
A pr�tica teria come�ado em setembro do ano passado. Guardas municipais chegam em ve�culos descaracterizados, tiram os pertences dos moradores e os conduzem a albergues ou abrigos pernoite. Aqueles que resistem levam jato d’�gua e perdem o pouco que t�m. Para a prefeitura de Salvador, trata-se de atendimento. “Eu chamo de pilantragem”, diz Jone, que saiu da casa da m�e “para n�o dar trabalho” h� 19 anos. Hoje, aos 31, venceu o crack, mas ainda quer conseguir um terreno para dar alegria � m�e, Dona Maria.
� dif�cil encontrar um morador de rua s�brio que saiba explicar, em detalhes, o que vem acontecendo entre as 2h e as 4h nas avenidas de Salvador. Muitas vezes, eles acordam com marcas de uma poss�vel surra, mas n�o conseguem dizer ao certo o que aconteceu. O fato, no entanto, � que a popula��o embaixo de viadutos diminuiu consideravelmente. Eles se escondem, com medo de serem levados. “A gente n�o pode sair nos fins de semana porque t�m muito turista na cidade”, relata um homem. Segundo ele, o mais complicado � a conviv�ncia nos abrigos. “Um quer fumar, o outro quer beber e, na abstin�ncia, ningu�m � confi�vel.”
Luiz Gonzaga, um dos l�deres do Movimento da Popula��o de Rua de Salvador, levou a reportagem do Correio a uma das “malocas” resistentes. O lugar tem cheiro de peixe e de urina, “mas n�o tenha medo, n�o”, fala Jone. A conversa acontece em uma esp�cie de sala de visitas, onde antes era o banheiro e hoje � a casa de mais um homem. Eles t�m eletricidade e �gua pot�vel, fruto de “amigos engenheiros”. A comida, geralmente sobras do mercad�o, � feita em um fog�o improvisado. Os cachorros cuidam da seguran�a, mas at� eles deixaram o local. “Eram 28, agora s�o seis”, mostra Jone.