
Moradoras de v�rias comunidades carentes do Rio de Janeiro se juntaram neste domingo para comemorar o Dia das M�es na areia da Praia de Copacabana, zona sul da cidade, em protesto contra a inseguran�a e para deixar claro que “presente das m�es � favela sem viol�ncia”.
O ato p�blico de resist�ncia pac�fica foi promovido pelo Movimento Favelas contra a Viol�ncia, associa��es de moradores do Parque Oswaldo Cruz, Nelson Mandela e Samora Michel, pela organiza��o n�o governamental (ONG) Rio de Paz, pelo Conselho Comunit�rio de Manguinhos, com apoio da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Sindicato dos Trabalhadores da Fiocruz.
Os moradores das comunidades acham que “comemorar o Dia das M�es em Copacabana � mais seguro hoje do que comemorar nas casas deles, na favela”, disse o diretor executivo e fundador da ONG Rio de Paz, Ant�nio Carlos Costa. O objetivo dos manifestantes � pedir que estado, munic�pio e Uni�o sentem � mesa para apresentar um plano de diminui��o da letalidade nas favelas. “� um ato p�blico contra o descaso. O que a gente est� dizendo � que todas as esferas do Poder P�blico Executivo n�o est�o funcionando”, disse Costa. O foco, para ele, � que n�o querem tiros, armas e muni��o nas comunidades.
Direitos
A professora municipal Paloma da Silva Gomes, moradora de Manguinhos, integra a Comiss�o contra a Viol�ncia local, que re�ne coletivos e movimentos sociais do territ�rio. “Estamos numa luta constante para ter paz onde a gente mora, mas tem sido bem dif�cil”. Segundo Paloma, o movimento serve tamb�m para conscientizar as fam�lias das favelas no sentido que entendam os direitos que lhes s�o negados e que n�o chegam nas comunidades.
Paloma diz que a inseguran�a � total para quem mora nas favelas do Rio. “Nossa pr�pria casa acaba virando uma pris�o. E na favela tem muito disso. A falta de recursos e, principalmente, falta dos nossos direitos da vida, que � o principal”.
Graciara da Silva � educadora f�sica e est� fazendo mestrado em desenvolvimento local. Moradora da comunidade de Varginha, no Parque Carlos Chagas, ela teve o filho de 19 anos, David, atingido nas costas por uma bala durante uma incurs�o policial na favela, �s 7h, h� cerca de 25 dias. “Foi um momento muito dif�cil. Se eu n�o tivesse o apoio dos companheiros de luta, [ele] n�o teria sobrevivido”. A bala perfurou o intestino do rapaz e ficou alojada no abd�men. David se recupera em casa.
Graciara protestou contra o preconceito contra os jovens negros das favelas, que costumam ser confundidos por policiais com marginais. O ato simb�lico de hoje serve, disse Graciara, para unir as m�es, alertar sobre o problema da viol�ncia, que � de todos os moradores de comunidades, e reivindicar o direito de ir e vir, “que a gente n�o est� tendo dentro da nossa favela”.
M�es que perderam filhos participaram do ato. Ros�ngela Maria de Paula teve o filho, Nicholas Oswaldo de Paula S�, de 21 anos, cabo do Ex�rcito, morto com um tiro na cabe�a em 11 de setembro do ano passado, em Piabet�, Mag�, regi�o metropolitana do Rio de Janeiro, e, at� hoje, n�o foi feita a reconstitui��o do crime. Aos prantos, Ros�ngela disse que hoje foi um dia muito triste, o seu primeiro Dia das M�es sem Nicholas.

Culpa do Estado
Jaqueline Paula, presidente da Associa��o de Moradores do Mandela 1, disse que n�o se pode colocar a culpa pela inseguran�a na pol�cia ou nos bandidos. “� o governo, � o Estado que n�o est� fazendo o que deve fazer pela sa�de, pela escola. A gente est� sofrendo v�rios atos de viol�ncia na comunidade. Por isso viemos para Copacabana, com as m�es, reivindicando mais paz na comunidade”.
“N�s somos cidad�os como quaisquer outros da sociedade”, disseram as m�es presentes � manifesta��o. O professor de comunica��o do curso de educa��o de jovens e adultos de Manguinhos, da Fiocruz, Davi Marcos, morador da Mar�, fez uma encena��o durante o ato, chamando a aten��o para que a “guerra” que est� acontecendo nas favelas pode chegar a outras regi�es do Rio de Janeiro.
� preciso, disse, que as pessoas n�o “lavem as m�os”, ignorando o que ocorre nas comunidades carentes, mas que haja um engajamento de toda a popula��o contra a viol�ncia. “Cada vez que eu estou lavando as minhas m�os, estou lavando com o sangue de um povo pobre, preto, favelado e nativo desta terra”. A guerra, disse, est� se territorializando, se expandindo e cada vez chegando mais perto da casa de todos os habitantes da cidade.
A “ceia das M�es da Favela” foi servida em uma mesa de 70 metros de comprimento e incluiu frango assado, arroz, farofa e salada de macarr�o.