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Estado de Minas BBC

5 dados que mostram como brasileiros ricos passam bem pela pandemia

Recorde nas vendas da Porsche, fila para compra de helic�pteros. Com viagens internacionais restritas, o chamado andar de cima faz 'poupan�a for�ada' e gasta em luxos no mercado nacional.


21/01/2022 21:14 - atualizado 21/01/2022 21:14

Casal brindando com champanhe em avião particular
Recorde nas vendas da Porsche, fila para compra de helic�pteros. Com viagens internacionais restritas, o andar de cima faz 'poupan�a for�ada' e gasta em luxos no mercado nacional (foto: Getty Images)
Eles representam cerca de 2% da popula��o brasileira, mas seus gastos s�o equivalentes a quase 20% do consumo nacional.

 

Em meio � pandemia, enquanto a maior parte do pa�s sofria com perda de renda, em meio ao avan�o do desemprego e da infla��o, os brasileiros mais ricos se viram impedidos de gastar em viagens internacionais e em compras nas principais capitais do consumo do mundo.

Com uma "poupan�a for�ada" pela mudan�a de h�bitos, eles gastaram em luxos no mercado nacional e investiram volume recorde de dinheiro no exterior.

 

Assim, enquanto parte da popula��o fazia fila para receber ossos no a�ougue, em meio aos pre�os recordes da carne e ao avan�o da fome, outra parcela — bem menor — aguardava na fila para comprar um helic�ptero.

 

Segundo um fabricante ouvido pela BBC News Brasil, a espera por uma aeronave nova chegou a 20 meses, dependendo do modelo, em meio a um salto de demanda.

 

A fabricante de carros de luxo Porsche bateu recordes de vendas no pa�s em 2020 e 2021, enquanto o setor imobili�rio de luxo e super luxo — de apartamentos acima de R$ 1 milh�o e R$ 2 milh�es, respectivamente — registrou um crescimento de mais de 80% nos lan�amentos e de 47% nas vendas.

 

Confira esses e outros dados que mostram como o "andar de cima" est� passando muito bem pela pandemia.

2% da popula��o, 20% do consumo

Segundo a empresa de pesquisa de mercado Euromonitor, a chamada "classe A" brasileira representava 2% da popula��o em 2021.

 

S�o pessoas com renda familiar anual acima de US$ 45 mil (R$ 248 mil ao ano ou cerca de R$ 21 mil por m�s, ao c�mbio atual), cujos gastos equivaleram no ano passado a 19,4% do consumo nacional.


Mulher glamorosa bebendo champanhe ao lado de veículos
Classe A representava 2% da popula��o brasileira em 2021. S�o pessoas com renda familiar anual acima de US$ 45 mil, pelo crit�rio da Euromonitor (foto: Getty Images)

Embora a classe A tenha diminu�do ap�s dois anos de pandemia (ela representava 2,7% da popula��o em 2019, segundo a Euromonitor), o consumo dessa parcela de maior renda foi bem menos afetado pela crise sanit�ria do que o restante da popula��o.

 

"Os consumidores ricos acumularam reservas involunt�rias importantes por conta das op��es de lazer reduzidas e das limita��es sociais impostas pela pandemia", observa Guilherme Machado, gerente de pesquisa da Euromonitor International.

 

"A maioria dos brasileiros desses grupos de maior renda est� acostumada a viajar para o exterior e comprar itens de luxo nos principais centros globais de consumo, como Nova York, Paris e Londres. Mas, com o fechamento de fronteiras, esses consumidores t�m buscado o prazer no mercado de luxo local, resultando em n�veis de faturamento sem precedentes para algumas marcas de luxo", destaca o pesquisador.

Porsche bate recorde de vendas no Brasil em 2020 e 2021

Uma dessas marcas foi a Porsche. Enquanto a venda de autom�veis de passageiros em geral no Brasil despencou 28% em 2020 e caiu mais 3,6% em 2021, em meio a paradas de produ��o provocadas por uma escassez global de semicondutores, a marca de luxo bateu recordes de vendas no pa�s nos dois anos da pandemia.


Porsche 911 Carrera S (2018)
Porsche vendeu 3.079 ve�culos no Brasil em 2021, alta de 24% em rela��o a 2020 e recorde para a marca (foto: Divulga��o/Porsche)

Os compradores t�m enfrentado filas de espera superiores aos 3 a 6 meses normalmente necess�rios para a customiza��o dos carros que s�o sin�nimo de ostenta��o.

 

"Em 2021, n�s vendemos 3.079 ve�culos aqui no Brasil, um crescimento de 24% em rela��o a 2020, quando hav�amos vendido 2.487 unidades", conta Leandro Rodrigues, gerente comunica��o e rela��es p�blicas da Porsche no Brasil.

