
Imagine um pr�dio de 45 andares. Agora pense nesse pr�dio caindo na sua dire��o e bloqueando o �nico caminho existente entre voc� e o mundo exterior. Pior: voc� est� mais de 700 metros embaixo da terra.
Essa foi a realidade enfrentada por 33 mineiros presos na mina San Jos�, no Chile, a 800 quil�metros ao norte da capital Santiago, em 5 de agosto de 2010. Aqueles na superf�cie temiam que todos os trabalhadores estivessem mortos.
O drama do grupo, que ficou conhecido como "os 33", foi acompanhado com ansiedade pelo mundo todo, com as incr�veis cenas do resgate transmitdas ao vivo pela televis�o.
O acidente
Tudo parecia correr bem na hora do almo�o daquela quinta-feira, 5 de agosto. A mina San Jos�, em Copiap�, na regi�o do deserto do Atacama, empregava 150 trabalhadores e operava normalmente, com equipes extraindo cobre e ouro. Com mais de 100 anos de exist�ncia, a San Jos� contava apenas com um t�nel de explora��o, que servia de entrada e sa�da, sem outros caminhos alternativos ligando o subterr�neo com a superf�cie. Com uma rampa em zigue-zague, o t�nel que avan�ava dentro da montanha percorria aproximadamente 7 quil�metros.
�s 14h, ocorreu o acidente. Um desmoronamento interno fez com que uma enorme rocha se desprendesse da montanha e ca�sse sobre o t�nel, fechando completamente a liga��o com a superf�cie. Dentro da mina, ficaram 33 mineiros - 32 chilenos e 1 boliviano.
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Equipes de reconhecimento seguiram para dentro da mina at� atingir o ponto do desmoronamento. L�, viram pela primeira vez o tamanho do problema. Uma gigantesca massa de granito, de cerca de 130 metros de altura e pesando mais de meio milh�o de toneladas, havia fechado completamente o t�nel de explora��o da mina San Jos�. Sua presen�a significava que seria imposs�vel que os mineiros conseguissem sair ou fossem retirados da mina por onde haviam entrado. Uma rota alternativa precisaria ser criada.

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Os t�cnicos tamb�m logo imaginaram que, caso os mineiros estivessem vivos, eles possivelmente teriam seguido at� o �nico ref�gio interno da mina - um �rea na lateral do t�nel, de cerca de 50 metros quadrados, tamanho de um pequeno apartamento. O ref�gio, por�m, ficava quase no fim do t�nel, a 720 metros de profundidade. A not�cia do acidente fez com que, rapidamente, familiares dos trabalhadores fossem at� a entrada da mina, em busca de informa��es.
N�o havia tempo a perder. De in�cio, as equipes tentaram aproveitar o que estava dispon�vel: os tubos de ventila��o j� existentes. Imaginou-se que eles pudessem ser usados para a retirada do grupo, e imediatamente foi iniciado um trabalho dentro da mina para aproveitar essas cavidades. A ideia, por�m, logo precisou ser abandonada. Dois dias depois do acidente, um novo desmoronamento de rocha atingiu o tubo de ventila��o que serviria como sa�da alternativa. Ele foi totalmente destru�do, e a passagem, bloqueada. O ent�o ministro da Minera��o chileno, Laurence Golborne, que acompanhava os trabalhos de perto, resumiu a situa��o. "O caminho mais f�cil e mais l�gico agora est� bloqueado. Especialistas ter�o de encontrar outras alternativas, mas essas ser�o mais dif�ceis e levar�o mais tempo." Ningu�m ainda sabia se os mineiros estavam vivos.
A busca pelos 33
Foram dias de ang�stia, especialmente para os parentes dos trabalhadores soterrados, que montaram um acampamento diante da mina. Eles temiam que o grupo viesse a morrer caso n�o fosse encontrado logo. Sabia-se que, caso tivessem sobrevivido e conseguido se instalar no abrigo subterr�neo, eles tinham comida para apenas alguns dias.

