Compartilhar a dor n�o � sofr�-la no coletivo, � livrar quem dela sofre. Foi com esse lema que o estudante Fernando Aguzzoli decidiu dividir com milhares de seguidores a experi�ncia de virar o pai da pr�pria av� e fazer dessa rela��o um exemplo de como lidar de forma leve com o Alzheimer.
“Desde o in�cio da doen�a, eu e meus pais sempre cuidamos, mas, em 2013, quando percebi que ela estava chegando a um est�gio mais avan�ado da doen�a, pensei que, em breve, ela poderia nem nos reconhecer mais, e decidi que queria ficar direto com ela. A partir da�, tomei a decis�o de levar tudo na esportiva”, conta Fernando.
Em setembro, o jovem teve a ideia de criar uma p�gina no Facebook onde passou a relatar de forma bem-humorada hist�rias do cotidiano de uma fam�lia com um membro com Alzheimer. “Sempre busquei informa��o sobre a doen�a e tudo o que eu encontrava era deprimente”, conta. Nas postagens, os esquecimentos da Vov� Nilva viravam motivo de risada.
“Foi superpositivo para mim, para ela e para os meus pais. A realidade dela era completamente diferente, mas era muito bonita. As coisas eram lindas, as pessoas n�o morreram. Quem sou eu para tirar isso dela?”, diz.
E era com bom humor que Fernando enfrentava os desafios di�rios. “Quando ela teve de usar fralda pela primeira vez, ficou incomodada. Ent�o, eu coloquei uma fralda em mim e rimos juntos” conta. A hist�ria acabou atraindo a curiosidade de internautas e a admira��o de familiares de pacientes com Alzheimer.
Com o sucesso, Fernando e a av� passaram a escrever um livro que al�m de contar as hist�rias engra�adas, ter� dicas de como a fam�lia pode lidar com diversas situa��es vividas por um paciente com a doen�a. A iniciativa atraiu a aten��o de m�dicos do Rio Grande do Sul, que participam da publica��o com orienta��es t�cnicas. O livro deve ser lan�ado em setembro.
Vov� Nilva acabou morrendo em dezembro, por complica��es de uma infec��o urin�ria. Apesar da frustra��o, Fernando decidiu manter a p�gina na internet, que hoje j� tem 15 mil seguidores. “Mantive por considera��o �s pessoas que me deram apoio, pela escassez de informa��es sobre a doen�a e, principalmente, porque � uma forma de deixar a minha av� viva.”
Benef�cio
Posturas como a de Fernando podem at� ajudar a adiar a evolu��o da doen�a, segundo C�cero Gallo Coimbra, professor de Neurologia e Neuroci�ncias da Unifesp. “Na maioria dos casos, a atitude da fam�lia � cobrar e repreender o parente nos epis�dios de esquecimento. Essa cobran�a leva ao p�nico e ao estresse, que bloqueiam a produ��o de novos neur�nios e pioram um quadro de dem�ncia”, explica o especialista. “A maioria das fam�lias deixa o parente com Alzheimer no ostracismo, e o que ele mais precisa � de acolhimento afetivo.”
E essa foi a miss�o de Fernando. “Quando eu e minha m�e decidimos levar a v� para realizar o sonho dela, que era conhecer as Cataratas do Igua�u, muitos perguntavam por que �amos gastar dinheiro com a viagem se, dez minutos depois, ela n�o lembraria do passeio. Mas, para n�s, n�o importava se ela lembraria, importava a felicidade que ela teria naquele momento.”
