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Protestos da oposi��o mostram que Bolsonaro n�o domina mais as ruas, dizem pesquisadores

Analistas dizem que atos mostraram que, se houver embate, vai haver gente na rua defendendo a democracia". Mas isso n�o significa, segundo eles, que oposi��o esteja coesa


postado em 08/06/2020 09:36 / atualizado em 08/06/2020 12:35

Cena do protesto em BH nesse domingo (7)(foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
Cena do protesto em BH nesse domingo (7) (foto: T�lio Santos/EM/DA Press)

As manifesta��es contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido), pela democracia e contra o fascismo e o racismo que ocorreram neste domingo (7/6) mostraram que o presidente "n�o � dono das ruas", avaliam especialistas ouvidos pela BBC News Brasil.

Grupos que apoiam o governo v�m fazendo desde mar�o manifesta��es com pedidos pelo fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. O presidente costuma aparecer nos atos, sem repudiar suas mensagens antidemocr�ticas. Neste domingo, parte da oposi��o foi �s ruas, apesar de a preocupa��o com o cont�gio do coronav�rus e poss�veis conflitos violentos terem dividido esses grupos contr�rios ao governo. Atos aconteceram em diversas cidades, sendo os maiores em Bras�lia, S�o Paulo e Rio de Janeiro.

Alguns opositores do governo argumentavam que confrontos entre manifestantes a favor e contra Bolsonaro poderiam ser usados como motivo para rea��es autorit�rias da parte do governo. No entanto, os atos acontecerem sem grandes conflitos.

Para analistas ouvidos pela reportagem, os atos mostraram que, "se houver embate, vai haver gente na rua defendendo a democracia", nas palavras de Luciana Gross, professora da Escola de Direito de S�o Paulo da Funda��o Getulio Vargas.

"O ato foi t�mido, seria maior se n�o fosse a pandemia", avalia Christian Lynch, professor de pensamento pol�tico brasileiro da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Surgiram nos �ltimos dias iniciativas suprapartid�rias em defesa da democracia e contra Bolsonaro, como o movimento "Somos70porcento".

No entanto, isso n�o significa, segundo eles, que essa oposi��o esteja coesa. H� uma s�rie de diverg�ncias profundas entre os grupos contr�rios ao governo.

Convocados por movimentos de periferia, ativistas negros, integrantes de torcidas organizadas, estudantes secundaristas, grupos antifascistas e a frente Povo Sem Medo, os atos tiveram duas bandeiras principais: o antifascismo e o antirracismo, com o mote "Vidas Negras Importam", em rea��o ao assassinato de pessoas negras pela pol�cia nas periferias brasileiras.

Valter Silv�rio, professor do departamento de sociologia da Universidade Federal de S�o Carlos (UFSCar) e especialista em rela��es raciais, diz que h� uma extensa tradi��o de lutas do movimento negro que, devido a conjunturas espec�ficas, ganham visibilidade, e � o que acontece neste momento. "As pessoas acham que � novidade, mas n�o �", resume.

O que ele v� como novidade � a emerg�ncia de grupos jovens que se articulam e que podem ter novo papel de lideran�a.

'Bolsonaro n�o � dono das ruas'

Para Christian Lynch, da Uerj, Bolsonaro tenta criar a ilus�o de que tem "o povo" do seu lado incentivando manifesta��es a seu favor e usando redes sociais. No entanto, isso vem caindo por terra, opina ele.

"Bolsonaro � um populista de ultradireita. Uma das pedras de toque � vender ilus�o de que existe povo verdadeiro contra povo falso. Isso � comum tanto na extrema direita quanto na extrema esquerda. (Ele tenta passar a imagem de que) povo � quem est� do lado dele. O resto, a oposi��o, n�o � povo. Mas o fato � que cada vez menos gente � arrebanhado pelo governo. A pandemia radicalizou seu grupo, mas unificou o outro lado. E daqui para frente ele vai perder a rua", projeta Lynch.

Isso acontece agora devido �s amea�as � democracia e �s institui��es que o governo vem fazendo, avalia.