Na superf�cie, foram instaladas nove sondas de perfura��o, normalmente usadas para procurar min�rios. Dessa vez, seriam usadas para encontrar 33 pessoas. Cada m�quina perfurava um buraco no solo de 15 cent�metros de di�metro e seguia, cuidadosamente, para debaixo da terra numa tentativa de achar sobreviventes. Muitas vezes tinham de fazer desvios para contornar rochas impenetr�veis. Com c�meras em suas extremidades, as sondas enviavam imagens que eram avaliadas pelos t�cnicos. O ref�gio da mina, localizado num dos pontos mais profundos, seria a �ltima parte a ser atingida pelas sondas em sua varredura. Enquanto isso, mais e mais parentes e amigos concentravam-se no acampamento montado em frente � mina, com cartazes, mensagens de apoio e ora��es - al�m da imprensa, que informava o mundo sobre o drama chileno.
Passadas duas semanas, n�o havia confirma��o sobre o estado ou localiza��o dos mineiros. Apenas 17 dias ap�s o acidente, em 22 de agosto, veio o primeiro sinal de vida do fundo da mina. Uma das sondas finalmente chegou a um t�nel pr�ximo ao ref�gio. Os operadores das sondas ouviram o que acreditavam ser sons vindo daquela �rea, possivelmente alguma tentativa de comunica��o.
Quando puxaram a sonda de volta � superf�cie, ela trazia a surpresa que mudou os rumos da trag�dia de San Jos�. Um pequeno bilhete havia sido anexado pelos mineiros � lateral da sonda, uma mensagem que entraria para a hist�ria: "Estamos bem no ref�gio os 33". Era a informa��o que parentes, colegas, autoridades e o mundo todo esperavam ouvir. Presente ao local, o presidente do Chile, Sebasti�n Pi�era, exibiu euf�rico a mensagem com a m�o e, diante de rep�rteres e c�meras de TV, repetia seu conte�do.

Citada pela ag�ncia de not�cias Reuters, Elisa Barros, irm� de um dos mineiros preso na mina, dizia que a nota enviada por eles mudava completamente a expectativa de todos. "A espera � bem diferente agora. � uma espera livre de ang�stia. N�o acabou ainda, mas temos muito mais esperan�a num final feliz." A rede CBS, que como toda a imprensa dos Estados Unidos tamb�m acompanhava o drama chileno, tamb�m registrou o al�vio de parentes que acompanhavam as opera��es. "Eu estou feliz, feliz", disse uma das filhas de Mario G�mez, segundo a CBS. "Pela primeira vez, eu vou conseguir dormir tranquila."
Sobreviver por longos 17 dias a 720 metros embaixo da terra j� fora um feito admir�vel. O grupo passou o tempo todo racionando os mantimentos que ficavam estocados no ref�gio. Cada um alimentou-se de apenas duas colheres de atum, um pouco de leite e metade de um biscoito a cada 48 horas. Estimava-se que cada um tivesse perdido cerca de 8 ou 9 quilos. Essa fase, no entanto, ficara para tr�s. Com a bem-sucedida escava��o feita pela sonda, as equipes trabalhando na superf�cie tinham agora um t�nel de 15 cent�metros como canal de contato com os mineiros soterrados. Pelo t�nel, foram logo enviados glicose, medicamentos, oxig�nio e c�psulas de reidrata��o. Um cabo telef�nico foi instalado para comunica��o, e uma pequena celebra��o marcou a primeira chamada, atendida pelo ministro das Minas, Laurence Golborne. Do outro lado da linha, estava o chefe de turno, Luiz Urz�a. "Estamos bem, esperando pelo resgate."

