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Estado de Minas

�micron: qual a previs�o de novas vacinas

Ainda n�o h� certeza alguma de que essa nova vers�o do v�rus escapa da imunidade obtida ap�s a infec��o ou a vacina��o. Representantes das farmac�uticas j� estudam novas vers�es das vacinas e estimam que poderiam entregar novos produtos em alguns meses.


02/12/2021 14:40 - atualizado 02/12/2021 15:04

Coronavírus
Por ora, n�o h� confirma��o de que as vacinas deixam de funcionar contra a variante �micron (foto: Getty Images)

Classificada como uma variante de preocupa��o no dia 26 de novembro, a �micron segue cercada de incertezas e especula��es. Um dos aspectos que levanta mais d�vidas tem a ver com a imunidade: ser� que as vacinas dispon�veis atualmente s�o capazes de barrar uma infec��o (ou ao menos diminuir a gravidade da doen�a) causada por essa nova vers�o do coronav�rus?

Por ora, n�o h� nenhuma evid�ncia de que os imunizantes perdem completamente a capacidade de prote��o os estudos que avaliam essa quest�o est�o em andamento e devem ter seus resultados preliminares divulgados ao longo da pr�xima semana. A vacina��o continua indicada como a principal estrat�gia para se proteger contra a covid.

Por�m, de forma geral, boa parte dos especialistas espera que ocorra, sim, uma queda na efetividade das doses. Essa expectativa tem a ver com as muta��es encontradas na �micron que aparecem em outras variantes e com algumas simula��es feitas em computador.

Mas ningu�m sabe ainda responder ao certo a magnitude dessa diminui��o da efetividade ou se haver� a necessidade de desenvolver novas vacinas capazes de conter especificamente a �micron.

Uma das previs�es mais pessimistas veio do executivo-chefe da farmac�utica Moderna, St�phane Bancel, numa entrevista ao jornal Financial Times. "Me parece que haver� uma queda importante [da imunidade]. S� n�o sei quanto, porque precisamos esperar os dados. Mas todos os cientistas com quem conversei dizem que 'n�o vai ser bom'", declarou.

Na contram�o, o ministro da Sa�de de Israel, Nitzan Horowitz, acredita que "h� espa�o para otimismo". "Nos pr�ximos dias, n�s teremos informa��es mais precisas sobre a efic�cia das vacinas contra a �micron. Mas alguns indicadores iniciais revelam que os indiv�duos vacinados continuam protegidos contra essa variante", declarou, durante uma coletiva de imprensa na ter�a-feira (30/11).

Nos �ltimos dias, representantes de alguns laborat�rios afirmaram que est�o desenvolvendo vers�es atualizadas de seus imunizantes. Foi o caso de Pfizer/BioNTech, Moderna, AstraZeneca e Janssen.

Mas, caso a necessidade de novas vacinas contra a �micron fique realmente comprovada, quanto tempo demoraria para elas ficarem prontas?

O que falta descobrir

Identificada na �frica do Sul no final de novembro, a �micron logo chamou a aten��o dos especialistas pela quantidade e pela variedade de muta��es, muitas delas localizadas na prote�na S.

Esse "S" � a inicial de spike, ou esp�cula em portugu�s. Essa prote�na fica na superf�cie do coronav�rus e tem a fun��o de se conectar no receptor das c�lulas humanas para dar in�cio � infec��o.

Na perspectiva das vacinas dispon�veis, essa estrutura � muito importante. A maioria dos imunizantes tem como base justamente a tal da prote�na S.

Ilustração de uma célula e do coronavírus
A esp�cula (estrutura vermelha) se conecta com receptores da c�lula (estrutura azul) para dar in�cio � infec��o (foto: Getty Images)

As vacinas de mRNA (como aquelas desenvolvidas por Pfizer e Moderna) trazem na sua formula��o um pedacinho de c�digo gen�tico com instru��es para que nossas pr�prias c�lulas fabriquem a prote�na S. Na sequ�ncia, esse material � identificado pelo sistema de defesa, que gera uma resposta imunol�gica capaz de nos proteger de uma infec��o de verdade.

