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Vacina contra a hepatite B cont�m �xido de grafeno e 'envenena'?

O grafeno � um nanomaterial que tem sido alvo de v�rias teorias da conspira��o relacionadas � covid-19 e �s vacinas desde 2021. Em um v�deo visualizado milhares de vezes nas redes sociais desde junho de 2023, uma odontologista assegura ter encontrado a subst�ncia na vacina contra a hepatite B e, para 'provar', utiliza t�cnicas e equipamentos que, na realidade, n�o servem para detectar o grafeno. Al�m disso, o imunizante contra a hepatite B n�o cont�m esse material, � segura e altamente efetiva para prevenir a doen�a.


19/06/2023 10:47 - atualizado 21/06/2023 08:57
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O grafeno � um nanomaterial que tem sido alvo de v�rias teorias da conspira��o relacionadas � covid-19 e �s vacinas desde 2021. Em um v�deo visualizado milhares de vezes nas redes sociais desde junho de 2023, uma odontologista assegura ter encontrado a subst�ncia na vacina contra a hepatite B e, para 'provar', utiliza t�cnicas e equipamentos que, na realidade, n�o servem para detectar o grafeno. Al�m disso, o imunizante contra a hepatite B n�o cont�m esse material, � segura e altamente efetiva para prevenir a doen�a.

'VACINA DA HEPATITE COM �XIDO DE GRAFENO.QUAL SERIA A INTEN��O DE ENVENENAR A HUMANIDADE?', diz a legenda de uma das publica��es que circula no Facebook, no Twitter, no Instagram, no TikTok e no Kwai. O conte�do tamb�m foi compartilhado em ingl�s, croata e espanhol.

O v�deo foi encaminhado ao WhatsApp do AFP Checamos, para onde os usu�rios podem enviar conte�dos vistos em redes sociais, se duvidarem de sua veracidade.

Segurando um frasco em que afirma conter uma vacina contra a hepatite B, a mulher, que se identifica como a odontologista Liliana Zelada, adverte que sob o microsc�pio encontrar� �xido de grafeno, 'como temos encontrado em todas as vacinas do calend�rio, nas vacinas da covid-19 e nos injet�veis'. Depois, conclui que ningu�m pode obrigar a popula��o a injetar um material 'que tem um veneno dentro'.

Localizada no que parece ser uma sala de jantar, a odontologista executa o seu teste sobre uma mesa usando luvas, um microsc�pio b�sico e apoiando a l�mina com a amostra diretamente sobre a superf�cie de uma toalha de mesa.

Captura de tela feita em 16 de junho de 2023 de uma publicação no Twitter
Captura de tela feita em 16 de junho de 2023 de uma publica��o no Twitter

O grafeno e seu derivado, o �xido de grafeno, s�o nanomateriais � base de carbono que t�m m�ltiplas aplica��es e s�o acusados nas redes sociais, desde 2021, de serem letais e estarem presentes nos swabs de testes PCR, nos conservantes de semente de girassol e tamb�m nas vacinas contra a covid-19, sendo supostamente respons�veis por 'magnetizar' as pessoas, 'control�-las', ou mat�-las.

O AFP Checamos j� verificou alega��es semelhantes (1, 2).

T�cnica de observa��o inadequada

Uma busca por imagens do instrumento utilizado no v�deo viral revelou que se trata de um microsc�pio �ptico da marca Starware. De acordo com o fabricante, � 'ideal para estudos e pequenos empreendimentos'.

Omar Troncoso, pesquisador de Pol�meros e Materiais Compostos da Pontif�cia Universidade Cat�lica do Peru, afirmou � AFP por e-mail que 'o grafeno e os materiais dessa fam�lia n�o s�o observados por microsc�pios �pticos porque as suas dimens�es s�o muito reduzidas'.

O especialista indicou que 'a microscopia s� mostra uma imagem; � uma parte da an�lise. Mas a presen�a de grafeno teria que ser corroborada por outras t�cnicas como Raman, ou resson�ncia magn�tica nuclear'.

Em sua an�lise do v�deo de Zelada, Troncoso disse que 'n�o � poss�vel' com o equipamento, o material e a t�cnica demonstrada identificar part�culas de grafeno em uma solu��o, como na vacina contra a hepatite.

'Usar um microsc�pio para fazer essa den�ncia [sobre a suposta presen�a de grafeno em vacinas] n�o se sustenta', explicou.