Al�m dos Somos70%, h� o movimento Estamos Juntos, lan�ado no s�bado (30) e o Basta!, lan�ado por advogados e juristas no domingo (31).

Luciana Gross, da FGV, avalia que os protestos foram parte de um esbo�o de uma rea��o da oposi��o. Nos �ltimos dias, diz ela, "foi poss�vel ver o come�o de uma movimenta��o de v�rios grupos diferentes entre si, mas que est�o chegando no limite de tanto que o presidente amea�a a democracia e as institui��es".

Para ela, os protestos que acontecem h� dias nos Estados Unidos, ap�s a morte do seguran�a negro George Floyd por um policial branco, em Minneapolis, deram for�a a esse movimento no Brasil. "A movimenta��o antirracista nos EUA sinalizou um esgotamento da popula��o frente a lideran�as antidemocr�ticas, contra direitos humanos, autorit�rias. Tamb�m se sentiu essa for�a aqui", diz a professora. Al�m disso, para ela, alguns governos estaduais e prefeituras j� ensaiam uma flexibiliza��o das regras de quarentena, o que motivou os manifestantes a irem � rua.

Ao contr�rio do que alguns previam, os atos foram pac�ficos. "Todos os atores contribu�ram para isso", avalia Gross. "Os movimentos pr�-democracia cuidaram dos atos para que n�o aparecessem infiltrados e pediram responsabilidade para seus manifestantes. Apesar de n�o estar claro que pol�cia venha respeitando a hierarquia dos governadores, o governador de S�o Paulo passou uma orienta��o e teve uma aten��o maior", diz ela.

A Pol�cia Militar de S�o Paulo foi criticada depois de manifesta��o contra o governo na semana passada por ter sido, segundo cr�ticos, mais dura com aqueles que protestavam pela democracia do que com aqueles que se manifestavam a favor de Bolsonaro.

"E al�m disso, neste domingo o governo pediu para seus apoiadores n�o irem �s ruas, apostando que haveria viol�ncia", lembra Gross. Na semana passada, o presidente pediu que seus apoiadores n�o participem de atos. "Quem luta pela democracia, quer o governo funcionando, quer um Brasil melhor e preza pela sua liberdade, a gente pede que n�o compare�a �s ruas nestes dias para que n�s possamos, a For�a de Seguran�a, n�o s� estaduais, como a nossa federal, fa�a seu devido trabalho caso esses marginais extrapolem os limites da lei", disse, em refer�ncia a manifestantes contr�rios ao seu governo.

"Foi um primeiro movimento e pode ser uma gesta��o para quando acabar o confinamento. � uma primeira articula��o da oposi��o que come�ou a se organizar. E mostrou que a rua n�o � do governo. Se houver embate, vai ter bastante gente defendendo a democracia. N�o � que n�o existisse, estavam cumprindo as regras de isolamento", diz.

Limites da uni�o

Gross acha que � cedo para analisar poss�veis consequ�ncias dos atos para a oposi��o e forma��o de uma frente contra Bolsonaro. No entanto, ela v� poss�veis diverg�ncias entre os grupos que estavam presentes nos atos hoje e entre aqueles que ensaiam uma frente de oposi��o mais ampla. "Esse movimento est� represado pelo confinamento e por falta de projeto comum", diz ela.

A mobiliza��o deste domingo ganhou for�a depois que integrantes de torcidas organizadas compareceram � avenida Paulista, em S�o Paulo, no fim de semana anterior, para protestar em favor da democracia e contra posicionamentos autorit�rios de Bolsonaro e de parte dos seus apoiadores.

"(As torcidas organizadas tomaram a frente) justamente porque a oposi��o est� desorganizada", diz ela. "Nossas institui��es est�o em frangalhos desde o come�o da Lava-Jato, os partidos est�o desorganizados, h� um discurso de que pol�tica � igual a corrup��o. Temos um longo caminho de recupera��o."

