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Estado de Minas DESASTRE CLIM�TICO

Chega a 104 o n�mero de mortos na trag�dia em Petr�polis

Mutir�o atua nos resgates, identifica��o de corpos e limpeza das vias. V�rias frentes de trabalho atuam nas buscas por 35 desaparecidos


17/02/2022 06:00 - atualizado 17/02/2022 11:54

Área de desabamento em Petrópolis
�rea de deslizamento de terra em Petr�polis: pelo menos 80 casas foram atingidas na cidade (foto: Florian PLAUCHEUR / AFP )

Petr�polis – Muitas fam�lias, algumas com l�grimas nos olhos, desciam na manh� de ontem do Bairro Alto da Serra levando consigo o pouco que conseguiram salvar de seus pertences ap�s a chuva devastadora que atingiu a cidade hist�rica de Petr�polis, na regi�o serrana do Rio de Janeiro, a partir da tarde de ter�a-feira e provocou mais de 200 deslizamentos de terra. Ao fim do primeiro dos tr�s dias de luto oficial decretados pela prefeitura, o n�mero de mortos chegou a 104. O n�mero de desaparecidos n�o foi divulgado pela equipe do Corpo de Bombeiros, mas um cadastro feito pelo Minist�rio P�blico do Estado do Rio de Janeiro � tarde mostrava que pelo menos 35 pessoas eram procuradas. Pelo menos 25 pessoas foram resgatadas com vida e mais de 370 est�o desabrigadas ou desalojadas.



Na ter�a-feira, a cidade registrou 240 mil�metros de chuva em duas horas. A quantidade � mais do que o esperado para todo o m�s de fevereiro, de 238mm. V�rias ruas da cidade foram alagadas e pontos de acolhimento para pessoas que vivem em locais de risco foram abertos. Com o munic�pio em alerta m�ximo, a administra��o municipal decretou estado de calamidade p�blica, enquanto v�rias frentes de trabalho atuavam nas buscas, reconhecimento de v�timas, desobstru��o de vias e apoio �s fam�lias. Na cidade desde o dia do desastre, o governador Cl�udio Castro comparou o cen�rio a “uma guerra” e pediu ajuda do governo federal. Amanh�, o presidente Jair Bolsonaro, que est� na R�ssia, e parte de sua equipe v�o sobrevoar Petr�polis.

"� uma coisa que ningu�m esperava. Foi desesperador, muito triste", afirmou Elisabeth Louren�o, carregando duas grandes bolsas nas quais colocou o m�ximo de roupa poss�vel, enquanto descia com cuidado uma ladeira no bairro, escorregadia devido � lama trazida pela chuva. Como todos os outros moradores do bairro, essa manicure de 32 anos teve que abandonar sua casa diante do temor de novos deslizamentos. "Na hora da chuva, desceu muito barro e os galhos das �rvores ca�ram em cima da parte de tr�s da minha casa", contou.

A poucos metros dali, a imagem era de caos. Uma enorme parte da encosta ficou coberta de barro misturado com escombros de casas e restos de telhado. Segundo a Prefeitura de Petr�polis e o Corpo de Bombeiros, cerca de 80 casas foram atingidas por quedas de barreiras.

Ver galeria . 21 Fotos Equipes de resgate procuram sobreviventes em meio à lama e escombros de um deslizamento de terra em Petrópolis (RJ). Temporal em 15 de fevereiro arrasou a cidade, deixando mortos e desaparecidosCarl de Souza/AFP
Equipes de resgate procuram sobreviventes em meio � lama e escombros de um deslizamento de terra em Petr�polis (RJ). Temporal em 15 de fevereiro arrasou a cidade, deixando mortos e desaparecidos (foto: Carl de Souza/AFP )


As equipes de resgate removiam ontem a lama e os escombros para tentar encontrar sobreviventes, enquanto os moradores observavam a cena, incr�dulos, se assustando a cada barulho mais alto, como a passagem de helic�pteros. "Eu estava jantando quando come�ou a tempestade. Meu irm�o veio me buscar e me disse: 'Temos que ir, o morro est� descendo'", explicou Jer�nimo Leonardo, de 47, cuja casa, que permaneceu relativamente conservada, fica ao lado da ladeira soterrada pelo deslizamento de terra.

