
"A demanda mais do que dobrou, e estamos fazendo tudo que a gente pode para aumentar a produ��o para conseguir atender todo mundo", diz o presidente da Godoy Santos, uma das maiores desse setor.
"Ficamos assustados com esse aumento, e isso deve continuar at� pelo menos abril. � muito preocupante."
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A equipe da empresa de Dois C�rregos, no interior de S�o Paulo, aumentou pouco mais de 10% com os 15 funcion�rios que chegaram recentemente.
As jornadas ficaram mais longas, e as f�rias foram suspensas — dentro do que a lei permite, Marinho faz quest�o de frisar.

A empresa tamb�m passou a oferecer para os clientes s� 2 dos 45 modelos que tem no cat�logo, para tentar acelerar a produ��o.
Marinho diz que j� conseguiu aumentar a fabrica��o em cerca de 30%, mas calcula que vai precisar elevar ainda mais para tentar atender a todos.
"T� bem esquisito, t� todo mundo ressabiado. Cidades que tinham tr�s, quatro �bitos por m�s, de repente, t�m oito, dez, e esse n�mero fica constante. Isso assusta."
Mortes em alta no ano da pandemia
Nunca morreu tanta gente no Brasil quando no per�odo da pandemia.
Foram quase 1,5 milh�o de �bitos entre mar�o de 2020 e fevereiro de 2021, de acordo com a Associa��o Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).
� o recorde do monitoramento desde que ele come�ou a ser feito, em 2003.
As mortes no ano da pandemia ficaram 31% acima da m�dia e 13,7% do ano anterior.
E foi justamente o �ltimo m�s do levantamento que teve o maior n�mero de mortes de toda a s�rie hist�rica.
Em fevereiro de 2021, 120 mil novos atestados de �bito foram emitidos por cart�rios em todo o pa�s.

'Tem pico todo ano, mas nada se compara com isso'
Os fabricantes de caix�o foram um dos primeiros a notar esse aumento fora da curva.
Esse � um mercado em que a previsibilidade � a norma. Fora algo excepcional, o n�mero de nascimentos e mortes costuma ser relativamente regular — descontadas as varia��es sazonais e as mudan�as no perfil da pr�pria popula��o.
Por isso Leandro Rigon diz que soube logo de cara que o aumento de pedidos que ele estava vendo em sua f�brica em Constantina, no interior do Rio Grande do Sul, em outubro do ano passado, n�o era normal.
Em um primeiro momento, diz o empres�rio, as funer�rias tinham algum estoque para dar conta do aumento dos vel�rios e enterros.
"A� pegou forte a partir de fevereiro (de 2021). Houve um aumento muito, muito grande de pedidos", afirma o diretor-executivo das Urnas Rigon, empresa que foi criada pelo seu pai h� 31 anos.
"Estou no ramo h� 24. Claro que tem picos todos os anos, mas nada se compara com isso. Nunca teve algo assim."
'Se um pedir demais, o outro fica sem'
Leandro Rigon diz que sua produ��o aumentou em um ter�o depois que ele contratou mais 20 funcion�rios.
A f�brica tamb�m passou a funcionar uma hora a mais todos os dias e tamb�m aos s�bados e feriados.
O empres�rio conta que precisou conversar com algumas funer�rias. "Sabe o que aconteceu com o papel higi�nico? Ent�o, eu acho que a mesma coisa aconteceu aqui, algumas pessoas correram para estocar."
As encomendas grandes demais foram renegociadas, para fracionar a entrega. "Se um pedir demais, o outro vai ficar sem", justifica Rigon.

