Na pior seca dos �ltimos 84 anos, o Sistema Cantareira registrou pela primeira vez na hist�ria 15 meses consecutivos de d�ficit. Levantamento feito pelo Estado com base em dados oficiais revela que, desde maio de 2013, o maior manancial paulista perde mais �gua do que recebe. O preju�zo chegou a 647,4 bilh�es de litros ao fim do m�s passado, o equivalente a 66% da capacidade �til ou mais de 4 meses de consumo de toda a Grande S�o Paulo.
Banco de �guas
Tamanho d�ficit ocorreu porque antes de a crise do Cantareira ter sido decretada, no fim de janeiro, a retirada de �gua dos reservat�rios chegou a superar em mais de 6% a vaz�o m�xima estabelecida na outorga de 2004. Isso s� foi poss�vel por causa da regra do banco de �guas, uma esp�cie de estoque virtual que permite � Companhia de Saneamento B�sico do Estado de S�o Paulo (Sabesp) e �s cidades da Bacia dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundia� (PCJ) captarem a mais a parcela n�o utilizada de suas cotas no m�s anterior.
Para o engenheiro e membro do Comit� da Bacia Hidrogr�fica do Alto Tiet�, Jos� Roberto Kachel, os dados mostram que desde 2012 o Cantareira j� dava sinais de que passava por estiagem. "As aflu�ncias m�dias de 2012 e 2013 foram bem pr�ximas das de 1953 e 1954, que eram a pior da hist�ria at� ent�o. Se tivessem se atentado a isso e reduzido a capta��o do Cantareira, n�o estar�amos utilizando o volume morto hoje", afirma.
"Realmente tivemos dois anos seguidos muito secos, que fizeram com que os reservat�rios baixassem. O que n�o estava previsto � que meses como novembro, dezembro, janeiro e fevereiro, que s�o chuvosos, fossem t�o secos", explica o professor de Engenharia Hidr�ulica da Universidade de S�o Paulo (USP), Rubem La Laina Porto, que exprime a mesma posi��o defendida pela Sabesp e pela Bacia dos Rios PCJ, que partilham a �gua do Cantareira.
"A retirada de �gua ocorreu conforme o contexto do per�odo e dentro das regras do sistema. Jamais algu�m poderia imaginar esta estiagem t�o forte. Quando vislumbramos esse cen�rio, em dezembro, n�s j� iniciamos as medidas de conting�ncia", disse o coordenador de projetos do Cons�rcio PCJ, Jos� Cezar Saad.
Foi entre dezembro e janeiro que a Sabesp iniciou na Grande S�o Paulo a revers�o de �gua dos Sistemas Alto Tiet� e Guarapiranga para bairros da capital paulista que eram abastecidos pelo Cantareira. Em fevereiro, foi lan�ado o programa de desconto na conta para quem economizasse �gua, seguido da redu��o da press�o noturna na rede de distribui��o, revelada pelo Estado em abril. Em maio, a companhia divulgou que as a��es haviam garantido uma redu��o de 27% no volume retirado do manancial e evitado um rod�zio de 36 horas com �gua e 72 horas sem fornecimento.
Volume morto
Al�m das queixas de falta d’�gua, as medidas n�o impediram que o n�vel do manancial continuasse caindo. Em junho, o volume �til do Cantareira zerou pela primeira vez na hist�ria e a Sabesp come�ou a in�dita retirada de 104 bilh�es de litros do volume morto das represas Jaguari-Jacare�, na regi�o de Bragan�a Paulista. At� ontem, 66,7% j� haviam sido sugados. Ainda neste m�s, a empresa deve iniciar a capta��o de 78 bilh�es de litros da reserva profunda da Represa Atibainha, em Nazar� Paulista.
Com a estiagem ainda mais aguda, o d�ficit voltou a subir em julho, quando o volume de �gua retirado do sistema foi 446% maior do que o que entrou, resultando em uma perda de 50 bilh�es de litros. As proje��es apontam que a primeira cota do volume morto do Cantareira deve acabar em outubro. A Sabesp j� pediu autoriza��o aos �rg�os gestores do manancial para retirar 116 bilh�es de litros adicionais da reserva.