Na sociedade p�s-moderna, o culto e as homenagens aos mortos ganharam espa�o nas p�ginas das redes sociais, como destaca o professor de hist�ria Vitor Cabral, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
“Voc� acaba criando, nos dias atuais, na sociedade p�s-moderna, outras formas de culto aos mortos que n�o s�o o cemit�rio”, diz Cabral. “Voc� v�, por exemplo, que algu�m morre, mas deixa o Facebook, a p�gina n�o � deletada. E, no dia da morte daquela pessoa, ou no anivers�rio, as pessoas deixam mensagens de saudades, de homenagem �quele que foi. Voc� cria novas formas de culto daquele momento que � a morte.”
Cabral ressalta que a visita aos cemit�rios no dia 2 de novembro continua sendo uma quest�o cultural do brasileiro, mas as visitas em outras datas n�o ocorrem mais com tanta frequ�ncia. Ele lembra que, no s�culo 18, as pessoas eram enterradas nas igrejas, para ficarem mais perto dos santos e da presen�a de irmandades.
“Tinha uma hierarquia, mas os negros, alforriados ou n�o, tamb�m tinham seus espa�os. Os mais ricos tinham os locais mais nobres, que eram mais perto do altar. O sepultamento ocorria dentro das igrejas porque ali estavam os santos, ent�o eles seriam intercessores para que aquela pessoa pudesse escapar do inferno ou alcan�ar a salva��o mais r�pido e passar menos tempo no purgat�rio”, conta.
De acordo com o professor, os cemit�rios come�aram a ser criados por causa de um discurso m�dico que passou a condenar o contato dos vivos com os mortos.
“Os vivos acabariam adoecendo pelo contato com os mortos. Ent�o, na segunda metade do s�culo 19, come�am a criar os cemit�rios, que era um local afastado dos vivos, voc� sepulta os mortos e volta a visitar aquele local. Depois, quando v�m a Rep�blica, tem o cemit�rio p�blico, onde todo mundo pode ser enterrado.”
Mesmo com os cemit�rios p�blicos, Cabral ressalta que as diferen�as sociais continuam presente ap�s a morte. “Nos cemit�rios do Rio de Janeiro, voc� v� uma hierarquia, uma diferencia��o social tamb�m. O t�mulo do Santos Dumont no S�o Jo�o Batista � uma obra de arte, muito dinheiro � gasto com aquilo. O de Inha�ma n�o, tem at� uma hist�ria de que teria sido criado por prostitutas, as polacas n�o poderiam ser enterradas no mesmo local das boas fam�lias, ent�o � um cemit�rio mais simples, mais pobre e com menos arte tumular. Seja no s�culo 18 ou nos dias atuais, voc� v� que aquela regra que diz que a morte deixa todo mundo por igual, isso n�o � bem verdade, h� uma diferen�a social tamb�m na morte”, destaca.