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Estado de Minas MEDO

'M�e, eles v�o atirar em mim?: como ucranianos explicam aos filhos que est�o em guerra

"As perguntas s�o de partir o cora��o, porque eles me perguntam todos os dias se (o pai deles) est� vivo, ou se ele ainda tem as m�os e as pernas. Eles t�m medo de que ele possa se machucar muito", diz uma m�e.


08/03/2022 12:53 - atualizado 08/03/2022 17:45

Uma criança em um balanço em frente a um prédio destruído por bombas
Muitas crian�as foram afetadas pelos bombardeios em Kiev (foto: Getty Images)
Na Ucr�nia, as fam�lias est�o tendo que se adaptar a uma nova e assustadora realidade: como dizer �s crian�as que o pa�s est� em guerra? Anton Eine, um escritor de fic��o cient�fica ucraniano, deveria lan�ar seu mais recente livro h� cerca de dez dias, mas foi impedido pela invas�o russa. No entanto, ele diz que agora nada mais importa.

 

 

 

O autor, que vive com sua esposa e seu filho de tr�s anos em Kiev, passou os �ltimos dias escondido no estacionamento do subsolo de seu pr�dio. Faz frio e Anton se preocupa com o que pode acontecer se o edif�cio desabar em um bombardeio, por isso ele e sua fam�lia se escondem em uma fresta criada por duas paredes de concreto.

 

O local se tornou um esconderijo para os tr�s todas as vezes em que as sirenes que alertam para ataques a�reos s�o acionadas na capital ucraniana. Para distrair o filho dos momentos de tens�o, eles geralmente levam brinquedos e um tablet para o esconderijo.

 

Anton conta que o filho est� preocupado e faz muitas perguntas. "Ontem, minha esposa desceu e, quando ela voltou, ele perguntou: 'M�e, eles atiraram em voc�?' e ela disse 'N�o, querido', e ele disse: 'Eles v�o atirar em mim? Eu n�o quero que eles fa�am bang-bang'."

 

Segundo o escritor, algumas fam�lias costuraram pequenos crach�s com o tipo sangu�neo de seus filhos em suas roupas e os est�o ensinando seu endere�o e os nomes dos pais, caso sejam separados. E enquanto se escondem em abrigos ou tentam embarcar em trens para fugir do pa�s, muitos pais tamb�m conversam uns com os outros sobre os efeitos da guerra e as melhores formas de proteger as crian�as de traumas.

 

"Alguns pais preferem dizer �s crian�as que � um jogo", diz Anton. "Mas estamos tentando falar a verdade para nosso filho, de uma maneira mais suave, adaptada � mente de uma crian�a de tr�s anos".

 

"N�s dizemos a ele que os soldados maus nos atacaram e os bons soldados, aqueles com a bandeira ucraniana, s�o os que nos protegem. Dizemos tamb�m que ele n�o precisa se preocupar com nada quando estamos no esconderijo."


Desenho de criança mostra pessoas fugindo de um grande diabo vermelho por terra e mar
Uma amiga de Anton compartilhou o desenho feito por seu filho de quatro anos depois uma noite em um abrigo antia�reo: a imagem mostra pessoas fugindo de um grande diabo vermelho (foto: BBC)

Os desenhos de seu pr�prio filho n�o parecem mostrar nenhum sinal de trauma, mas alguns dos amigos de Anton t�m filhos mais velhos, e as imagens que desenham mostram claramente que foram afetados pela situa��o.

 

Os pais e funcion�rios da creche de seu filho mant�m contato pelo aplicativo de mensagens Telegram, onde compartilham conselhos sobre como conversar com as crian�as sobre o que est� acontecendo.

 

Entre os conte�dos postados h� at� um tutorial sobre como explicar �s crian�as por que n�o h� problema de os adultos xingarem e usarem palavr�es atualmente, apesar de n�o ser aceit�vel na vida normal. "Porque as pessoas est�o xingando agora", diz Anton.

 

Ele e a mulher se tornaram mais relaxados sobre outras pequenas coisas tamb�m. "Por causa dessa situa��o, ele tem que assistir muito mais desenhos animados do que o normal e est� comendo muito mais doces do que o normal. Precisamos de algo para ocup�-lo - ele n�o deve prestar muita aten��o ao que est� acontecendo", diz.

 

"Os psic�logos nos aconselham a ser mais gentis com as crian�as nestes tempos e a dar muito mais carinho do que o habitual", diz Anton.

 

� medida que os bombardeios russos pioraram e os comboios se aproximaram, muitos pais ucranianos decidiram fugir de suas casas com seus filhos pequenos a tiracolo.

