
Israel come�ou a evacuar vilarejos na fronteira com o L�bano em meio a temores de uma escalada de viol�ncia na �rea.
A principal preocupa��o � com a possibilidade de um confronto armado com o Hezbollah, grupo isl�mico liban�s que, assim como o palestino Hamas, prega a destrui��o do Estado judeu.
O Hezbollah convocou uma "um dia de f�ria sem precedentes" contra Israel na quarta-feira (18/10), ap�s acusar o pa�s de estar por tr�s de uma explos�o em um hospital em Gaza que matou centenas de pessoas na noite do dia anterior.
Israel, por sua vez, afirma que foi a Jihad Isl�mica Palestina que lan�ou este ataque, considerado o mais mortal at� agora no conflito com o Hamas, que controla a Faixa de Gaza.
Poucas horas depois do incidente, eclodiram protestos em frente � embaixada dos Estados Unidos em Beirute, capital do L�bano, e em outras cidades do mundo �rabe.
Desde o ataque do Hamas, que matou pelo menos 1,4 mil pessoas em Israel — e a contra-ofensiva israelense que matou mais de 4 mil pessoas em Gaza, segundo oficiais palestinos — tem havido v�rias trocas de tiros na fronteira libanesa-israelense.
Tr�s soldados israelenses morreram na semana passada em um confronto com militantes do Hezbollah que haviam atravessado o pa�s vindos do L�bano.
O Ex�rcito israelense respondeu atacando combatentes do grupo em territ�rio liban�s, matando tr�s.
Desde a sua cria��o, o Hezbollah tem sido acusado de realizar uma s�rie de ataques contra alvos judeus e israelenses.
O grupo � designado como organiza��o terrorista pelos Estados Unidos, Israel e outros pa�ses da Liga �rabe.
Da mesma forma, o seu bra�o militar aparece na lista de organiza��es terroristas da Uni�o Europeia (UE).

"O Hezbollah � atualmente a for�a militar n�o-estatal mais poderosa do mundo", diz Firas Maksad, especialista em pol�tica libanesa e geopol�tica do Oriente M�dio do think tank Middle East Institute (MEI), com sede em Washington, � BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC.
� medida que o conflito entre o Hamas e Israel se intensifica e as tropas israelenses se preparam para uma poss�vel invas�o terrestre na Faixa de Gaza, muitos temem agora que o Hezbollah se envolva plenamente no conflito e retome a sua luta contra o que considera ser um dos seus principais inimigos.
Origem
O Hezbollah — cujo nome significa "partido de Deus" — � um partido pol�tico isl�mico xiita e um grupo paramilitar apoiado pelo Ir� que exerce grande poder no L�bano.
Desde 1992, � liderado por Hassan Nasrallah e tornou-se agora a for�a militar mais poderosa da na��o �rabe.
O grupo tamb�m ganhou gradualmente influ�ncia no sistema pol�tico do L�bano e tem poder de veto no Executivo do pa�s.
O Hezbollah � considerado por alguns libaneses como uma amea�a � estabilidade do pa�s, mas continua popular entre a comunidade xiita libanesa que representa.
Apesar de o Hezbollah defender uma corrente do Isl� diferente da do Hamas, sendo o primeiro xiita e o segundo, sunita, os dois grupos convergem quanto ao desejo de destruir Israel.
No entanto, lutaram em campos opostos na guerra civil s�ria.
O Hezbollah apoia Bashar al Assad, enquanto o Hamas quer derrub�-lo.
As origens precisas do Hezbollah s�o dif�ceis de rastrear, mas os seus precursores surgiram depois de Israel ter invadido uma parte do sul do L�bano em 1982, em resposta a uma s�rie de ataques de militantes palestinos contra Israel, nomeadamente a tentativa de assassinato do embaixador israelense no Reino Unido.
Ariel Sharon, que era ent�o Ministro da Defesa de Israel, visou expurgar a Organiza��o para a Liberta��o da Palestina (OLP) do sul do L�bano e impedir as incurs�es do grupo atrav�s da sua fronteira.
Alguns l�deres xiitas no L�bano queriam uma resposta militante � invas�o e romperam com o Movimento Amal, um grupo pol�tico que se tornou uma das mais importantes mil�cias mu�ulmanas xiitas durante a Guerra Civil Libanesa (1975-1990).
Os rebeldes formaram um movimento militar xiita que recebeu apoio militar e organizacional da Guarda Revolucion�ria do Ir� (divis�o das for�as armadas do Ir�, fundada depois da Revolu��o Iraniana) e foi denominado Amal Isl�mico.
Pouco depois, essa organiza��o aliou-se a outros grupos e criou o Hezbollah.
Objetivos
O Hezbollah anunciou oficialmente a sua cria��o em 1985, publicando uma "carta aberta" que identificava os Estados Unidos e a antiga Uni�o Sovi�tica (URSS) como os principais inimigos do Isl�.
No pol�mico manifesto, o Hezbollah tamb�m levantou a destrui��o de Israel como um objetivo fundamental.
"� o inimigo odiado que temos de combater at� que os odiados consigam o que merecem", diz o texto.
"Este inimigo � o maior perigo para as nossas gera��es futuras e para o destino das nossas terras, especialmente porque glorifica as ideias de coloniza��o e expans�o, iniciadas na Palestina."