J� nos imunizantes de vetor viral (caso de AstraZeneca e Janssen), o produto traz um v�rus inofensivo para seres humanos que possui um c�digo gen�tico em seu interior. Da�, o processo � mais ou menos igual: nossas c�lulas produzem a prote�na S e o sistema imunol�gico faz o seu trabalho de montar uma resposta contra o invasor.

Agora, se a �micron traz muta��es importantes justamente na prote�na S, existe a probabilidade de as c�lulas de defesa n�o reconhecerem mais essa nova vers�o do coronav�rus e n�o lan�arem um contra-ataque efetivo. E isso, por sua vez, aumenta o risco de infec��o mesmo entre os vacinados ou aqueles que tiveram covid-19 anteriormente.

"Essa variante traz muitas muta��es em lugares estrat�gicos, como a regi�o da esp�cula que se liga ao receptor das c�lulas", observa o imunologista Jorge Kalil Filho, professor titular da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo.

"E isso abre a possibilidade de que os anticorpos neutralizantes parem de funcionar como observado at� agora", completa.

De novo: ainda n�o se sabe se isso vai acontecer na pr�tica e o quanto a �micron � realmente capaz de "driblar" a imunidade pr�via. Mas h� alguns cen�rios poss�veis, como voc� confere a seguir (do mais otimista para o mais pessimista):

1) A imunidade de quem j� teve covid-19 ou tomou as doses recomendadas de vacina continua suficientemente alta;

2) H� uma perda da imunidade, mas boa parte de quem est� vacinado ou j� foi infectado continua com um n�vel bom de prote��o contra as formas mais graves da doen�a;

3) A perda da imunidade � grande e boa parte da popula��o volta a ficar mais vulner�vel, especialmente os mais velhos e aqueles com o sistema imunol�gico comprometido.

Gráfico
(foto: BBC)

H� quem aposte em cada um desses cen�rios e nas poss�veis varia��es e combina��es entre eles. Mas isso ainda n�o passa de uma aposta ou de uma especula��o.

� justamente para acabar com essas d�vidas que diversos grupos de pesquisa est�o trabalhando nos �ltimos dias. Uma das formas de encontrar respostas � pegar amostras de sangue de pessoas vacinadas (ou recuperadas da covid) e ver no laborat�rio como as c�lulas imunes delas reagem ao �micron.

"Essa estrat�gia nos d� uma ideia se os anticorpos conseguem neutralizar a nova variante de uma maneira parecida ao que acontecia com as outras vers�es anteriores do coronav�rus", explica Kalil Filho.

"Outra maneira de conferir essa eventual perda de efetividade das vacinas � observar o que acontece nos lugares onde a �micron circula com mais intensidade. Ser� preciso acompanhar a popula��o, fazer testes de diagn�stico, ver quantas pessoas ficaram doentes, quantas tiveram quadros mais graves e quantas estavam vacinadas", continua o especialista.

"A partir da�, � poss�vel fazer c�lculos estat�sticos para determinar o tamanho do problema", completa.

Cientista trabalhando
V�rios grupos de pesquisa est�o tentando entender como a variante �micron afeta a efetividade das vacinas (foto: Getty Images)

Outra etapa mais complexa � entender como ficar�o outros aspectos importantes da imunidade que n�o dependem necessariamente dos anticorpos, como a atua��o dos linf�citos T, uma unidade de defesa que destr�i as c�lulas infectadas pelo coronav�rus.

Boa parte dessas investiga��es j� est� em curso, sob a lideran�a das pr�prias farmac�uticas e de grupos de estudos independentes. A expectativa � que os primeiros resultados saiam at� a pr�xima semana.

At� agora, todas as novas vers�es do v�rus que causaram maior preocupa��o (alfa, beta, gama e delta) continuam a ser barradas pelas vacinas. "Os dados de vida real nos mostram um bom n�vel de prote��o contra essas variantes", informa a imunologista Cristina Bonorino, da Universidade Federal de Ci�ncias da Sa�de de Porto Alegre.

"O grande problema � que, se continuarmos nessa situa��o de n�o vacinar grande parte do mundo, como os pa�ses mais pobres da �frica e da �sia, uma hora ou outra vai surgir uma nova variante com muta��es que conseguem escapar totalmente das vacinas", alerta a especialista, que tamb�m integra a Sociedade Brasileira de Imunologia.

