
Qual tipo de educa��o os jovens daqui a 10 anos v�o carecer para viver numa sociedade com tamanha diversidade? Segundo alunos e professores, � preciso encontrar um caminho para a pluralidade das pessoas, engajando os jovens no mundo das diferen�as, preparando-os para serem cidad�os completos. No s�bado, o Centro de Ensino M�dio 1 do Parano�, no Distrito Federal recebe pais, estudantes, docentes e quem mais quiser enaltecer a multiplicidade de g�nero, sexualidade, ra�a e religi�o. L�, uma festa junina diferente ter� lugar: o noivo foge com outro homem e todo tipo de amor � aceito.
No processo de forma��o dentro do col�gio, a comunidade colocou como necess�rio haver respeito, lapidar conceitos, esclarecer informa��es e estabelecer o di�logo. N�o h� espa�o para a intoler�ncia, segundo os envolvidos. Para os mestres, o desafio � prezar pelo curr�culo escolar e, ao mesmo tempo, trazer adapta��es aos conte�dos e atividades desenvolvidas, com a integra��o da comunidade escolar. “Nossa inten��o � mostrar as diferentes formas de ser e amar. Temos que dar representatividade a todas as pessoas dentro de uma escola. Isso passa por questionamentos. O que � normal? Qual o padr�o?”, explica o professor de filosofia Vin�cius Silva de Souza, 35 anos.
Vin�cius idealizou o conceito da festa junina. “Estamos colocando as pessoas numa festa tradicional, mas com igualdade e integra��o. Nenhum comportamento ser� exclu�do ou rebaixado”, argumenta. O discurso do professor encontra reflexo na comunidade escolar. Todos acreditam que o conservadorismo social t�m afetado as salas de aula e chegado �s fam�lias dos estudantes.
Em quase tr�s horas de conversa na manh� de ontem, alunos, professores e pais refutaram comportamentos sociais conden�veis. A estudante do segundo ano Adriane Torquati, 16 anos, � negra, evang�lica e defensora da liberdade pessoal. “Eu percebo que as pessoas disfar�am o preconceito nas pequenas coisas. N�o gosto ter a sensa��o que essas pr�ticas se perpetuam”, pondera a menina, que garante um papel progressista da festa.
Resist�ncia
Figuras de autoridade, como pais, l�deres religiosos e educadores, exercem papel primordial na consolida��o dos avan�os, dizem os livros de pedagogia. “Na minha casa, ainda existe a m�xima de que homem n�o lava lou�a e isso � uma forma de acentuar o machismo”, critica Gustavo Rodrigues, 16, do segundo ano. No s�bado, ele forma com um amigo de classe um casal da quadrilha. “Houve questionamentos, mas � importante propagar os conhecimentos. Tem resist�ncia, � dif�cil, mas � preciso. Se n�o por mim, pelo outro”, explica. O professor Vin�cius completa: “Isso � o essencial. As pessoas querem falar sem ter a predisposi��o de ouvir. A mudan�a vem com o di�logo”.
O formato da festa, inicialmente, causou embara�os na escola. A relut�ncia cedeu lugar � diversidade. “Reunimos os professores e debatemos. Analisamos tamb�m a repercuss�o entre os alunos. A festa � uma converg�ncia dos assuntos trabalhados em sala de aula”, ressalta o vice-diretor do CEM 1 do Parano�, Nanderson Syrlon Pereira.
A professora de sociologia Luciana Ribeiro defende que cada um deve ser um agente disseminador dos conceitos de aceita��o e respeito. A comemora��o junina, segundo a docente, vai desconstruir conceitos arraigados de preconceito. “Um dia ap�s o estupro coletivo, no Rio de Janeiro, perguntei a opini�o dos alunos. Alguns deles culparam a v�tima. Depois, esclarecemos pontos importantes da liberdade sexual de cada um. Ainda hoje � preciso refor�ar que ‘n�o’ � ‘n�o’ numa rela��o”, detalha.