
Um avi�o privado encontrado com mais de 5 milh�es de d�lares (aproximadamente R$ 25 milh�es) em dinheiro, al�m de ouro falso, armas e muni��es est� no centro de uma misteriosa investiga��o na capital da Z�mbia, Lusaka.
Sabe-se que o avi�o partiu do Cairo, capital do Egito, e que aterrisou h� duas semanas na Z�mbia. At� agora, no entanto, ningu�m — nem Egito, nem na Z�mbia — admitiu ter fretado o avi�o ou ser propriet�rio de sua carga.
Com tantas perguntas sem resposta, rumores n�o demoraram a surgir.
Poderiam os envolvidos ser figuras pol�ticas ou militares de alto n�vel do Egito ou da Z�mbia? Teria este sido um voo �nico ou o primeiro de centenas que finalmente foi interceptado?
Cinco eg�pcios que estavam a bordo do avi�o e seis zambianos compareceram na segunda-feira (28/8) a um tribunal em Lusaka.
Tanto os eg�pcios como os zambianos foram acusados de contrabando e corrup��o. Os zambianos tamb�m enfrentam acusa��es de espionagem. Entre os zambianos que compareceram ao tribunal, estava um funcion�rio da State House, a resid�ncia oficial e gabinete do presidente.
A hist�ria poderia ter passado em branco, n�o fosse o trabalho de um jornalista cujo site de verifica��o de fatos, Matsda2sh, acusou autoridades no Egito de envolvimento no incidente.
Jornalista desaparecido
Pouco depois da publica��o, for�as de seguran�a eg�pcias � paisana invadiram a casa de Karim Asaad, no Cairo, na calada da noite e o prenderam.Inicialmente, ele simplesmente havia desaparecido. Ningu�m sabia para onde ou por que raz�o Asaad tinha sido levado.
Mais tarde, jornalistas eg�pcios independentes publicaram documentos em redes sociais, supostamente retirados da investiga��o policial da Z�mbia sobre o avi�o carregado de dinheiro.
Os documentos mostram a suposta nomea��o entre os detidos de tr�s militares eg�pcios e um oficial superior da pol�cia, corroborando as alega��es de Asaad.
Ap�s uma enxurrada de protestos aparecer nas redes sociais, muitos vindo de outros jornalistas, Asaad foi libertado dois dias depois. O motivo exato pelo qual ele foi preso permanece outro mist�rio.
Autoridades eg�pcias disseram apenas que o avi�o mencionado no website de Asaad era privado e estava passando pelo Cairo. Em outras palavras, o pa�s e suas autoridades nada tinham a ver com o caso, segundo essa explica��o.
Pouco depois, os holofotes se voltaram para a Z�mbia, depois que o avi�o pousou no aeroporto Kenneth Kaunda, em Lusaka.

Segundo informa��es locais, um homem zambiano carregando sacos com o que parecia ser ouro teria sido autorizado a passar pela seguran�a e encontrar os eg�pcios rec�m-chegados no avi�o.
Ningu�m parece saber quem o autorizou, mas, de acordo com relatos dos meios de comunica��o zambianos, alguns pagamentos em dinheiro teriam ajudado a facilitar o seu caminho.
Depois de entrar a bordo, o homem supostamente vendeu uma parte do suposto ouro que carregava para os homens no avi�o. Eles ent�o teriam pedido mais.
N�o est� claro se eles conseguiram descobrir que o suposto ouro que ele estava vendendo era, na verdade, falsificado antes que a equipe de seguran�a chegasse para revistar a aeronave.
A pris�o, ao que parece, foi turbulenta.
V�rios dos agentes que entraram no avi�o est�o agora sendo investigados por supostamente terem recebido, cada um, at� 200 mil d�lares (quase R$ 1 milh�o) dos cidad�os eg�pcios a bordo do avi�o.
Alega-se que esta teria sido a recompensa para permitirem que o avi�o decolasse sem que ningu�m fosse preso.
Quando vazou a informa��o de que o dinheiro do avi�o estava supostamente mudando de m�os, outro grupo de seguran�as invadiu a aeronave e prendeu todos os que estavam l� dentro.
'Ouro'
Os suspeitos tiveram dificuldade para explicar o que faziam com milh�es de d�lares em dinheiro, v�rias pistolas, 126 cartuchos de muni��es e o que parecia ser mais de 100 kg de barras de ouro.
As barras de ouro eram particularmente intrigantes.
Descobriu-se que, assim como o ouro, elas eram feitas de uma mistura de cobre, n�quel, estanho e zinco.
Mas nem tudo que reluz � ouro e, ao que parece, os eg�pcios a bordo do avi�o podem ter sido salvos de um p�ssimo neg�cio.
Makebi Zulu, advogado zambiano que representa um dos 10 homens detidos, disse � BBC que inicialmente a pol�cia disse ter encontrado US$ 11 milh�es (R$ 55 mi) em dinheiro.
Esse valor, segundo ele, foi posteriormente reduzido para cerca de US$ 7 milh�es (R$ 35 mi), at� finalmente cair para US$ 5,7 milh�es (R$ 28,5 mi).
Segundo uma das poss�veis explica��es, quase metade do dinheiro j� havia sido retirado do avi�o antes da chegada das for�as de seguran�a. Se for verdade, isso significaria que os envolvidos circularam pelo aeroporto com mais de US$ 5 milh�es (R$ 20 mi) – algo dif�cil de se fazer discretamente.
Zulu tamb�m se disse perplexo com o tratamento desigual dispensado aos presos desde sua deten��o.
Delator
Ele diz que enquanto seu cliente zambiano e outros tr�s estrangeiros foram levados para uma pris�o para aguardar o julgamento, os seis eg�pcios foram alojados numa hospedagem.
J� o homem que supostamente carregou os sacos de ouro falso at� o avi�o se teria se tornado delator e estaria ajudando a pol�cia da Z�mbia a descobrir tudo isso.
Nos �ltimos dias, v�rios outros cidad�os zambianos foram detidos em uma f�brica improvisada de processamento de ouro falso e mais deten��es s�o esperadas.
� medida que o interesse pelo caso em todo o mundo cresce, cresce tamb�m a especula��o.
Um think tank chamado Egypt Technocrats, composto por profissionais eg�pcios independentes que vivem em diferentes pa�ses, aponta que existiriam mais de 300 empresas secretas dentro do Egito envolvidas em opera��es de lavagem de dinheiro.
Alguns dizem que grandes quantias em dinheiro teriam sido contrabandeadas para fora do pa�s desde que o presidente Abdel Fattah al-Sisi chegou ao poder, h� nove anos.
Se for verdade, seria este voo apenas um entre centenas que fizeram viagens semelhantes?
A teoria em alguns c�rculos � de que altos funcion�rios militares e empres�rios no Egito, com medo de que o regime do presidente Sisi possa entrar em colapso, t�m tentado desesperadamente tirar seu dinheiro do pa�s.
Como em todos os pontos relacionados a este caso misterioso, no entanto, ningu�m pode ter certeza do quanto disso tudo � verdade.
Espera-se que, quando o julgamento finalmente ocorrer, muitas das quest�es levantadas sejam respondidas.
O perigo, no entanto, � que isso possa ser s� o ponto de partida para ainda mais perguntas.