Todos os moradores de Alto da Serra, um bairro popular erguido na encosta de um morro a poucos minutos do centro hist�rico da cidade, foram obrigados a deixar suas casas. O destino deles: a Igreja de Santo Ant�nio, a 10  minutos de caminhada dali, no alto de outro morro.



"�gua na cintura"


Da pra�a desta pequena igreja colonial com fachada azul-celeste � poss�vel ver a dimens�o da destrui��o causada pela avalanche de terra, em meio � neblina e � possibilidade de novas chuvas, que manteve a cidade em alerta ontem. A igreja recebeu dezenas de fam�lias desabrigadas, carregando bolsas e malas, e muitos volunt�rios que levaram doa��es.

"Foi logo depois da trag�dia, da queda da barreira, (...) que as pessoas come�aram a chegar aqui". "Creio que chegaram quase umas 150, 200 pessoas, fam�lias com crian�as", explicou o padre Celestino, respons�vel pela par�quia. Atr�s da igreja, foram colocados colch�es no ch�o da sala principal da par�quia para atender aos desalojados.

"N�o dormi nada durante toda a noite", explicou Yasmin Kennia Narciso, uma assistente escolar de 26, enquanto amamentava Luana, sua beb� de 9 meses, sentada em um colch�o. A jovem, que vive com outra filha, de 6, e seus av�s, n�o p�de sair de sua casa antes das 23h. "Tentamos sair antes, mas tinha muita pedra no meio do caminho e estava tudo inundado. A �gua estava na cintura e tivemos que esperar o n�vel baixar", contou a jovem. "N�o tenho not�cias de v�rios vizinhos, uma senhora mais velha e seus tr�s filhos pequenos que moravam alguns metros mais acima ficaram soterrados pelo barro."

Nas instala��es da igreja, Yasmin s� conseguiu trocar as fraldas de sua filha com as doa��es que chegaram de madrugada. Na pra�a do templo religioso, diversos volunt�rios descarregavam garrafas de �gua de uma caminhonete, enquanto outros separavam as roupas. "Voc� pode me dar um t�nis?", preguntou um menino, descal�o e com as roupas sujas de lama. As v�timas agora ficar�o em compasso de espera para saber se algum dia poder�o retornar para suas casas, caso elas ainda estejam de p�.


Aux�lio


O governador do Rio de Janeiro, Cl�udio Castro, informou ontem que o custo do primeiro aux�lio aos moradores de Petr�polis prejudicados pelo temporal ser� bancado pelo governo do estado. Ele disse, no entanto, que est� em entendimentos com o governo federal para um aporte de recursos para a reconstru��o da cidade.

Em entrevista concedida a jornalistas brasileiros em Moscou, Bolsonaro anunciou que sobrevoar� Petr�polis amanh�, ap�s regressar de viagem. O presidente disse que conversou com os ministros da Economia, Paulo Guedes, e do Desenvolvimento Regional, Rog�rio Marinho, para tratar de um cr�dito especial para atender as v�timas. “Como � praxe nessas quest�es, h� libera��o do fundo de garantia (FGTS) e recursos para a reconstru��o de obras emergenciais para restabelecer a transitabilidade na regi�o", detalhou.

Base de apoio


A Prefeitura de Petr�polis montou uma base no gin�sio da Universidade Cat�lica de Petr�polis (UCP), no Bairro do Bingen, para reunir os equipamentos e caminh�es que est�o sendo utilizados nas opera��es na cidade. O prefeito Rubens Bomtempo disse que a inten��o � buscar mais agilidade para devolver a normalidade � cidade. Mais de 400 militares do Corpo de Bombeiros  atuavam ontem em 44 pontos atingidos.