Uma c�mera de v�deo tamb�m chegou ao grupo, e as imagens recebidas mostravam os mineiros sem camisa, j� que enfrentavam constantes temperaturas de mais de 30 graus Celsius e uma alta taxa de umidade. Os parentes passaram a lhes enviar mensagens de apoio. Ao todo, tr�s pequenos t�neis para envio de mantimentos e para comunica��o seriam cavados. Aos engenheiros e �s autoridades, por�m, o principal objetivo era perfurar um caminho largo o suficiente para trazer os mineiros de volta � superf�cie, com um equipamento que garantisse a efic�cia e a seguran�a da empreitada.
A longa espera
Depois da emocionante descoberta de que estavam todos vivos, sabia-se que o mais dif�cil estava por vir. A espera seria longa, como avisou o presidente Pi�era. "Levar� meses para retir�-los." Mais precisamente, segundo o engenheiro-chefe da opera��o, Andres Sougarret, "pelo menos quatro meses" - o que significava um resgate apenas no fim de dezembro. Nesse per�odo, al�m da escava��o do t�nel pelo qual eles seriam resgatados, seria necess�rio garantir a sa�de dos mineiros e preparar o equipamento para a dif�cil miss�o. Decidiram ent�o buscar a ajuda de quem entende de miss�es: a Nasa, ag�ncia espacial americana.
Segundo a Nasa, sua participa��o come�ou com propostas sobre como manter os trabalhadores bem, tanto f�sica como mentalmente. "O apoio inicial da Nasa para 'Os 33' incluiu recomenda��es de cuidado m�dico, nutri��o e apoio psicol�gico", diz um relat�rio da ag�ncia sobre a colabora��o com os chilenos. Dois m�dicos da Nasa fizeram v�rias recomenda��es, entre elas: exerc�cios moderados para que eles mantivessem a massa muscular; mudar a dieta para reduzir o consumo de oxig�nio e a produ��o de g�s carb�nico num espa�o fechado - "algo que a Nasa havia estudado para o �nibus espacial"; e manter uma rotina de sono, "o que � chave para o estado de esp�rito e estabilidade social". Na �rea psicol�gica, os profissionais da ag�ncia espacial recomendaram medidas como estabelecer uma programa��o regular para o contato com familiares e amigos, administrar as din�micas de grupo - "as tens�es podem aumentar com muitas pessoas num pequeno espa�o fechado" - e apoio e aconselhamento �s fam�lias dos mineiros.

A comunidade criada na porta da mina San Jos� seguia cada dia mais vibrante. A movimenta��o logo se tornou uma pequena vila, com centenas de pessoas, e ganhou um nome: Acampamento Esperan�a. Do subterr�neo, chegavam v�deos com depoimentos do mineiros, mostrando como eles haviam sobrevivido at� ent�o e como viviam embaixo da terra. Sua base era o ref�gio de 50 metros quadrados, mas eles tamb�m podiam se movimentar em outros t�neis da mina, pelos quais chegaram a tentar encontrar alguma poss�vel sa�da, sem sucesso.
Em uma das grava��es em v�deo, Mario Sep�lveda mostrou o tanque de �gua, da qual dependiam e que faziam o poss�vel para manter limpa. "N�s temos tirado �gua daqui. Com essa �gua, n�s temos nos mantido. Pedimos a Deus que essa �gua n�o nos deixe doentes. Gra�as a Deus, n�o nos deixou." Sep�lveda tamb�m mostrou em v�deo o local em que, segundo ele, o grupo preparou sua primeira refei��o ap�s o acidente, cozinhando atum enlatado e uma sopa. "Aqui n�s nos reunimos, e foi muito lindo e emocionante." Sep�lveda ent�o disse diante da c�mera: "N�s apreciar�amos muito se voc� pudesse contar �s nossas fam�lias que n�s os amamos muito".