O governo dos EUA culpa o grupo por orquestrar os atentados � embaixada dos EUA e ao quartel da Marinha americana em Beirute, em 1983, que juntos deixaram 258 americanos e 58 militares franceses mortos e levaram � retirada das for�as de manuten��o da paz ocidentais.
Ap�s o Ex�rcito s�rio ter imposto a paz no L�bano em 1990, pondo fim � guerra civil, o Hezbollah continuou a sua guerra de guerrilha no sul do pa�s.
Mas, gradualmente, tamb�m come�ou a desempenhar um papel ativo na pol�tica libanesa.
Em 1992, participou pela primeira vez nas elei��es nacionais, obtendo mais assentos do que qualquer outro partido.
A organiza��o emitiu um novo manifesto pol�tico em 2009, ap�s conquistar 10 assentos no Parlamento, para destacar a "vis�o pol�tica" do grupo.
O Hezbollah retirou do manifesto de 1985 a refer�ncia � necessidade de cria��o de uma rep�blica isl�mica, mas manteve sua linha dura contra Israel e os Estados Unidos e insistiu que precisava manter suas armas.
Pela sua influ�ncia pol�tica, militar e de seguran�a e tamb�m pelos servi�os sociais que presta, no L�bano, o grupo � considerado um estado dentro do estado, ou seja, uma mil�cia, rivalizando com as institui��es governamentais, o que gera cr�ticas no pa�s.
As suas capacidades excedem at� as do Ex�rcito liban�s.
O espectro da guerra de 2006
A viol�ncia em Gaza alimentou tens�es entre Israel e o Hezbollah, que expressou solidariedade com o povo palestino.
O grupo militante liban�s entrou em confronto pela �ltima vez com Israel em 2006.
Naquele ano, militantes do Hezbollah lan�aram um ataque transfronteiri�o no qual oito soldados israelenses foram mortos e outros dois raptados.
O Hezbollah exigiu a liberta��o dos prisioneiros libaneses em troca de soldados israelenses.
Mas a resposta de Israel ao ataque foi r�pida e firme.
Avi�es de guerra israelenses bombardearam redutos do Hezbollah no sul do L�bano e nos sub�rbios ao sul de Beirute, enquanto o Hezbollah disparou cerca de 4 mil foguetes contra Israel.
Mais de 1.125 libaneses, a maioria deles civis, morreram durante os 34 dias de conflito, bem como 119 soldados israelenses e 45 civis.
Desde ent�o, o Hezbollah aprimorou e expandiu o seu arsenal, recrutando dezenas de novos combatentes.

Capacidade militar
Segundo Firas Maksad, especialista em pol�tica libanesa, o Hezbollah � "exponencialmente mais poderoso" hoje do que era em 2006.
"O Hezbollah ganhou muito mais experi�ncia, lutando na guerra na S�ria e treinando e apoiando mil�cias pr�-Ir� no Iraque e no I�men", explica o especialista.
"Tamb�m se acredita que seu arsenal militar seja muito mais amplo e preciso em termos de m�sseis, em compara��o com 2006."
Em 2021, o l�der do Hezbollah, Sayyed Hassan Nasrallah, afirmou que o grupo tinha 100 mil combatentes.
Tamb�m possui foguetes de longo alcance que poderiam penetrar profundamente em Israel.
Por essas raz�es, Maksad acredita que uma guerra total entre o Hezbollah e Israel seria "devastadora" tanto para os libaneses como para os israelenses.

Financiamento
Segundo o Departamento de Estado dos EUA, o Ir� fornece ao Hezbollah "a maior parte" do seu financiamento, bem como treinamento, armas e explosivos.
Teer� tamb�m envia "ajuda pol�tica, diplom�tica, monet�ria e organizacional", denuncia Washington.
Al�m disso, as ag�ncias antidrogas dos EUA e da Europa acusam o grupo liban�s de lucrar com o tr�fico de drogas.
O Hezbollah nega repetidamente tais acusa��es, alegando que � "religiosamente proibido fabricar, vender, comprar, contrabandear e consumir" drogas.
O Departamento de Estado dos EUA observa que o Hezbollah tamb�m lucra com contrabando de mercadorias, falsifica��o de passaportes, tr�fico de entorpecentes, lavagem de dinheiro e fraude com cart�es de cr�dito, imigra��o e bancos.
O Hezbollah se envolver� na guerra entre Israel e Gaza?

Na vis�o de Maksad, existe a possibilidade de Israel e o Hezbollah travarem um conflito, apesar de nenhum dos lados estar "buscando-o ativamente".
O especialista acredita que Israel est� ocupado em Gaza e n�o quer abrir uma segunda ou terceira frente, enquanto o Ir� preferiria que o Hezbollah n�o perdesse a sua influ�ncia ou a sua for�a.
"O Hezbollah � a primeira linha de dissuas�o para que Israel n�o ataque o programa nuclear iraniano, raz�o pela qual o Ir� prefere que permane�a intacto", explica.
No entanto, Maksad acrescenta que se Israel avan�ar mais profundamente em Gaza, os l�deres do Ir� e do Hezbollah ter�o de tomar uma decis�o dif�cil.
"Eles ter�o de decidir se v�o sentar-se e ver Israel desmantelar os seus aliados palestinos ou juntar-se � luta para salvar o Hamas."
Maksad diz que uma segunda frente "possivelmente" j� existe devido aos confrontos observados entre o Hezbollah e Israel perto da fronteira libanesa-israelense.
"O Hezbollah e os iranianos s�o especialistas em conflitos na zona cinzenta (entre a paz e a guerra)", explica.
"Eles continuar�o a amea�ar Israel e a operar na fronteira, mas tentando evitar um confronto total e devastador", conclui.