 

"2020 era o nosso recorde anterior, batemos recordes em 2020 e 2021", destaca, lembrando que a empresa passou a operar diretamente no Brasil em 2015 e tem crescido a uma m�dia de 27% ao ano desde ent�o. A trajet�ria de alta n�o foi abalada pela pandemia.

 

"Quando voc� tem clientes que tinham uma parcela grande de consumo no exterior e de repente esse consumo n�o acontece, naturalmente eles t�m recursos dispon�veis para a compra de produtos aqui no Brasil", avalia Rodrigues.

 

O executivo destaca ainda as restri��es de op��es de lazer mesmo dentro do pa�s como outro fator que explica o impulso nas vendas.

 

"Naturalmente, alguns clientes buscaram outras maneiras de se manterem entretidos e realizarem seus sonhos e suas vontades. Isso s�o fatores que ajudam a explicar essa demanda", conclui o executivo.

 

Os consumidores n�o se abalaram nem com o efeito do c�mbio sobre o pre�o dos carros. Com f�brica na Alemanha, a opera��o da Porsche no Brasil foi impactada pela valoriza��o de 40% do euro em rela��o ao real desde o per�odo anterior � pandemia.

 

"Parte dessa alta precisou ser repassada aos pre�os", diz o porta-voz. O Porsche 911, modelo mais vendido pela montadora, tem valores que variam de R$ 800 mil a mais de R$ 1 milh�o.

Espera para compra de helic�pteros chega a 20 meses

Em meio a um salto de demanda, o mercado brasileiro de helic�pteros e jatos executivos viu a fila de espera pelos produtos chegar a at� 20 meses durante a pandemia.

 

"O mercado vinha represado h� um tempo devido aos problemas econ�micos brasileiros. Com o advento da covid e do lockdown, houve uma demanda maior, principalmente em helic�pteros na �rea VIP e o que chamamos de 'para p�blico', como pol�cia e bombeiros", diz Rubens Cortellazzo, gerente de vendas da fabricante italiana Leonardo Helic�pteros.


Casal e piloto em frente a um helicóptero
'Com o advento da covid e do lockdown, houve uma demanda maior, principalmente em helic�pteros na �rea VIP', diz executivo da fabricante italiana Leonardo Helic�pteros (foto: Getty Images)

"�rea VIP s�o operadores civis, como empresas de grande porte, empres�rios e t�xi a�reo", explica o executivo, sobre o sentido no mercado de helic�pteros da sigla que em ingl�s quer dizer "very important person" (pessoa muito importante, em portugu�s).

 

Segundo Cortellazzo, as vendas para o segmento privado foram impulsionadas pelo medo de cont�gio e pela redu��o na oferta de voos comerciais durante a pandemia.

 

Conforme o executivo, o mercado brasileiro civil de helic�pteros monoturbina e biturbina de m�dio porte cresceu 26% em n�mero de entregas em 2021, em rela��o a 2020.

 

"Muitos clientes ficaram com recursos represados. Com a restri��o de viagens internacionais e o medo da pandemia, houve mais apetite para investir em equipamentos para utilizar no mercado local", conta o gerente.

 

"A espera para compra, que antes era de 12 meses, chegou a 15 ou 16 meses, dependendo do modelo. Tem modelo em que estamos falando j� em 20 meses de espera."

 

Cortellazzo diz que os compradores usam os helic�pteros principalmente para trabalho.

 

"A gente brinca que o helic�ptero � uma 'm�quina do tempo'. Voc� economiza muito tempo no deslocamento de uma reuni�o para outra, de S�o Paulo para o interior, de uma capital a outra. Ent�o o helic�ptero � uma ferramenta muito interessante para esses empres�rios."

 

A aeronave de entrada da Leonardo (isto �, seu modelo mais b�sico), chamada AW119 Koala, tem pre�o m�dio de 4,3 milh�es euros (cerca de R$ 27 milh�es).

 

Para o mercado VIP, que vai at� aeronaves de m�dio porte, o valor pode chegar a 15 milh�es de euros (cerca de R$ 94 milh�es).

Mercado imobili�rio de luxo cresce 81% em lan�amentos

As vendas de apartamentos de luxo e super luxo bateram recorde nos primeiros nove meses de 2021.

 

S�o empreendimentos com tr�s ou quatro su�tes, metragens amplas acima dos 100 m², janelas e p�s direitos generosos e grande n�mero de vagas na garagem.


Sala ampla de um imóvel de alto padrão com grandes janelas
Vendas de apartamentos de luxo e super luxo bateram recorde nos primeiros nove meses de 2021 (foto: Getty Images)

Em janeiro e setembro do ano passado, os lan�amentos neste mercado chegaram a 7,6 mil unidades, alta de 81% em rela��o a igual per�odo de 2020.

 

No mercado imobili�rio brasileiro em geral, os lan�amentos cresceram 30% na mesma base de compara��o.