A tecnologia lhes permitiu at� assistir a um amistoso de futebol entre Chile e Ucr�nia, usando um projetor e um cabo de alta velocidade. A derrota da sele��o chilena por 2 a 1 n�o tirou o valor da experi�ncia de entretenimento compartilhado com o mundo exterior. Para mineiros fumantes, lidar com o v�cio era um desafio adicional. Sem acesso a cigarros - as equipes m�dicas recusaram-se a envi�-los -, mineiros fumantes recebiam adesivos de nicotina que colocavam em seus bra�os. Para o grupo como um todo, a f� oferecia confian�a de que o drama teria final feliz. Enquanto os mineiros rezavam e exibiam crucifixos, aqueles na superf�cie receberam uma imagem da Virgem Maria e a visita de representantes da Igreja Cat�lica. Em Roma, o papa Bento XVI rezava pelos mineiros, que lhe enviaram uma bandeira do Chile assinada por todos.
O resgate
Tr�s opera��es de perfura��o foram realizadas para tentar criar o t�nel de resgate - plano A, plano B e plano C. O primeiro utilizou a perfuradora Strata 950 para abrir um caminho novo e atingir uma profundidade de 702 metros. Lento, ele indicava uma conclus�o apenas em fins de dezembro. Surgiram outras op��es mais r�pidas. No fim de agosto, apareceu um plano B, que previa uma diferente tecnologia e aproveitaria um dos pequenos canais j� usados para o envio de mantimentos. A perfuradora Schramm T130 escavaria em torno do estreito t�nel j� existente, tornando-o largo o suficiente para transportar um mineiro dentro de uma c�psula. Isso reduziria em dois meses o prazo de conclus�o dos trabalhos - de dezembro para outubro. A Schramm T130, por�m, enfrentou problemas, quebrando duas vezes na opera��o. Com uma primeira escava��o ainda estreita, atingiu seu destino, um ponto a 624 metros de profundidade. Uma segunda escava��o, por�m, era necess�ria para alargar o t�nel e permitir a retirada dos trabalhadores.

Um plano C parecia a alternativa ainda mais r�pida: a utiliza��o de uma sonda de perfura��o para a procura de petr�leo, a RIG-421. Com uma estrutura enorme, ela foi transportada at� a mina por v�rios caminh�es, em partes, para ser montada no pr�prio local - o que levou v�rios dias. Seu alvo era um ponto mais pr�ximo da superf�cie, a uma profundidade de 567 metros. Al�m de r�pida, a RIG-421 precisava apenas de uma escava��o para criar o t�nel, j� na largura necess�ria para a retirada dos mineiros.
Enquanto isso, engenheiros da Marinha chilena projetavam a c�psula que traria os trabalhadores de volta � superf�cie, tarefa que tamb�m contou com o aux�lio da Nasa. Batizada de F�nix, ela transportaria cada mineiro individualmente e precisava contar com dispositivos que garantissem o sucesso da opera��o e a seguran�a de quem estivesse em seu interior. A Nasa fez ao todo 75 recomenda��es, entre elas a inclus�o de um al�ap�o no ch�o da c�psula e pequenas rodas nas suas laterais. "As rodas amorteceriam a viagem � superf�cie, reduzindo o atrito com as paredes do t�nel e reduzindo a possibilidade de a c�psula ficar presa no meio do caminho", explica o relato da Nasa. Caso assim mesmo a c�psula parasse de subir, o al�ap�o permitiria que o mineiro sa�sse pela parte de baixo e descesse com uma corda de volta ao abrigo. O resultado final foi uma c�psula de a�o de 3,9 metros de altura na parte externa, 1,90 metro do lado de dentro, 54 cent�metros de di�metro e um peso de 420 quilos.
Em 25 de setembro de 2010 - 51 dias depois do acidente -, chegou � mina San Jos� a primeira F�nix, pintada em azul, vermelho e branco, as cores da bandeira do Chile. Ao ser apresentada � imprensa, parentes dos mineiros puderam inspecionar de perto o equipamento. Carolina Lobos, filha de um dos mineiros presos na mina, entrou na c�psula e aprovou o que viu. Foram produzidas tr�s unidades da F�nix para o resgate - ter uma c�pia id�ntica na superf�cie possibilitaria entender mais facilmente a ocorr�ncia de algum problema t�cnico.
A volta � superf�cie
Dois tr�s planos de escava��o, apenas um atingiu seu objetivo. Plano A foi abandonado no in�cio de outubro, tendo chegado a 598 metros - 104 metros aqu�m do necess�rio. Apesar da grande expectativa, a enorme sonda petrol�fera do plano C provou-se incapaz de superar as dificuldades do tipo de subsolo do local e cavou apenas 373 metros.

