Quatro dias depois da trag�dia em Santa Maria (RS), onde 235 jovens morreram em um inc�ndio na Boate Kiss, o advogado Jader Marques, defensor de um dos s�cios da casa, Elissandro Spohr, o Kiko, confirmou que foram vendidos mais convites do que a capacidade do local. Segundo Marques, foram colocados � venda 850 ingressos, sendo que 700 foram entregues aos universit�rios que promoveram a festa, apesar de a capacidade da danceteria ser de apenas 691 lugares. Marques garantiu, no entanto, que n�o havia mais de 650 pessoas na boate no momento do inc�ndio. Ontem, o Minist�rio P�blico estadual anunciou que tamb�m instaurou inqu�rito para apurar as responsabilidades c�veis sobre a trag�dia, independentemente da �rea criminal, o que deve se estender � atua��o do Corpo de Bombeiros, acusado pela Prefeitura de Santa Maria e por Jader Marques de neglig�ncia na vistoria e concess�o do alvar� de funcionamento.
Depoimento do barman da boate, �rico Paulo Garcia, complicou ainda mais a situa��o dos s�cios da casa, Mauro Hoffmann e Kiko Spohr, que est�o presos temporariamente desde segunda-feira. Apesar de Hoffmann negar que tivesse responsabilidade na administra��o, o barman afirmou que os dois davam ordens. “Eles eram donos”, declarou �rico. De acordo com o funcion�rio, que trabalhava havuia tr�s anos na danceteria, as luzes de emerg�ncia do local estavam funcionando perfeitamente, mas que a cor escura da fuma�a impediu a visualiza��o da sa�da. “A fuma�a se espalhou muito r�pido e em 10 e 15 segundos j� tinha gente passando muito mal”, contou. �rico conseguiu sair rapidamente e ajudou no resgate aos sobreviventes. Ap�s algumas horas, o barman se sentiu mal e foi internado, mas j� recebeu alta. Rebatendo as conclus�es preliminares da pol�cia, o advogado Jader Marques garantiu que a Boate Kiss tinha condi��es de funcionar e a documenta��o da casa estava regular.
O delegado regional da Pol�cia Civil, Marcelo Arigony, que coordena as investiga��es, disse j� ter certeza de que o funcionamento do estabelecimento era irregular. Segundo ele, uma s�rie de circunst�ncias possibilitaria “at� a uma crian�a” concluir que a casa n�o deveria estar funcionando. Arigony disse ainda que as investiga��es iniciais apontam a exist�ncia de irregularidades nos extintores, na ilumina��o do banheiro, na largura da porta, na disposi��o da casa e na lota��o do estabelecimento. O promotor C�sar Carlan, que tamb�m acompanha o inqu�rito, esclareceu que os elementos de prova produzidos pela pol�cia ser�o �teis para o inqu�rito civil instaurado pela Procuradoria Geral de Justi�a.
O advogado do s�cio da boate admitiu que o licenciamento dos bombeiros estava vencido desde agosto, mas, em outubro, a casa pagou a taxa para pedido de renova��o. “A casa aguardava a vistoria. Os bombeiros encontrariam l� a mesma situa��o do ano anterior”, afirmou. Defendendo essa tese, o advogado disparou contra o trabalho dos bombeiros. Para ele, os bombeiros pediram ajuda �s pessoas que estavam na rua e que a primeira liga��o para relatar o inc�ndio n�o foi atendida. “O trabalho de salvamento dos bombeiros foi desastroso. N�o tinham equipamentos adequados nem treinamento. Um bombeiro n�o pode colocar um civil numa atividade de salvamento. Eles ainda jogaram um jato d’�gua na rota de sa�da das pessoas e isso pode ter feito com que elas se dirigissem para o outro lado”, acusou. Em nota, o Corpo de Bombeiros informou que, mesmo com o alvar� vencido, a boate poderia funcionar, pois n�o h� previs�o legal para interdi��o imediata, mas n�o comentaria as acusa��es de Marques.
JOGO DE EMPURRA O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer, que tamb�m criticou o trabalho dos bombeiros, amenizou ontem o tom das cr�ticas. “N�o vou entrar em jogo de empurra-empurra com o Corpo de Bombeiros. Tudo o que eu quero � uma investiga��o s�ria. N�o � meu papel dizer que o culpado � esse ou aquele”, afirmou. Segundo o prefeito, quando ele recebe uma den�ncia, a prefeitura age rapidamente para investigar irregularidades.
Ele citou o caso de uma boate recentemente fechada pelos agentes. “N�s fechamos a boate do DCE ap�s uma den�ncia do Minist�rio P�blico sobre falta de acessibilidade e excesso de barulho. No caso da Kiss, n�o houve den�ncia e apenas fizemos a vistoria anual, como manda a lei, sem encontrar problemas”, explicou. O prefeito disse n�o ter como fiscalizar as casas noturnas a todo momento. “A lei diz para n�o matar, mas homic�dios acontecem. N�o d� para colocar um policial ao lado de cada um para evitar isso", comparou. Schirmer tamb�m disse que n�o tem medo de ser investigado. “Eu n�o temo nada. Todos os documentos, em rela��o � prefeitura, estavam em dia”, falou.
Enquanto isso...
… Prorroga��o das pris�es
Al�m dos dois s�cios da Boate Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, o Kiko, est�o presos temporariamente, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira, Marcelo de Jesus dos Santos, e o produtor Luciano Augusto Bonilha Le�o, que teriam contribu�do para a trag�dia ao acender um sinalizador no interior da casa. Caso n�o seja renovada a pris�o tempor�ria, eles devem ser liberados amanh�. O delegado Marcelo Arigony, respons�vel pela investiga��o, confirmou, por�m, ter encaminhado � Justi�a um pedido de prorroga��o. Ele alegou ser necess�ria a continuidade da pris�o tempor�ria – de cinco dias, prorrog�vel por mais cinco – ap�s “possibilidade de adultera��o de provas e intimida��o de testemunhas”, j� que os donos do estabelecimento s�o chefes dos m�sicos e funcion�rios da Kiss. O promotor criminal Joel Oliveira Dutra, que integra a equipe respons�vel pelas investiga��es, afirmou, no entanto, que n�o h� no momento justificativa para pedir a prorroga��o da pris�o tempor�ria dos donos da boate e dos integrantes da banda. “Clamor p�blico n�o justifica pris�o de ningu�m”, disse o promotor. Anteontem, Kiko , que est� internado sob escolta em um hospital de Cruz Alta, no interior do estado, tentou se enforcar com a mangueira do chuveiro.