“A cidade perdeu a sua capacidade de mobilidade urbana. Ent�o, a gente precisa muito, nesse momento, que as pessoas saiam de casa somente se for necess�rio, para a gente poder atuar o mais rapidamente poss�vel. Ser�o dias dif�ceis que a gente vai ter que enfrentar, e a gente vai ter que fazer esse enfrentamento junto”, apelou o prefeito em um v�deo publicado no seu perfil no Facebook.

'For�a-tarefa' da solidariedade


�rg�os p�blicos e associa��es de diversos setores anunciaram medidas para reunir doa��es e ajudar no atendimento �s v�timas da chuva torrencial que atingiu Petr�polis. O Tribunal de Justi�a do Estado do Rio de Janeiro organizou um mutir�o com os ju�zes para agilizar e ordenar os documentos necess�rios para a identifica��o e libera��o de corpos no Instituto M�dico-Legal (IML). Por causa dos danos causados � infraestrutura da cidade, os f�runs n�o funcionaram ontem, e os prazos processuais foram suspensos.

Resgate de vítimas
Resgate de v�timas: com o grande n�mero de mortos, o IML montou postos para agilizar identifica��o (foto: Carl de Souza/AFP)


A Defensoria P�blica do Estado do Rio de Janeiro enviou uma unidade m�vel com defensores e servidores para o IML com o objetivo de acompanhar o trabalho de identifica��o dos corpos. Al�m disso, foram montados postos de atendimento no Centro de Petr�polis e no distrito de Itaipava.

A sede da Defensoria P�blica, no Centro do Rio de Janeiro, est� recebendo doa��es de itens de higiene pessoal, limpeza, alimentos e roupas infantis e para adultos, al�m de �gua pot�vel, m�scaras e �lcool em gel. O endere�o � Avenida Marechal C�mara, nº 314, portaria.

Prefeituras de outros munic�pios tamb�m organizaram pontos de coleta de doa��es para envio �s v�timas das chuvas em Petr�polis. 

Na capital, doa��es podem ser entregues nas 10 Coordenadorias  de Assist�ncia Social (CAS), das 8h �s 17h. O endere�o de cada um dos pontos de coleta do munic�pio do Rio pode ser consultado na p�gina da Secretaria Municipal de Assist�ncia Social. Em Cabo Frio e Teres�polis, tamb�m foram organizados pontos de coleta de doa��es em diferentes bairros. A Associa��o de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj) informou que tamb�m est� mobilizando seus associados para a doa��o de alimentos e itens de higiene para os sobreviventes da trag�dia.

Al�m da doa��o de itens b�sicos, h� mobiliza��o tamb�m para assist�ncia psicol�gica aos moradores da cidade. O Sesc RJ disponibilizou o n�mero telef�nico (21) 3138-1189 para que familiares e amigos de v�timas, pessoas feridas e outros atingidos busquem atendimento psicol�gico. Ao entrar em contato, os interessados passam por uma triagem e podem agendar um hor�rio para atendimento.

O Sesc tamb�m est� recebendo doa��es nas duas unidades em Petr�polis (Sesc Nogueira e Sesc Quitandinha), e outras seis unidades do estado: Niter�i, Teres�polis, Nova Friburgo, S�o Jo�o de Meriti e no bairro da Tijuca, na capital.

Frente fria e instabilidade provocaram a tempestade


A passagem de uma frente fria pelo oceano, em conjunto com as instabilidades geradas pelo aquecimento diurno, mais a disponibilidade de umidade foram as causas da chuva muito forte no primeiro distrito do munic�pio de Petr�polis entre a tarde e a noite de ter�a-feira, explicou ontem a Defesa Civil municipal. No Alto da Serra, foram registrados 125,8mm por hora e o acumulado pluviom�trico atingiu 259,8mm em quatro horas, em S�o Sebasti�o. “Durante a madrugada e manh� de quarta-feira n�o houve registro de chuva significativa na cidade”, informou o �rg�o em nota.



De acordo com a Secretaria de Defesa Civil de Petr�polis, foram registradas 258 ocorr�ncias, sendo 213 por deslizamentos e 45 entre desabamentos, quedas de muros e �rvores. Conforme a Defesa Civil, at� o in�cio da tarde havia 372 pessoas acolhidas em 33 pontos de apoio instalados em escolas da rede p�blica. As aulas foram suspensas ontem.

