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Estado de Minas CIDADE SERRANA DESMANCHANDO

Petr�polis, um novo drama da urbaniza��o selvagem no Brasil

Os mais pobres s�o os que pagam pela combina��o de desastres clim�ticos e urbaniza��o descontrolada, afirma meteorologista


17/02/2022 11:06 - atualizado 17/02/2022 11:25

Barranco que desabou em Petrópolis
Barranco que desabou em Petr�polis (foto: CARL DE SOUZA / AFP)


A trag�dia na cidade de Petr�polis, regi�o serrana do Rio de Janeiro, onde mais de 100 pessoas morreram devido a fortes chuvas, voltou a colocar em evid�ncia os riscos da urbaniza��o selvagem, com moradias prec�rias no alto de morros.

A �rea mais afetada foi o bairro Alto da Serra, n�o muito distante do centro hist�rico da cidade que foi resid�ncia de ver�o do imperador Pedro II no s�culo XIX. Localizado no alto de um morro, o bairro � densamente povoado, com casas modestas coladas umas �s outras, ao longo de ruas estreitas e �ngremes.

Todas essas casas foram constru�das na encosta, a maioria sem autoriza��o. Cerca de 80 delas foram engolidas pela terra nesta ter�a-feira.

A avalanche de lama que destruiu grande parte do bairro surpreendeu o mec�nico Michel Mendon�a, 35. Ele n�o sabia que morava em uma �rea de risco. "Fui eu que constru� a casa, h� 10 anos. A gente nunca imaginou que isso pudesse acontecer da forma como foi. A gente sabe que tem encosta l� em cima, mas n�o tem dimens�o do risco", contou � AFP, enquanto varria a espessa camada de lama na frente de casa, que n�o sofreu danos graves.

"Tenho uma oficina l� embaixo, com 40 cm de �gua, mas n�o � nada comparado a todas as pessoas que perderam entes queridos", disse Michel. Ele afirmou que desde que se mudou para o bairro, autoridades nunca alertaram os moradores para o perigo.

"Pobre n�o tem vez, � sempre o �ltimo a saber, s� na hora em que acontece mesmo. Acho nessa quest�o de morro, favela, com certeza as autoridades t�m culpa. A trag�dia � um fen�meno natural, mas as autoridades certamente s�o culpadas", desabafou o mec�nico.

- 'Eu dormia tranquila' -


Regina dos Santos Alval�, diretora substituta do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), acredita que, apesar de avan�os nos �ltimos anos, o pa�s tem muito a fazer para reduzir os riscos associados aos desastres naturais.

"O Brasil avan�ou nestes �ltimos dois anos na quest�o do monitoramento e emiss�o de alertas, mas a gente precisa avan�ar em outros aspectos, adotar a��es que contribuam para minimizar a vulnerabilidade das pessoas e pol�ticas de habita��o, de manuten��o da mata ciliar", que serve de barreira contra os deslizamentos de terra, explicou. "A gente n�o consegue evitar a chuva, mas mitigar os seus impactos � poss�vel e crucial."

O Cemaden calcula que 9,5 milh�es de pessoas vivam em �reas de risco de deslizamento ou inunda��o no Brasil, muitas delas em favelas, sem saneamento b�sico.

"Comprei esta casa pronta, em 1996. Nunca pensei que pudesse acontecer uma coisa dessa. N�o a considerava uma casa em �rea de risco, aqui eu dormia tranquila, mesmo com a chuva", contou a vendedora Sheila Figueira, 59, moradora do Alto da Serra.

O deslizamento passou a poucos metros de sua casa, de dois andares. De sua varanda, ele observa os bombeiros desenterrando corpos. "N�o sei se vou poder ficar, mas gosto daqui, esta casa tem um significado especial para mim. Foi comprada com muita luta", lamentou a vendedora.

- Cada vez mais no alto -


Algo semelhante sente o barbeiro Rafael de Matos, 38, cuja casa fica poucos metros abaixo da de Sheila e tamb�m escapou da trag�dia. "Sou nascido e criado nesta casa, que meu pai construiu na d�cada de 1970. Na �poca, era a �ltima casa do morro, a mais alta, mas hoje � uma das que est�o mais para baixo", contou.

Para Estael Sias, meteorologista da ag�ncia Metsul, os mais pobres s�o os que pagam pela combina��o de desastres clim�ticos e urbaniza��o descontrolada. "As popula��es mais pobres, que acabam precisando morar nessas regi�es de risco, s�o as mais vulner�veis, as que ficam mais expostas a esse tipo de situa��o. Sem falar que vivemos uma crise econ�mica em consequ�ncia da pandemia, e isso acabou se agravando, ent�o o n�mero de pessoas que migraram para �reas de risco certamente aumentou", apontou.

"Al�m de todo esse cen�rio puramente meteorol�gico e associado ao relevo, o fato de essas �reas estarem sendo ocupadas de forma ilegal, irregular, muitas vezes acaba sendo mais um fator de risco", concluiu Estael.


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