 

Em vendas, o avan�o do mercado de luxo e super luxo foi de 47% nos nove primeiros meses de 2021, com mais de 10 mil unidades comercializadas, superando R$ 15,4 bilh�es em valor geral de vendas, segundo dados da Brain Intelig�ncia Estrat�gica, consultoria especializada no mercado imobili�rio.

 

Para Marcos Kahtalian, s�cio fundador da Brain, um dos fatores que impulsionou as vendas no mercado imobili�rio de alto padr�o no per�odo recente foi a taxa de juros em n�vel baixo — a Selic (a taxa b�sica, determinada pelo Banco Central) come�ou 2021 em 2%, menor percentual da hist�ria.

 

"Isso injetou uma grande liquidez no mercado e atraiu recursos ao setor imobili�rio, j� que outros investimentos estavam com retornos muito baixos", diz Kahtalian.

 

"Outro fator, foi comportamental: em fun��o da pandemia, houve uma busca intensa — para aquelas pessoas que tinham renda, evidentemente — por moradias maiores, mais amplas, mais confort�veis, tanto nas capitais, quanto fora delas. Houve um movimento em busca de espa�o e qualidade", observa o consultor.

 

S�o Paulo e Rio de Janeiro s�o os dois principais mercados para os empreendimentos de luxo, com destaque para bairros como Jardins, Vila Nova Concei��o e Moema na capital paulista e Zona Sul e Barra da Tijuca na metr�pole fluminense.

 

Nas cidades do interior, se destaca a busca por empreendimentos horizontais, como condom�nios de lotes ou condom�nios fechados de casas de alto padr�o.

Em 2022, a alta de juros pode desacelerar um pouco esse mercado, acredita Kahtalian.

 

"Para o mercado de luxo, a alta de juros faz menos diferen�a do que para a classe m�dia, mas faz alguma diferen�a", diz o consultor.

 

"Faz menos diferen�a porque normalmente o comprador n�o financia o im�vel, ou financia pouco. Mas faz alguma diferen�a porque h� uma atratividade para o capital ser investido de outra forma", afirma, citando como exemplo os investimentos de renda fixa, como t�tulos p�blicos, que t�m baixo risco e se tornam mais interessantes com a Selic pr�xima dos 10%.

 

Tamb�m esse ano, devido � forte alta recente dos pre�os no mercado imobili�rio, a defini��o de luxo e super luxo deve ser revista, subindo para empreendimentos a partir de R$ 1,5 milh�o e R$ 3 milh�es, respectivamente.

 

"O mercado de luxo e super luxo � pouco representativo em unidades — cerca de 7% do total nos �ltimos nove meses. Mas � mais ou menos 33% do valor lan�ado e 40% do valor total vendido. Ou seja, � um mercado de menos volume, mas de muito valor", diz o s�cio da Brain.

Investimento financeiro brasileiro no exterior � recorde

Por fim, um �ltimo dado que mostra como o chamado andar de cima passou com tranquilidade pela pandemia vem do mercado financeiro.

 

Segundo dados do Banco Central, o investimento financeiro brasileiro no exterior superou os US$ 18 bilh�es (R$ 100 bilh�es) entre janeiro e novembro do ano passado, alta de 76% em rela��o a igual per�odo de 2020 e recorde da s�rie hist�rica iniciada em 1995.

 

Conforme Claudia Yoshinaga, coordenadora do Centro de Estudos em Finan�as da FGV (Funda��o Getulio Vargas), isso se deve � maior facilidade atual para investir em produtos internacionais e � forte alta recente do d�lar em rela��o ao real, que leva investidores a buscarem a seguran�a de ter parte do seu dinheiro fora dos riscos da economia brasileira.

 

"Esse tipo de investimento se popularizou de alguma maneira, saiu daquele cliente 'private' com milh�es de reais. Mas ainda n�o � um produto que qualquer brasileiro tem, estamos falando das camadas mais ricas, de um segmento de varejo de alta renda", diz a professora.

 

"� um p�blico que tem o d�lar como uma moeda importante no seu dia a dia, em viagens de f�rias ou h�bitos de consumo atrelados ao d�lar, como itens de luxo e vinhos. Ent�o, para essas pessoas, ter uma parte do seu investimento em moeda forte ajuda, como uma forma de diversificar e de se proteger de altas de pre�os", observa a especialista em finan�as.

 

"S�o pessoas que em sua maioria n�o perderam renda na pandemia e reduziram suas despesas, porque gastam muito com restaurantes, entretenimento e viagens de f�rias no exterior. Com o distanciamento, essas pessoas conseguiram guardar mais dinheiro."

 

Para Yoshinaga, apesar de a alta do d�lar deixar os investimentos no exterior mais caros e a alta de juros no Brasil tornar os investimentos locais mais atrativos, a volatilidade do ano eleitoral deve continuar estimulando brasileiros a buscar investimentos no exterior, como uma forma de diminuir sua depend�ncia do que acontece na economia nacional.

 

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