"Hoje vimos nas ruas de S�o Paulo tr�s grupos: torcidas organizadas, grupos antirracismo, que deve crescer, e um terceiro em torno de Guilherme Boulos (l�der do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto). Apesar de estarem ocupando um mesmo espa�o, tamb�m t�m suas pr�prias pautas, n�o se juntam necessariamente num mesmo projeto, sem falar naqueles que n�o foram � rua, como (os movimentos) Juntos, Basta e 70%, que aglomeram setores diferentes da popula��o. � um movimento anti-Bolsonaro, antifascismo e nesse sentido coeso, mas n�o tem projeto �nico, e isso � importante", opina ela.

Nessa mesma linha, Lynch, da Uerj, v� a forma��o de uma frente contra Bolsonaro como uma "coaliz�o negativa". "Uma coaliz�o positiva � quando as pessoas se juntam por querer algo em comum. A negativa � quando se juntam para rejeitar. O interesse em comum de todos � se livrar de Bolsonaro", diz ele.

A dificuldade de reunir lideran�as de diferentes correntes ideol�gicas em uma frente ampla contra o governo Bolsonaro ficou clara esta semana tamb�m na tentativa de ampliar apoios a manifestos pela democracia.

O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, principal lideran�a do PT e da esquerda brasileira, se recusou a assinar o manifesto do Movimento Estamos Juntos, que teve o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), do governador do Maranh�o, Fl�vio Dino (PCdoB), do ex-prefeito de S�o Paulo Fernando Haddad (PT), do ex-governador do Esp�rito Santo Paulo Hartung (MDB), entre outras lideran�as pol�ticas e tamb�m da classe art�stica e intelectual.

Segundo Lula, o texto "tem pouca coisa de interesse da classe trabalhadora".

"Tem muita gente de bem que assinou. E tem muita gente que � respons�vel pelo Bolsonaro. O PT tem que discutir com muita profundidade, para a gente n�o entrar numa coisa em que outra vez a elite sai por cima da carne seca, e o povo trabalhador n�o sai na fotografia", criticou ainda, o ex-presidente.

Racismo

Todas as manifesta��es tiveram a presen�a forte de movimentos contra o racismo.

No Rio de Janeiro, este foi o segundo domingo de protesto ap�s a morte de Jo�o Pedro Mattos Pinto, de 14 anos, em sua casa, em uma favela de S�o Gon�alo (RJ), durante uma opera��o policial.

O soci�logo Valter Silv�rio, especialista em rela��es raciais da UFSCar, avalia que este momento pode inaugurar uma nova fase de visibilidade do movimento negro no Brasil.

"A sociedade vem falando de criar uma frente de 'defesa da democracia' de uma forma abstrata. Ningu�m � contra fazer uma frente. No entanto, ela n�o se faz em abstrato, mas a partir de quest�es concretas. Uma quest�o que existe no Brasil e que nunca foi compreendida pela esquerda, pelo menos n�o de forma adequada, � a quest�o racial. Ela foi acionada nos momentos de democratiza��o do pa�s, mas sempre foi secundarizada no momento em que passam as elei��es. O que est� sendo colocado agora � que a juventude tem uma informa��o das gera��es passadas das armadilhas colocadas nesses discursos."

Para Silv�rio, uma potencial novidade no campo pol�tico � que "haja uma composi��o do ponto de vista pr�tico a partir de grupos que nunca foram considerados como agentes de potencial pol�tico de organizar politicamente a sociedade brasileira".

Lynch, da Uerj, acredita que circunst�ncias recentes deram urg�ncia ao tema do racismo. "O governo Bolsonaro � ofensivo ao combate � discrimina��o racial. Isso se v� pelo que ele fez com a Funda��o Palmares."

Bolsonaro nomeou para presidir a funda��o S�rgio Camargo, que minimiza o racismo no Brasil. Nesta semana emergiu a informa��o de que Camargo chamou movimento negro de 'esc�ria maldita'.

"Isso j� sinaliza essa oposi��o. Mas coincidiu essa pol�tica com protestos nos EUA que s�o anti-Trump e antirracismo e com a morte do menino Miguel. As circunst�ncias deram � pauta antirracista uma visibilidade maior. Mas n�o � s� ela que � ridicularizada pelo governo federal. Tem muito mais fregueses a� para engordar essa frente contra o bolsonarismo."

*colaborou Mariana Schreiber, da BBC News Brasil em Bras�lia


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