ssia."

"Se era isso que Putin queria, acho que ele conseguiu, se pensarmos apenas em c�lculos estrat�gicos", diz a especialista.

Poder global da R�ssia

  • � o maior pa�s do mundo em extens�o com mais de 17 milh�es de km² de territ�rio.
  • � o segundo maior produtor de petr�leo do mundo (depois dos EUA) com 10,27 milh�es de barris por dia.
  • Possui o segundo maior arsenal nuclear do mundo (depois dos EUA), com 6.375 ogivas.
  • Seu gasto com defesa � o quarto maior do mundo, com aumentos sustentados nos �ltimos anos: em 2020 chegou a US$ 66,84 bilh�es.
  • � membro permanente do Conselho de Seguran�a da ONU e com poder de veto.

Fonte: BP World Energy Statistics, SIPRI

Como ressaltam os especialistas, a principal prioridade de Putin ao reverter o decl�nio p�s-URSS era impedir o avan�o de pot�ncias estrangeiras na ex-regi�o sovi�tica.

Em 2008, o Ex�rcito russo invadiu a Ge�rgia para impedir que o presidente pr�-Ocidente Mikheil Saakashvili realizasse uma reconquista militar do territ�rio separatista georgiano da Oss�tia do Sul, um protetorado russo.

Se tivesse conseguido reunificar seu pa�s dividido, Saakashvili poderia ter chegado muito mais perto de seu objetivo declarado de tornar a Ge�rgia um candidato vi�vel para ingressar na Otan.


Exército Russo
Kremlin enviou mais de 114 mil soldados para a fronteira com a Ucr�nia (foto: Minist�rio da Defesa da R�ssia)

Da mesma forma, em 2014 na Ucr�nia, depois que protestos pr�-Ocidente derrubaram o presidente aliado de Moscou, Viktor Yanukovych, a R�ssia interveio militarmente, primeiro para anexar a pen�nsula da Crimeia e depois para apoiar os rebeldes anti-Kiev em Donbass, a regi�o de l�ngua russa no leste da Ucr�nia.

Como Mira Milosevich explica, esses ataques n�o faziam parte do esfor�o de Putin para restabelecer a Uni�o Sovi�tica. Foi, diz ela, um "princ�pio hist�rico da seguran�a nacional russa".

"Esse impulso de conservar as zonas de influ�ncia vem do conceito de seguran�a nacional da R�ssia, de proteger o que considera seu interesse nacional e � muito marcado pela experi�ncia hist�rica de o pa�s ter sido invadido", assinala.

"O que a R�ssia quer s�o espa�os entre a R�ssia e o inimigo potencial. E a R�ssia v� a Otan como a maior amea�a � sua seguran�a nacional e n�o quer ter a Otan em suas pr�prias fronteiras", acrescenta Milosevich.

Poder armado

Ap�s o colapso da Uni�o Sovi�tica, a R�ssia herdou grande parte do arsenal nuclear sovi�tico.

Embora o pa�s tenha reduzido substancialmente suas reservas, ainda � a segunda maior for�a nuclear do mundo.

Em 2018, em seu discurso anual sobre o estado da na��o, Putin se gabou de novas e poderosas armas nucleares.

Diante de centenas de funcion�rios do alto escal�o e legisladores dias antes de uma elei��o que lhe concedeu um novo mandato de seis anos, Putin estabeleceu metas internas ambiciosas e emitiu advert�ncias desafiadoras ao Ocidente, a quem acusou de "tentar reprimir a R�ssia".

Putin disse que a R�ssia testou um novo m�ssil bal�stico intercontinental (ICBM, na sigla em ingl�s), chamado Sarmat, e argumentou que o pa�s foi for�ado a atualizar seu arsenal nuclear depois que os Estados Unidos se retiraram do Tratado sobre M�sseis Antibal�sticos (Tratado ABM) em 2002.

Putin disse que em 2004 advertiu o Ocidente de que tomaria tal atitude, mas que as pot�ncias ocidentais "n�o queriam falar com a R�ssia".

"Ningu�m realmente queria falar conosco naquela �poca. Ningu�m nos ouviu naquela �poca. Portanto, ou�am-nos agora", declarou Putin sob estrondosos aplausos no discurso transmitido ao vivo por todo o pa�s.

Desde ent�o, a R�ssia continuou a modernizar seu arsenal nuclear.

Segundo o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), em 2021, a R�ssia tinha cerca de 50 ogivas nucleares a mais em implanta��o operacional do que no ano anterior.

A R�ssia tamb�m aumentou seu arsenal nuclear militar geral em cerca de 180 ogivas, principalmente devido ao lan�amento de mais ICBMs com v�rias ogivas e m�sseis bal�sticos lan�ados pelo mar.

