Guarapari e Nova Almeida – Mineiro de Divin�polis, no Centro-Oeste de Minas, o eletricista Paulo C�sar Azevedo, de 49 anos, chegou a Guarapari poucos dias depois de a Pol�cia Militar do Esp�rito Santo deflagrar greve por reajuste de sal�rios e melhores condi��es de trabalho. Ele foi com uma turma da cidade natal e todos foram un�nimes em constatar que a Praia do Morro, a mais famosa do munic�pio, ficou vazia em compara��o a outras �pocas em que o grupo foi ao balne�rio.
A situa��o se repetiu em praias vizinhas. Ambulantes n�o tiveram vendas esperadas. E donos do com�rcio legalizado que decidiram abrir as portas penaram para conquistar a clientela. “� noite, sobretudo, ficamos preocupados com a seguran�a em Guarapari. Havia pouca gente na orla ap�s as 18 horas. O com�rcio fechava as portas”, constatou o mineiro, que n�o desistiu da viagem ao saber da greve da corpora��o capixaba, mas decidiu redobrar a aten��o. “Ficamos mais precavidos”, disse.
Ele e a mulher, a costureira Silv�nia Barbosa, deixaram de fazer passeios que haviam programados ainda em Minas. “A viagem est� restrita desta vez. Todos do grupo procuram ficar juntos”, disse Silv�nia. Amiga do casal, Maria Aparecida de Almeida � dona de um apartamento no balne�rio h� mais de duas d�cadas. Por isso, faz quest�o de dizer, sempre viaja para a Praia do Morro, onde uma multid�o de mineiros faz o mesmo. Na �ltima semana, contudo, ela lamentou o baixo n�mero de banhistas no lugar.
“Havia um ter�o, no m�ximo, da quantidade de gente que, tradicionalmente, aparece nesta �poca do ano”, assegurou Maria Aparecida, que foi � praia na companhia do filho, Francisco, de 22, e do marido, Ernani Helv�cio, de 61. A fam�lia tamb�m mora em Divin�polis, onde a viol�ncia � assunto recorrente. Maria Aparecida pensou que chegaria � praia e fugiria da inseguran�a que atormenta os moradores do Centro-Oeste mineiro.
N�o foi bem assim: “O passeio deste ano foi decepcionante. H� duas d�cadas que venho a Guarapari, todo princ�pio de ano, e sempre vejo as pessoas alegres. Desta vez, a praia estava vazia”, lamentou, acrescentando que nem a presen�a da For�a Nacional no balne�rio incentivou a vinda de turistas em grande quantidade. At� por isso, quem vive do com�rcio na cidade passou aperto.
Parte dos lojistas, durante a semana, at� que abriu as portas, mas muitos permaneceram com o estabelecimento trancado. O baixo p�blico, em compara��o com a semana anterior � greve dos militares, fez empreendedores que alugam cadeiras de praia colecionar ang�stias. Sobrou at� para seu Vilmar, que cobra R$ 1 para que os banhistas possam usar um dos banheiros da orla. “Vou lhe dizer uma coisa, amigo. O movimento ao longo da �ltima semana foi pelo menos 80% inferior ao tradicional. Moradores est�o receosos em sair de casa e os turistas desapareceram”, justificou Vilmar.
Incerteza atr�s de correntes
Nova Almeida – A mineira S�lvia Menezes Gama Pinheiro, de 59 anos, torce pelo fim da greve da Pol�cia Militar do Esp�rito Santo. Natural de Belo Horizonte, ela viaja todos os anos para Nova Almeida, balne�rio da Regi�o Metropolitana de Vit�ria, onde os pais levantaram uma casa h� quase cinco d�cadas.
Na sexta-feira, era grande sua expectativa para que vingasse o acordo feito entre entidades representantivas dos policiais e o governo para encerrar a greve. Ela achava que, se isso ocorresse, enfraqueceria poss�veis movimentos semelhantes em outros estados, como em Minas, onde, em 1997, a tropa deflagrou o primeiro motim do g�nero no pa�s. A revolta no estado terminou com a morte de um cabo, durante protesto no Pal�cio da Liberdade, e revelou lideran�as que se elegeram ao Legislativo estadual e ao federal.
S�lvia imaginava que n�o veria uma PM novamente em greve. Seu engano a tornou ainda mais precavida. E preocupada. Durante a semana, a fam�lia dela manteve a casa em Nova Almeida trancada. Quem chegava no port�o encontrava uma corrente de ferro presa ao cadeado. Dependendo do hor�rio, at� as janelas com vista para a rua estavam fechadas.
“Fico com medo, pois n�o sei o que pode acontecer. Este im�vel j� foi assaltado antes, quando a PM n�o estava em greve”, recorda a aposentada. Ela chegou ao Esp�rito Santo justamente na semana em que a corpora��o decidiu cruzar os bra�os. S�lvia foi se encontrar com a m�e, Maria Stella, de 83, e que deixou a capital mineira em 11 de janeiro passado.
O aquartelamento dos militares durante oito dias deixou a idosa preocupada. Na verdade, atormentada. Tanto que nem sequer caminhou pela orla durante a �ltima semana. As visitas �s casas dos amigos foram raras. Tamb�m as idas ao supermercado, � padaria e at� � esquina, de onde se v� um peda�o do Atl�ntico.
“Eu estava com muito mais medo. Nunca vi nada parecido. O povo estava com medo de sair na rua. Minha fam�lia construiu esta casa h� 47 anos. Naquela �poca, o dia a dia na regi�o era diferente. A gente andava um pouco mais tranquila. Hoje, al�m de o im�vel j� ter sido assaltado, teve a greve da pol�cia”, disse dona.
A casa dela fica numa rua de ch�o batido, a cerca de 300 metros da praia, onde a quantidade de banhistas entre os dois �ltimos s�bados foi pequena se comparada a semanas anteriores. Boa parte do com�rcio no balne�rio manteve as portas fechadas durante os dias em que a tropa se recusou a deixar os batalh�es.