O plano B, no entanto, foi um sucesso. Apesar de dois epis�dios em que parte do equipamento quebrou, a perfuradora Schramm T130, fabricada por uma empresa da Pensylvannia, nos Estados Unidos, conseguiu alargar o t�nel at� os 624 metros necess�rios. No dia 9 de outubro, pouco depois das 8h da manh�, hor�rio local, a perfuradora chegou a seu objetivo, momento celebrado com grande emo��o pelos t�cnicos na superf�cie.
Com o t�nel pronto e uma das tr�s c�psulas, F�nix 2, preparada para o transporte dos mineiros, os maiores desafios haviam sido vencidos. Traz�-los � superf�cie, no entanto, ainda era uma tarefa delicada. Todo cuidado era pouco. A c�psula contava com luz, um dispositivo de comunica��o e tr�s tanques de ar, oferecendo 90 minutos de respira��o para emerg�ncias. Cada mineiro subiria usando �culos escuros, para evitar o choque dos olhos com a luz exterior. Em m�dia, a viagem na c�psula levaria cerca de 15 minutos.

Na noite de ter�a-feira, 12 de outubro, ap�s um bem-sucedido teste com a c�psula vazia no dia anterior, estava tudo pronto. Pouco depois das 23h, um integrante da equipe de resgate, Manuel Gonz�lez, entrou na F�nix 2 para ser enviado aonde estavam os mineiros. Na volta � superf�cie, a c�psula come�ou a trazer Florencio �valos, o primeiro a ser resgatado. �s 0h10 do dia 13, diante dos olhos ansiosos de todos e da expectativa do mundo inteiro, a F�nix 2 reapareceu na superf�cie. De dentro dela, diante das c�meras de TV que transmitiam a cena ao vivo para os quatro cantos do mundo, saiu �valos. O minieiro logo abra�ou seu filho Bairo, de sete anos, que n�o conseguia conter o choro. Um abra�o em sua esposa, em colegas e no presidente Sebastian Pi�era completaram o tocante momento.

Seriam 23 horas de opera��o. Quando saiu da F�nix 2 o segundo mineiro, o cativante Mario Sep�lveda, conhecido como "Super Mario", o clima emocionado da chegada de �valos transformou-se em festa. Sep�lveda foi recebido pela esposa e distribuiu aos presentes pedras que trouxera como lembran�as. Abra�ou colegas, o ministro, o presidente e a primeira-dama, Cecilia Morel. Caiu nos bra�os de outros colegas que acompanhavam a cena mais afastados e puxou o tradicional grito "Chi, chi, chi!! Le, Le, Le!!! Mineros de Chile!!!". Quase um dia inteiro depois, �s 21h55 do dia 13, chegou � superf�cie o �ltimo dos 33, Luis Urz�a, o chefe da equipe. Manuel Gonz�lez, o primeiro de seis integrantes das equipes de resgate que ajudaram os trabalhadores no retorno, continuava no mundo subterr�neo. Foi erguido pouco depois, a �ltima pessoa a deixar as profundezas da mina San Jos�.
Celebra��o e perguntas
Os meses seguintes foram de permanente comemora��o. Assim que deixaram a mina, os 33 mineiros foram hospitalizados, mas nenhum sofria de problemas f�sicos graves. Todos foram ent�o recebidos como her�is por onde passavam, o que incluiu uma viagem paga pela Disney ao parque Disney World, na Fl�rida (EUA), com direito a desfile ao lado de Mickey Mouse. Vieram presentes, como motocicletas da fabricante Kawasaki, e mesmo doa��es em dinheiro. Um dos resgatados, Edison Pe�a, foi entrevistado no famoso talk show de David Letterman, na TV americana, quando fez uma breve imita��o de Elvis Presley. O drama dos mineiros virou filme, "Os 33", com Antonio Banderas e Juliette Binoche, lan�ado em 2015. Os mineiros do Chile eram celebridades internacionais.
O presidente Sebasti�n Pi�era tamb�m aproveitou a popularidade proporcionada pelo drama. Quando viajou a Londres, ainda em outubro de 2010, numa visita marcada meses antes, o jornal The Guardian o chamou de "possivelmente o pol�tico mais popular do mundo no momento". Pi�era entregou rochas trazidas da mina San Jos� ao ent�o premi� David Cameron e � rainha Elizabeth II. Esteve tamb�m na Fran�a e na Alemanha - e por onde ia fazia quest�o de mostrar uma c�pia do bilhete escrito pelos mineiros. A F�nix 2 foi colocada no Museo Regional do Atacama, em Copiap�, enquanto um outro exemplar da c�psula F�nix rodou o mundo, exibido em museus.

