
Como est� a sua situa��o em Te�filo Otoni?
Estou na comarca h� seis anos. De l� para c�, julgamos muitos integrantes de crime organizado, ligados ao tr�fico de drogas. Te�filo Otoni � uma cidade que fica entre duas fronteiras: Esp�rito Santo e Bahia. � rota do tr�fico de droga. Implantamos um sistema novo de investiga��o na regi�o e dezenas de pessoas foram condenadas. Como estou h� um bom tempo na mesma vara criminal, numa cidade que n�o � t�o grande, h� uma exposi��o natural. Todo mundo sabe quem � o juiz criminal. O que a gente ouve � que isso (o plano de execut�-lo) ocorreu pelo rigor das puni��es. Sou conhecido como juiz linha dura. N�o me considero juiz linha dura. Sou justo, dentro do que a lei possibilita.
O senhor chegou a ser amea�ado?
N�o. Isso � o mais preocupante. Porque muitos colegas podem estar na mesma situa��o e n�o sabem que est�o correndo esse perigo.
Como ficou sua rotina?
Assim que surgiu o boato, pedi para se apurar imediatamente. A Pol�cia Civil e a Corregedoria de Justi�a entraram no caso, investigando e me dando o suporte necess�rio, como escolta. Deve ter uns 50 dias que descobri e meu dia a dia mudou. A rotina ficou limitada. A falta de tranquilidade e a neurose s�o muito acentuadas. Tenho fam�lia e esse � outro problema, uma vez que o Estado n�o disp�e de meios para assegurar preserva��o da fam�lia. A gente tem sa�do mais, evitando ficar na cidade.
E o medo de morrer?
As autoridades, em geral, t�m tend�ncia a acreditar que ningu�m seria capaz de atacar o Estado desse modo. Mas a gente s� tem certeza do que uma pessoa � capaz quando acontecem essas atrocidades, como no caso da ju�za no Rio de Janeiro. No nosso �ntimo, a gente n�o sabe do que as pessoas s�o capazes. N�s, juizes, n�o acreditamos que a nossa profiss�o � arriscada.
O senhor pediu para ser transferido de Te�filo Otoni?
Ainda n�o refleti a respeito disso, mas acredito que n�o. Acho que devo continuar a trabalhar da mesma forma que venho trabalhando. Isso seria deixar o crime atingir seu objetivo. Talvez o objetivo n�o fosse exterminar o juiz, mas fazer com que ele deixasse a comarca por ser, em tese, mais rigoroso.
O senhor sugere alguma solu��o para evitar essa situa��o?
J� ouvi pelo menos dois debates a respeito. O primeiro � a figura do juiz oculto, como aconteceu na Col�mbia, em que a senten�a � feita por um magistrado e quem recebeu a senten�a n�o sabe quem � o juiz. E a outra alternativa seria o julgamento colegiado, por mais de um juiz, como ocorre nos tribunais em geral, como � o Tribunal do J�ri. � um julgamento com sete pessoas e � imposs�vel saber quem condenou e quem absolveu. Outra alternativa �, se for considerada a legisla��o, a amea�a a qualquer pessoa tem uma puni��o que chega a ser irrelevante. � considerado crime de baixo potencial ofensivo: a puni��o vai at� 6 meses de deten��o ou multa. O legislador tinha de trabalhar para punir com muito rigor esse tipo de crime.