
Pi�arra (PA) – Uma t�cnica em enfermagem pode ser a pe�a-chave para desvendar uma hist�ria contada e recontada pelo camponeses, principalmente os mais velhos, do Araguaia, na regi�o localizada entre Par� e Tocantins, palco do maior foco de resist�ncia � ditadura durante o regime militar. Maria da Tomazona, refer�ncia ao nome de sua m�e, conhecida no lugar apenas pelo nome de Tomaza, seria a testemunha do sequestro pelo Ex�rcito de um menino de 4 anos, batizado de Geovani, filho de Maria Viana da Concei��o, a Maria do Xambari, com o mais famoso militante da Guerrilha do Araguaia, Osvaldo Orlando da Costa. Geovani teria sido levado dos bra�os da m�e em Aragua�na, no Tocantins – na �poca Goi�s –, tamb�m localizada na beira do Rio Araguaia, por militares do Ex�rcito, que chegaram � cidade em um helic�ptero e foram levados at� Maria Viana por um morador de S�o Geraldo do Araguaia, j� falecido, de nome Celestino.
Maria da Tomazona, segundo dona Lurdes, foi quem tomou conta de Maria Xambari quando, j� doente (tinha c�ncer de mama), ela “foi fugida do Ex�rcito” se esconder em Aragua�na com seu ca�ula, Giovani. “Eu pedi o telefone dela, mas Tomazona n�o me deu. Disse que era para eu passar o meu para ela que ela ia me ligar um dia desses para contar mais sobre o sumi�o do Giovani, mas nunca me ligou e n�o tenho endere�o dela. Nem seu nome completo”, conta Lurdes, que mora com o marido em um povoado no munic�pio de Pi�arra, no Par�, tamb�m �s margens do Rio Araguaia.
Como era muito amigo da fam�lia de Maria Xambari, o menino foi confiado a seu Pedro quando ela fugiu. Dos outros ningu�m sabe o destino. A reportagem tentou, sem sucesso, localizar o paradeiro de Maria da Tomazona, em Aragua�na, cidade com cerca de 163 mil habitantes.
Na �poca solteiro, seu Pedro contou com a ajuda de parentes para cuidar do garoto, que, de um dia para o outro, ficou sozinho no mundo. “Se tem algu�m que sofreu com essa guerra foi esse rapaz a�”, afirma, apontando para Zezinho, que economiza palavras quando o assunto � a guerrilha. O barqueiro disse se lembrar com clareza e muita saudade de Giovani e dos outros irm�os. “O povo daqui diz que ele era filho do Osvald�o. J� chegaram a falar que eu poderia tamb�m ser filho dele. N�o sei”, afirma. Conta ainda que fez de tudo para que o “finado Celestino” desse a ele pistas do paradeiro de Giovani. “Ele sabia da hist�ria, mas sempre me dizia que ia morrer sem contar para ningu�m. De vez em quando eu o atravessava de barco aqui, mas nunca contou nada”, afirma Zezinho, que ganha a vida fazendo a travessia de S�o Geraldo do Araguaia, no Par�, para Xambio�, que fica na outra margem do Araguaia, j� no estado de Tocantins. Em Xambio� a popula��o aponta outro poss�vel filho de Osvald�o, o marceneiro Silmar Alves Rodriguez, que n�o foi encontrado pela reportagem. Sua m�e teria tamb�m tido um romance com o guerrilheiro, cuja figura � uma esp�cie de mito na regi�o.
L�der
Com quase dois metros de altura, negro, dan�arino de primeira, campe�o de boxe pela equipe do Botafogo, simp�tico, bom de prosa e de tiro, Osvald�o era adorado e temido na regi�o do Araguaia. Mais importante l�der da guerrilha, o militante, nascido em Passa Quatro, Sul de Minas, em 27 de abril de 1938, era tamb�m um dos mais procurados pelos militares e foi um dos �ltimos a ser assassinado pelo Ex�rcito, em 1974, aos 36 anos. Ele teria sido morto com um tiro por um morador da regi�o que colaborava com o Ex�rcito. Seu corpo foi amarrado a um helic�ptero e exibido aos moradores da regi�o, antes de os militares desaparecerem com ele.