Falta de mat�ria-prima
Os fabricantes dizem que a situa��o ficou ainda mais cr�tica porque est� faltando mat�ria-prima para fazer os caix�es e urnas.
Eles contam que desde o fim do ano passado come�ou a ficar dif�cil achar madeira, compensado, a�o, pl�stico, tecido — os materiais que costumam ser usados para fazer esse tipo de produto.
Com real desvalorizado, o c�mbio ficou mais favor�vel �s exporta��es, e os produtores nacionais passaram a priorizar as vendas para o exterior, diz Gisela Adissi, presidente da Associa��o dos Cemit�rios e Cremat�rios Privados do Brasil (Acembra).
"Os fabricantes ainda est�o conseguindo atender os pedidos, mas est�o reduzindo as entregas. Mar�o deve ser o pior m�s e provavelmente vai dar uma melhorada em abril, mas ainda vai ser dif�cil", afirma Adissi.
Acordo e pedido de ajuda
Ela diz que as associa��es do mercado funer�rio decidiram fazer uma campanha para ningu�m estocar esses produtos.
Adissi acredita que n�o vai faltar caix�o e urna no mercado, mas reconhece que a preocupa��o � grande.
"N�o pode ir a vel�rio, n�o pode ir a enterro (por culpa das restri��es sanit�rias)... A gente j� est� sofrendo demais com a priva��o de v�rios dos nossos rituais. Sem esses s�mbolos t�o familiares e habituais, come�a a ficar ca�tico", diz a empres�ria.
Os fabricantes tamb�m se mobilizaram e vieram a p�blico no in�cio de mar�o pedir a ajuda. O apelo surtiu efeito, diz Ant�nio Marinho, que tamb�m � presidente da Associa��o de Fabricantes de Urnas do Brasil.
Ele afirma que as empresas conseguiram uma interlocu��o com o governo de S�o Paulo, de onde sai mais da metade da produ��o de urnas e caix�es no pa�s.
"Eles nos colocaram no comit� contra a covid e est�o ajudando no di�logo com os fornecedores de mat�ria-prima. Est� funcionando, o pessoal est� sendo mais flex�vel e aumentando a cota. Acho que isso vai resolver o problema", diz Marinho.

Produtos mais simples, margens menores
Com a pouca oferta de materiais e a grande procura, alguns produtos encareceram bastante, e teve pre�o que dobrou ou triplicou, reclamam os fabricantes.
"As pessoas acham que se est� ganhando muito dinheiro no mercado funer�rio, mas n�o � assim n�o, pelo contr�rio", afirma Leandro Rigon. "Estamos empatando, quase tendo preju�zo"
As margens de lucro ficaram mais apertadas n�o s� por causa do aumento de gastos com funcion�rios e mat�rias-primas, diz Rigon. Os caix�es que mais saem hoje tamb�m s�o os mais baratos.
"Antes, as compras eram mais diversificadas. Agora, n�o. Focam em comprar s� o mais basic�o porque n�o vai ter vel�rio", afirma o empres�rio. E o lucro era maior com os modelos mais caros.
Muitos funcion�rios afastados
A Bignotto, uma f�brica de Cordeir�polis, no interior de S�o Paulo, enfrenta ainda outra dificuldade por causa da pandemia.
Muita gente tem ficado doente, e o entra e sai de funcion�rios na produ��o aumentou bastante.
Thomaz Bignotto, que dirige a empresa com os tr�s irm�os, calcula que cerca de um quinto dos 200 funcion�rios est�o afastados atualmente por causa da covid-19.
Isso fez triplicar o n�mero de contrata��es na empresa por semana. De duas em m�dia para cinco ou seis hoje em dia.
"Estamos basicamente repondo os afastamentos", diz Bignotto.

Sem alternativas para crescer
Esse � um dos motivos por que sua produ��o est� hoje uns 40% abaixo do que era antes da pandemia. E o empres�rio n�o v� muitas alternativas de aumentar esse volume.
Primeiro, porque falta material e tudo est� mais caro. "Repassamos s� uma parte desse aumento para os pre�os dos produtos, o resto n�o. Estamos no zero a zero, n�o estamos tendo lucro", diz Bignotto.
Mas tamb�m porque "n�o � f�cil conseguir 40 funcion�rios da noite para o dia para abrir um novo turno de trabalho" em uma cidade pequena como Cordeir�polis, afirma Bignotto.
Ele explica que tamb�m n�o adianta comprar mais m�quinas, porque esse investimento est� fadado a se tornar preju�zo mais pra frente, quando o n�mero de mortes voltar ao normal.
Ou melhor, quando ficar abaixo do normal — Bignotto acredita que a pandemia alterou o ritmo normal de nascimentos e mortes e isso reserva dias n�o muito animadores para o seu neg�cio no futuro pr�ximo.
"O que est� acontecendo agora adiantou as mortes. As pessoas que iam morrer depois est�o morrendo agora. Quando acabar a pandemia, vai ter um decl�nio muito grande", acredita.
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