Inc�ndio, fuma�a, confus�o, sufoco, gritos, desespero e morte em poucos minutos. Sobreviventes testemunharam momentos de horror na casa noturna Kiss, em Santa Maria. Sem saber ao certo o que acontecia, eles se viram em meio a uma correria generalizada, at� que os primeiros gritos de “fogo, fogo” intensificaram o p�nico. Mas para muitos era tarde demais. Em segundos, o fogo se alastrou e a fuma�a t�xica tomou conta de todo o espa�o da boate, matando por asfixia.
“Quando soltaram o primeiro (grito de) ‘fogo’, sa� de perto do palco. Cheguei perto dos banheiros e s� consegui escapar porque me puxaram. Fui engatinhando at� a sa�da, com pessoas passando por cima”, relatou a universit�ria Shelen Rossi, de 19 anos, que, apesar de ter tido alta do hospital, permanecia com irrita��o na garganta e nos olhos.
N�o bastasse o p�nico, os visitantes enfrentaram uma s�rie de obst�culos que dificultaram a sa�da. Primeiro, relatos apontam que os seguran�as travaram a porta para evitar que as pessoas sa�ssem sem pagar. Outro ponto cr�tico � que os banheiros foram confundidos com a sa�da. Neles foram encontrados corpos empilhados. Para piorar, quem conseguia se aproximar da porta tinha pela frente uma fila de desesperados que eram barrados por grades met�licas usadas para formar filas do lado de fora. Quando os objetos foram derrubados, dezenas de pessoas ca�ram e acabaram pisoteadas.
Os �nicos que conseguiram escapar do inc�ndio com mais rapidez foram os ocupantes da �rea VIP, que ficava perto da sa�da da boate. Muitos sa�ram s� com as roupas �ntimas para evitar o fogo. “Algumas pessoas tentaram voltar para pegar mais gente l� dentro, mas tinha muita fuma�a e n�o dava para enxergar mais ningu�m. A gente puxava as pessoas pelo cabelo, pela roupa, muita gente sa�a s� de calcinha e cueca”, disse o sobrevivente Murilo de Toledo Tiecher, de 26 anos.
Por conhecer bem a casa, onde trabalha h� seis meses, o DJ Bolinha, nome de trabalho de Lucas Cauduro, logo se deslocou para a sa�da, mas mesmo assim foi pisoteado. Ele estava perto do vocalista da banda Gurizada Fandangueira e viu o momento em que o inc�ndio come�ou e a tentativa desesperada do pr�prio vocalista de apagar as chamas com um extintor. “S�o cenas que a gente n�o vai esquecer. Foi muito r�pido. Em cerca de 20 segundos surgiu uma fuma�a preta e deixou uma escurid�o total. Eu respirei um pouco e fiquei tonto. Tentei sair e s� consegui porque conhecia a casa”, conta ele.
Depoimentos
Ezequiel Real
professor de educa��o f�sica
“Era um mar de gente atirada. Sa� pela lateral, empurrando e pisando em muita gente. N�o ouvi alarme soando, s� gritos; n�o vi luz de sa�da, s� fuma�a. Quando sa�, me passaram pela cabe�a as pessoas que passei por cima e voltei para retir�-las, pois n�o aguentei escutar berros, ver policiais e bombeiros sem dar conta. Tinha muita gente empilhada.”
Jonathas Castilhos
um dos primeiros a deixar a boate
“Dei sorte, estava perto da sa�da quando vi que come�ou o inc�ndio. Mesmo assim, os seguran�as trancaram porque queriam as comandas. Eles abriram, mas ficou mais ou menos um minuto e meio trancado.”
Lucas Culau
estudante do Centro Universit�rio Franciscano (Santa Maria)
“Quando a banda Gurizada Fandangueira come�ou a tocar, utilizou um sinalizador apontado para cima e na metade da m�sica come�ou a pegar fogo no teto.”
Kellen Rebello
21 anos, estudante de farm�cia da UFSC, de f�rias em Santa Maria
“Vimos a fuma�a branca na casa, mas em pouqu�ssimo tempo come�ou o pior. Logo vi os corpos no ch�o, mas eu acreditava que aquelas pessoas ainda poderiam estar vivas.”
Fernanda Freire Gomes Bona
23 anos, fot�grafa oficial da boate
“Vi umas fa�scas, mas achei que eram apenas os foguinhos da luva (do integrante da banda). Vi uma gritaria, achei que fosse alguma briga. Foi quando gritaram ‘fogo’, vi as pessoas correndo, vi a fuma�a e sa� correndo.”
Michele Pereira
auxiliar de escrit�rio
“Vi muita gente sendo pisoteada no desespero para sair de l� e acabei cortando o joelho. Foi terr�vel, cena de filme de horror. Corpos ca�dos pelo ch�o, gente desmaiada, chorando, tentando respirar, porque a fuma�a era muita.”