As localidades onde ocorreram registros de maior gravidade, segundo a Secretaria de Defesa Civil de Petr�polis, s�o 24 de Maio, Morro da Oficina, Caxambu, Sargento Boening, Moinho Preto, Rua Uruguai, Rua Washington Luiz, Coronel Veiga, Vila Militar, Vila Felipe, Avenida Portugal e Rua Honorato Pereira.



Segundo o especialista em drenagem urbana e professor da Escola Polit�cnica da  Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Matheus Martins, a chuva que provocou a trag�dia teve volume semelhante ao registrado nos eventos de 2011 na regi�o serrana. “O pico da chuva que atingiu Petr�polis na tarde de ter�a-feira no posto do Alto da Serra, teve um intensidade m�xima de 199,2mm/h. Foram quatro horas de chuva. Em Nova Friburgo Friburgo, em 2011, choveu 281,6mm em oito horas, no Posto Ypu. A intensidade m�xima registrada foi de 88mm/h no posto Olaria. Na chuva de Petr�polis de ter�a-feira, o pico foi de 200 mil�metros por hora, enquanto em 2011 o pico m�ximo foi de 90 mil�metros”, explicou, em entrevista � CNN Brasil.

Ele destaca que Petr�polis est� localizada em uma regi�o bastante �mida, onde chove acima da m�dia de outros pontos do Rio de Janeiro, e que a forma��o da cidade tamb�m influencia nesses eventos. “A topografia � bem prop�cia a esse tipo de evento. Uma inunda��o r�pida com alta velocidade. O que chamamos de enxurrada”.

Devasta��o em n�meros


  • 104 corpos foram resgatados at� a �ltima contagem de ontem
  • 35 pessoas foram cadastradas como desaparecidas pelo Minist�rio P�blico do Rio
  • 258 ocorr�ncias foram registradas em 24 horas
  • 213 deslizamentos foram registrados pela Defesa Civil
  • 45 desabamentos ocorreram na cidade devido ao temporal

Outras trag�dias

Pelo menos outros tr�s desastres clim�ticos atingiram diferentes regi�es do Rio de Janeiro desde 2009, provocando a morte de mais de mil pessoas. O maior deles, em n�mero de v�timas, ocorreu em 2011, tamb�m na regi�o serrana, atingindo Nova Friburgo e mais quatro cidades, entre elas Petr�polis. Confira abaixo.

REGI�O SERRANA
Desastre clim�tico de grandes propor��es atingiu a regi�o serrana do Rio de Janeiro em 11 de janeiro de 2011, matando 918 mortos e deixando 100 desaparecidos. Aproximadamente 35 mil pessoas perderam suas casas ou tiveram que sair devido ao risco de desabamento. O munic�pio mais atingido foi Nova Friburgo, com 451 mortes. Teres�polis, Petr�polis, Sumidouro e S�o Jos� do Vale do Rio Preto tamb�m foram afetados. Al�m de deslizamentos, rios tamb�m transbordaram. Casas, com�rcios, pontes e ruas ficaram destru�das.

NITER�I
Em 7 de abril de 2010, 48 pessoas morreram em um deslizamento de terra no morro do Bumba, favela localizada em Niter�i. A trag�dia deixou mais de 200 pessoas desaparecidas. Cerca de 3 mil pessoas foram atingidas pelo desastre. Pelo menos 300 bombeiros participaram do trabalho de resgate. As casas foram constru�das em cima de um antigo lix�o desativado em 1982. Cerca de 200 im�veis foram constru�dos no local. O risco de deslizamentos na regi�o j� havia sido sinalizado por pesquisadores desde 2004.

ILHA GRANDE
Em 31 de dezembro de 2009, 53 pessoas morreram depois que fortes chuvas atingiram a cidade de Angra dos Reis, na regi�o do estado conhecida como costa verde. Na Enseada do Bananal, que fica na Ilha Grande, uma pousada foi soterrada. A maior parte dos deslizamentos aconteceu durante a madrugada.


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