 

Hanna, uma cientista, deixou Kiev e viajou para a Pol�nia com seus dois filhos, de oito e seis anos. Por dias eles ficaram em casa ouvindo explos�es e vendo as janelas tremendo, e ela teve que dizer a eles o que estava acontecendo. Ela achou dif�cil encontrar um equil�brio entre a realidade e o quanto a mente de uma crian�a pode suportar.

 

"Foi um desafio para mim como m�e, porque tive que explicar a verdade ao mesmo tempo em que tentei n�o assustar muito", diz ela. "Ent�o eu apenas disse que estamos sob ataque e que a qualquer momento poder�amos ter que sair de casa".

 

O estilo parental de Hanna tamb�m teve que mudar - n�o havia espa�o para discuss�o. "Normalmente eu pe�o para eles fazerem alguma coisa, mas agora � hora de receber ordens."

 

Ap�s alguns dias de ataques, Hanna sentiu que n�o queria mais que seus filhos ouvissem as bombas e decidiu deixar a Ucr�nia. "Foi uma decis�o muito, muito dif�cil", diz ela.

 

Seus filhos tamb�m tiveram que tomar uma decis�o dura - eles s� podiam levar um de seus brinquedos. O mais velho escolheu Banguela, um boneco de drag�o da s�rie de filmes Como Treinar o Seu Drag�o, e o mais novo escolheu um carro de brinquedo que se transforma em rob�.


Evacuees and a child, sitting on top of a suitcase, wait for a train to Romania, at the Lviv train station, western Ukraine, on March 5, 2022.
Evacuees and a child, sitting on top of a suitcase, wait for a train to Romania from Lviv (foto: Getty Images)

Foi uma grande decis�o para eles, diz Hanna - talvez t�o importante quanto foi para ela deixar seu pa�s. "Acho que est�vamos na mesma posi��o emocional de tomada de decis�o."

 

Eles levaram 52 horas para chegar em seguran�a � Pol�nia. O ex-marido de Hanna os acompanhou durante a primeira parte da viagem de carro, mas teve que voltar para se juntar ao Ex�rcito.

 

Hanna afirma que viajar em uma zona de guerra com dois filhos foi exaustivo, o que a ajudou a entender por que muitos de seus amigos optaram por permanecer perto de casa.

 

Agora eles est�o seguros, mas as crian�as fazem muitos questionamentos sobre seus av�s e principalmente sobre seu pai, que ficou para tr�s. "As perguntas s�o de partir o cora��o, porque eles me perguntam todos os dias se ele est� vivo, ou se ele ainda tem as m�os e as pernas. Eles t�m medo de que ele possa se machucar muito."

 

Hanna diz a eles para tentarem pensar apenas no presente. "Tudo o que temos � agora. No momento, estamos seguros", diz ela �s crian�as.

 

A d�vida sobre o quanto contar �s crian�as sobre a guerra � compartilhada por todos os pais ucranianos neste momento.

 

Oksana fugiu de sua cidade natal de Lviv, no oeste do pa�s, e agora tamb�m est� na Pol�nia. Sua filha de seis anos � autista e odeia barulhos altos, ent�o ela achou as sirenes de ataque a�reo muito assustadoras. A menina percebeu que a m�e tamb�m estava nervosa, ent�o Oksana contou a verdade sobre o que estava acontecendo.

 

"Eu expliquei que � uma guerra e precisamos nos proteger, e que muitas pessoas morreram por causa de tudo isso", diz Oksana. "Acho importante que, quando as crian�as t�m idade suficiente para entender, n�o sejam enganadas, porque elas podem sentir que a atmosfera est� ruim."

 

O filho de Iryna tem apenas dois anos e ela decidiu n�o contar muito a ele. Depois de passar tr�s noites em um abrigo antibombas, eles deixaram Irpin, uma pequena cidade perto de Kiev, e foram para o oeste da Ucr�nia.

 

Ela contou ao filho apenas que eles iriam se hospedar na casa de amigos, porque ele ainda � muito novo para entender o perigo. "Eu n�o disse a ele que � uma guerra. N�o tenho certeza se preciso nessa idade, porque pode piorar a situa��o."

 

Quanto ao destino de Anton e sua fam�lia, as tropas russas est�o se aproximando de Kiev e eles podem ser obrigados a deixar a capital em breve. Mas ele n�o tem certeza para onde ir. "Ningu�m sabe qual � o lugar mais seguro - � tudo uma grande aposta", diz ele.

 

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