Assim, hoje o mundo n�o s� ouve a R�ssia, mas tamb�m a teme.

Em sua corrida para restaurar o poder global da R�ssia, Putin tamb�m assumiu a responsabilidade de estreitar la�os em regi�es que j� eram estrat�gicas para a URSS, como a Am�rica Latina.

"Todas as representa��es em n�vel diplom�tico e em institui��es internacionais antes exercidas pela Uni�o Sovi�tica agora s�o exercidas pela R�ssia", diz Milosevich.

"E sem d�vida a R�ssia aproveitou e continuou com as tradicionais rela��es hist�ricas que a Uni�o Sovi�tica teve, por exemplo, na Am�rica Latina".

Como aponta a especialista, a presen�a da R�ssia na Am�rica Latina faz parte de uma estrat�gia internacional mais ampla, cujo principal objetivo � "minar a lideran�a dos Estados Unidos na regi�o" e "competir com a outra grande pot�ncia emergente, a China".

"Putin � um estrategista fant�stico, como ele demonstrou", diz a analista do Real Instituto Elcano da Espanha.

"Conseguiu, por exemplo, colocar a R�ssia no conselho do Oriente M�dio com muito menos poder econ�mico, militar ou pol�tico do que os Estados Unidos."

"Hoje a R�ssia � um ator indispens�vel, o �nico ator estrat�gico no Oriente M�dio que dialoga com todos, desde o Hezbollah ao rei da Ar�bia Saudita", acrescenta Milosevich.

Al�m disso, a R�ssia � um dos cinco membros permanentes do Conselho de Seguran�a da ONU — assento que tamb�m herdou da Uni�o Sovi�tica — o que lhe confere poder de veto.


Putin e Bolsonaro
R�ssia tenta se aproximar da Am�rica Latina (foto: Getty Images)

Fraquezas

Mas os sucessos diplom�ticos, militares e estrat�gicos de Putin n�o conseguiram ocultar as principais fraquezas internas da R�ssia: uma economia excessivamente dependente das receitas de exporta��o de energia (a R�ssia � a 11ª maior economia do mundo em PIB), corrup��o extensa, infraestrutura e provis�o social deficiente e crescente descontentamento pol�tico e social.

Como Natasha Kuhrt aponta, Putin definiu amplamente sua pol�tica externa com sua oposi��o aos Estados Unidos e � Uni�o Europeia, apoiando regimes "at�picos" e vendendo armas a quem pode.

"Como a Uni�o Sovi�tica, que vendeu avi�es e armas para pa�ses africanos com vencimento em cinco anos, isso n�o significa necessariamente ter influ�ncia", diz Kuhrt. "Isso n�o significa que esses pa�ses ser�o seus aliados leais."

"A R�ssia vende muitas armas e isso por si s� n�o o torna influente. Voc� pode construir uma usina nuclear para um pa�s, mas isso n�o significa que ele ser� leal a voc�. Portanto, � preciso ter cuidado quando falamos de influ�ncia global e poder. "

"Porque, em termos de influ�ncia, (a R�ssia) n�o est� fazendo o que a China est� fazendo, por exemplo, na �frica, onde est� colhendo enormes recompensas de longo prazo em termos de investimento."


Vladimir Putin e Xi Jinping
R�ssia perdeu influ�ncia para China (foto: Getty Images)

Mais tens�es

Hoje, as tens�es da R�ssia com o Ocidente est�o em um de seus pontos mais altos.

O Ocidente acusou a R�ssia de destacar dezenas de milhares de soldados para perto da Ucr�nia em prepara��o a um poss�vel ataque.

O G7 (grupo das sete economias mais ricas do mundo, formado por Alemanha, Canad�, Estados Unidos, Fran�a, It�lia, Jap�o e Reino Unido) alertou Moscou sobre "consequ�ncias massivas" se atacar a Ucr�nia.

O Kremlin disse que a R�ssia n�o tem planos de lan�ar um novo ataque � Ucr�nia e que o Ocidente parece ter se convencido das inten��es agressivas de Moscou com base no que chama de "fake news" da m�dia ocidental.

Por enquanto, � improv�vel que os atritos entre a R�ssia e o Ocidente sejam resolvidos t�o cedo.

Putin pode j� ter alcan�ado sua meta de tornar a R�ssia um ator respeitado — e temido — no mundo, mas como assinala Kuhrt, o presidente dificilmente encontrar� um lugar sustent�vel para o pa�s na nova ordem mundial, um lugar onde seja tratado como um parceiro igual.

"Penso que a R�ssia ainda est� tentando se posicionar no mundo. E agora com a ascens�o da China isso n�o ser� t�o f�cil", diz.

"Talvez Putin pense que sabe fazer isso, mas isso n�o significa que ele ser� capaz de faz�-lo", conclui.

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