No Chile, depois das celebra��es vieram perguntas sobre causas e responsabilidades pelo acidente. Muitos diziam que os mineiros haviam sido v�timas das press�es econ�micas para que a mina fosse explorada. A minera��o � historicamente uma das mais importantes atividades do Chile - em 2019, representava cerca de 10% do PIB (Produto Interno Bruto) do pa�s e cerca de 50% das exporta��es. O principal min�rio explorado � o cobre, do qual o Chile � o maior produtor mundial e cuja participa��o chilena no mercado global � de aproximadamente 30%.
A mina San Jos�, de onde era retirado cobre e ouro, foi aberta em 1889. Era a �nica de propriedade da San Esteban Mining Company, uma mineradora de m�dio porte. Muitos argumentavam que a San Jos� n�o deveria estar funcionando naquele fat�dico 5 de agosto de 2010, mas a realidade do pa�s e da ind�stria pareciam ter falado mais alto. A d�cada antes do acidente foi um per�odo de crescimento da produ��o de cobre, com pre�os altos no mercado internacional e forte demanda. Isso teria aumentado a press�o para que qualquer mina que pudesse ser explorada fosse aproveitada - mesmo sem plenas condi��es de seguran�a.
Em 2007, a San Jos� havia sido fechada pelas autoridades, depois da morte de um trabalhador. Entre as exig�ncias para sua abertura estava a cria��o de um segundo caminho para a superf�cie. Essa segunda sa�da nunca foi constru�da, mas a San Jos� reabriu assim mesmo, em 2008. Por situa��es como essa, muitos na regi�o chamavam os mineiros que trabalhavam no local e em outras minas locais de "kamikazes" - ou suicidas. Vinte dias depois do acidente, as autoridades chilenas se movimentaram: fecharam 18 minas, ap�s uma nova avalia��o de suas condi��es. Algumas sofriam do mesmo problema da San Jos�: falta de pelo menos duas vias para evacua��o dos trabalhadores em caso de acidente. Outras falhavam em diferentes quesitos, como ter poucos t�neis de ventila��o ou �reas de ref�gio subterr�neas.

Sobre o acidente de 2010, por�m, perguntas ficaram sem respostas. Em agosto de 2013, a Justi�a chilena encerrou as investiga��es sobre o acidente sem o indiciamento de ningu�m. Segundo o promotor de Atacama H�ctor Mella Far�as, os tr�s anos de investiga��o n�o identificaram elementos suficientes para responsabilizar os propriet�rios da mineradora San Esteban. Os mineiros protestaram, e o ex-ministro Golborne chamou a decis�o de "terr�vel".
Poucos anos depois, a fama repentina e breve n�o havia produzido um futuro pr�spero para os 33. A maioria continuava sem trabalho fixo e reclamava da falta de oportunidades. Segundo eles, mineradoras chilenas recusavam-se a contrat�-los por saber que denunciariam irregularidades na seguran�a e nas condi��es de trabalho. Traumas psicol�gicos decorrentes da terr�vel experi�ncia ainda acompanhavam muitos do grupo, para os quais a volta a uma vida normal ainda estava distante. Em entrevista ao di�rio brit�nico The Daily Mail, em 2014, Mario Sep�lveda disse que estava prestes a voltar a trabalhar nas minas, por falta de op��o. "Tenho fama, mas n�o tenho dinheiro. � a pior coisa poss�vel." Ele dizia que os mineiros haviam sido esquecidos. "Por alguns meses fomos superestrelas. Mas aos poucos o mundo se esqueceu de n�s e nos deixou sofrendo em sil�ncio."
Este artigo � parte da s�rie "21 Hist�rias que Marcaram as Primeirs D�cadas do S�culo 21", da BBC News Brasil
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