Presidentes que buscam a reelei��o costumam confrontar seus rivais pol�ticos. J� o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem optado por, em vez disso, confrontar a ci�ncia.
Dois sinais claros dessa atitude desafiadora foram expressos na �ltima semana, a menos de 50 dias da elei��o de 3 de novembro.
Na quarta-feira (16/9), Trump contradisse publicamente o diretor dos Centros de Controle de Doen�as (CDC) que havia descartado que uma vacina contra o coronav�rus pudesse estar amplamente dispon�vel antes de meados de 2021 e disse que o uso de m�scaras pode ser mais eficaz em prevenir infec��es do que uma eventual vacina.
"Ele cometeu um erro", disse o presidente americano sobre cada as duas considera��es do doutor Robert Redfield.
O presidente insistiu, em uma coletiva de imprensa, que uma vacina contra a covid-19 poderia ser anunciada em outubro ou "um pouco mais tarde" e estaria dispon�vel ao p�blico "imediatamente".
Poucos dias antes, Trump se recusou a admitir que os grandes inc�ndios na costa oeste do pa�s est�o ligados �s mudan�as clim�ticas, como afirmam v�rios cientistas.
"N�o acho que a ci�ncia saiba" , disse o presidente durante uma visita � Calif�rnia na segunda-feira (14/9), sugerindo que em breve o clima come�aria a esfriar.
Esses coment�rios afrontosos em rela��o ao conhecimento cient�fico s�o considerados incomuns at� mesmo para um presidente como Trump, que tem um longo hist�rico de discord�ncia com especialistas em assuntos como o coronav�rus ou as mudan�as clim�ticas.
"� um passo al�m da sua linha normal, e sua linha normal j� � muito extrema", diz W. Henry Lambright, professor de Ci�ncia Pol�tica da Universidade de Syracuse.
"� algo extremamente raro, n�o me lembro de um presidente que tenha feito isso nos �ltimos anos", afirma Lambright, que pesquisa a rela��o entre governos e ci�ncia h� anos.
A quest�o agora � quais consequ�ncias essa posi��o in�dita pode ter.
A elei��o e depois

Com quase 200 mil mortes por covid-19, os Estados Unidos s�o o pa�s do mundo mais atingido pela pandemia, fato que se tornou um assunto decisivo para as elei��es de novembro.
Embora Trump demonstre apostar tudo em uma vacina que possa ser disponibilizada o mais r�pido poss�vel, a oposi��o democrata o acusa de politizar a quest�o e de ter falhado no combate ao coronav�rus inicialmente minimizando-o.
"Confio em vacinas. Confio nos cientistas. Mas n�o confio em Donald Trump", disse Joe Biden, rival e candidato democrata � presid�ncia. "E, neste momento, o povo americano tampouco pode (confiar)."
Biden tamb�m criticou Trump na segunda-feira (14/9) por suas posi��es sobre o aquecimento global, chamando-o de "piroman�aco clim�tico".
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O presidente, que ao longo da sua gest�o cortou diversas regulamenta��es ambientais, atribuiu os inc�ndios na Calif�rnia ao manejo florestal falho, embora grande parte das florestas naquele Estado sejam controladas pelo governo federal.
Assim, o tema das mudan�as clim�ticas tamb�m entrou na reta final da campanha eleitoral.
As pesquisas sugerem que as pol�ticas ambientais e a pandemia preocupam a maioria dos americanos, mas as opini�es variam amplamente, dependendo da posi��o partid�ria.

Por exemplo, menos de um ter�o dos americanos (31%) confia nas afirma��es de Trump sobre o coronav�rus, enquanto a maioria (55%) confia no CDC, apontou uma pesquisa da emissora de TV NBC News do m�s passado.
No entanto, entre os republicanos, o n�vel de confian�a nos coment�rios do presidente mais do que dobra: 69%.
Sobre as mudan�as clim�ticas, uma pesquisa do Pew Research Center de outubro indicou que dois ter�os dos americanos (67%) acreditavam que o governo n�o estava fazendo o suficiente para reduzir seus efeitos.
Mas enquanto 71% dos democratas consideram as pol�ticas de mudan�a clim�tica desej�veis, dois ter�os dos republicanos (65%) acreditam que tais pol�ticas n�o fazem diferen�a ou fazem mais mal do que bem ao meio ambiente.
Assim, o impacto eleitoral que seus ataques com a ci�ncia podem ter � incerto ainda mais considerando que Trump aparece v�rios pontos atr�s de Biden em diferentes pesquisas de inten��o de voto.
"N�o vejo como isso pode ajud�-lo, (mas) com sua forte base de apoiadores, nada parece prejudic�-lo", analisa Robert Erikson, professor de Ci�ncia Pol�tica na Universidade de Columbia e especialista em opini�o p�blica e elei��es, em entrevista � BBC News Mundo.
Em sua opini�o, Trump parece estar apelando "para aquela parte de sua base que � c�tica em rela��o � ci�ncia, mas � claro que as consequ�ncias de longo prazo disso podem ser desastrosas".
Lambright, por sua vez, tamb�m alerta que atual presidente pode ter aberto um precedente para futuros governos.
"Os sucessores de Trump podem n�o ser t�o radicais quanto ele", diz ele, "mas ser�o menos relutantes em desafiar os cientistas quando isso estiver de acordo com suas posi��es pol�ticas".
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