"Estamos diante de um problema global cujas solu��es s�o pensadas de maneira local. Assim fica dif�cil acabar com a pandemia", critica.

O que ser� feito na sequ�ncia?

Vamos supor que essas pesquisas em andamento mostrem que a realidade se aproxima do cen�rio 2 (perda da imunidade, mas ainda com um n�vel suficiente de prote��o contra as formas mais graves da covid).

Nesse caso, os especialistas podem indicar, por exemplo, uma dose extra das vacinas j� dispon�veis. H� diversos estudos mostrando que esse booster, como � conhecido o refor�o em ingl�s, aumenta os n�veis de anticorpos contra o coronav�rus.

A terceira dose, ali�s, j� est� sendo aplicada de rotina nos pa�ses com a campanha de vacina��o mais avan�ada, como � o caso do Brasil.

Agora, se o cen�rio 3 se concretizar (perda grande da imunidade e muita gente vulner�vel), a situa��o fica um pouco mais complicada: pode ser necess�rio desenvolver novos imunizantes que consigam barrar especificamente a �micron.

Farmac�uticas como Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen, inclusive, anunciaram nos �ltimos dias que est�o desenvolvendo novas vers�es de seus produtos para contemplar a nova variante.

A Pfizer anunciou que conseguiria desenvolver um novo produto em cerca de 100 dias. J� a Moderna calcula que levaria "alguns meses" para ter uma vers�o atualizada de seu imunizante.

Vacina
O desenvolvimento de novas vers�es das vacinas de mRNA e vetor viral n�o � t�o dif�cil, do ponto de vista t�cnico (foto: Getty Images)

Em tese, a parte t�cnica desse processo nem � t�o complicada assim: tanto nas vacinas de mRNA (Pfizer e Moderna) quanto nas de vetor viral (AstraZeneca e Janssen), basta trocar aquele c�digo gen�tico que "ensina" nossas c�lulas a fabricar a prote�na S por uma vers�o mais aproximada ao que se observa na �micron.

Ou seja: na mais otimista das hip�teses, todo esse processo demoraria por volta de seis meses para ser finalizado, segundo os pr�prios c�lculos dos laborat�rios.

"O desafio maior vem a seguir: fabricar, distribuir e vacinar todo o mundo, num momento em que a maioria da popula��o global ainda n�o recebeu suas doses", aponta Bonorino.

Segundo a imunologista, a adapta��o e a atualiza��o das vacinas n�o exigiria longos testes cl�nicos, como aconteceu para a aprova��o da primeira leva de imunizantes entre o final de 2020 e o in�cio de 2021.

"� mais ou menos o que acontece com a vacina��o contra a gripe, em que temos altera��es no produto utilizado a cada ano de acordo com as cepas do v�rus influenza que circulam com mais intensidade naquele momento", exemplifica.

Esse processo, claro, exigiria toda uma discuss�o entre os especialistas e a cria��o de regras regulat�rias que ainda n�o existem at� agora, pois a covid-19 � uma doen�a relativamente nova.

�rg�os como a Anvisa no Brasil e o FDA nos Estados Unidos precisam definir essas normas e como seria feita essa mudan�a dos produtos, caso isso se mostre realmente necess�rio.

O que fazer at� l�?

N�o custa refor�ar: por enquanto, falamos apenas de cen�rios hipot�ticos. N�o se sabe se a �micron realmente escapa da imunidade e se haver� necessidade de criar novas vacinas.

Portanto, � vital que a campanha de vacina��o contra a covid-19 continue a evoluir e que todo mundo receba as suas doses no momento indicado. O recado vale inclusive para a terceira aplica��o em todos os adultos, como anunciado pelo Minist�rio da Sa�de em novembro.

Em rela��o a isso, n�o h� d�vidas entre os especialistas: os imunizantes em uso s�o efetivos e oferecem prote��o, especialmente contra as formas mais graves da covid-19.

E, mesmo se a �micron se mostrar realmente uma p�ssima not�cia, as demais formas de preven��o continuar�o a funcionar contra ela: o uso de m�scaras de boa qualidade, o cuidado com as aglomera��es, a lavagem de m�os e circula��o de ar pelos ambientes seguem como recomenda��es b�sicas para diminuir o risco de transmiss�o e infec��o com o coronav�rus.


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