O v�deo de Zelada, sobre supostos riscos da imuniza��o contra a hepatite B, repete falhas de procedimentos observados por especialistas em outras publica��es da odontologista nas redes sociais (1, 2, 3).

Em uma verifica��o de agosto de 2022, a doutora em Qu�mica argentina Mar�a Celeste Dalfovo, especializada em nanomateriais, explicou � AFP que Zelada comete erros ao manipular as amostras e usa um dispositivo incapaz de detectar o grafeno.

'Com uma imagem microsc�pica �ptica convencional � imposs�vel saber ou definir a composi��o qu�mica do que se est� observando', disse.

'Um microsc�pio simplesmente amplia o tamanho de algo. Mas se n�o for utilizada a chamada t�cnica Raman, n�o se pode determinar que o que se est� vendo � grafeno', assegurou Dalfovo.

O Instituto de Pesquisas em F�sico-Qu�mica da Universidade Nacional de C�rdoba (UNC), da Argentina, conta com um microsc�pio confocal Raman, equipamento que Dalfovo utilizou durante sua tese de doutorado e cujo funcionamento � explicado no v�deo a seguir:

A especialista acrescentou que esta foi a t�cnica empregada pelos pesquisadores Andre Geim e Konstantin Novoselov, que receberam o pr�mio Nobel de F�sica em 2010 por terem isolado o grafeno.

'Se uma pessoa que disse ter observado grafeno n�o utilizou esta t�cnica, o que ela diz n�o tem sentido', concluiu Dalfovo.

Artefatos

Em outra verifica��o da AFP em espanhol em que supostos pesquisadores tamb�m 'descobrem' grafeno por meio de um microsc�pio, o pesquisador argentino Jorge Montanari, especializado em nanotecnologia aplicada � sa�de, indicou que o que viam eram, na realidade, os chamados 'artefatos' — 'objetos com forma que simplesmente s�o sujeiras ou bolhas que se somam aos efeitos refrat�rios normais da luz que os atravessa'.

De acordo com outra especialista consultada pela AFP, Leila Ascariz, t�cnica do laborat�rio do Servi�o Galego de Sa�de (Sergas), na Espanha, tudo o que se v� nos v�deos de Zelada s�o artefatos. 'Nunca vi uma amostra t�o suja', acrescentou.

O que h� na vacina contra a hepatite?

As principais cepas do v�rus da hepatite s�o as do tipo A, B, C, D e E. Mesmo todas causando a doen�a hep�tica, elas se diferenciam nos modos de transmiss�o, na gravidade, na distribui��o geogr�fica e nos m�todos de preven��o e tratamento.

De acordo com dados da Organiza��o Mundial da Sa�de (OMS), 325 milh�es de pessoas sofrem de hepatite B ou C em todo o mundo, e esses tipos s�o a causa mais comum de disfun��es relacionadas � cirrose hep�tica, ao c�ncer e � hepatite viral. As hepatites A e B podem ser prevenidas com vacinas.

A vacina contra a hepatite B utiliza uma prote�na do v�rus para gerar uma resposta imunol�gica, explica o Departamento de Sa�de e Servi�os Humanos dos Estados Unidos. Outras vacinas de caracter�sticas similares s�o as de herpes z�ster, coqueluche e HPV.

A vacina � aplicada comumente em mais de uma dose, e seus efeitos colaterais podem ser 'dor no local da inje��o, febre, dor de cabe�a e fadiga', informam os Centros de Controle e Preven��o de Doen�as (CDC) dos Estados Unidos.

A Organiza��o Pan-Americana da Sa�de (Opas) afirma que 'a vacina oferece uma prote��o de 95-100%' contra a hepatite B, e ajuda a prevenir a infec��o que causa 'complica��es, como doen�as cr�nicas e c�ncer de f�gado'.

A maioria das pessoas vacinadas contra a hepatite B s�o imunes por toda a vida. N�o h� registro algum de que nessas vacinas j� tenham detectado rastros de grafeno, ou de �xido de grafeno, nem efeitos nocivos em pessoas imunizadas atribu�dos a esse nanomaterial.

O grafeno, um veneno?

O impacto do grafeno na sa�de humana � constantemente alvo de estudos. Relat�rios publicados na Graphene Flagship a partir de distintas pesquisas t�m descoberto que a exposi��o ocupacional em longo prazo ao grafeno � segura para os pulm�es e tem uma baixa toxicidade para a pele.

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