Um rec�m-nascido foi sequestrado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), em Bras�lia.
At� a noite de ontem, a Pol�cia Civil procurava quem tirou o beb� da unidade m�dica. Nenhuma das 28 c�meras do local funciona, o que dificulta a apura��o.
Sara Maria da Silva, 19 anos, deu � luz em um Posto de Sa�de na Estrutural, em 25 de maio. Desde ent�o, m�e e filho estavam internados em um quarto conjunto no 2º andar do hospital do Plano Piloto.
As primeiras informa��es sobre o rapto surgiram na hora do almo�o, quando a equipe de enfermagem percebeu que a crian�a n�o estava l�. As buscas come�aram com vigilantes e policiais militares. Todos que entravam ou sa�am da unidade passaram por revista. O clima era de confus�o. A suspeita � que uma mulher loira, que carregava duas bolsas, uma azul e uma cinza, levou o menino. Ela poderia estar usando uma peruca para se disfar�ar.
A crian�a receberia alta m�dica nesta quarta-feira.
V�rias pessoas se aglomeraram em frente ao hospital. O quarto 208, onde estavam m�e e filho, foi isolado.
Nenhuma hip�tese est� descartada — inclusive a participa��o de funcion�rios.
Na semana passada, segundo apurou o jornal Correio Braziliense, houve uma discuss�o entre familiares no hospital. Ap�s a confus�o, todos os visitantes do menino passaram a ser identificados previamente. No in�cio da noite dessa ter�a, Sara prestou depoimento e outras tr�s pessoas foram ouvidas.
Seguran�a
O drama da fam�lia exp�e a fragilidade da seguran�a nos hospitais da capital federal. As c�meras e os 17 vigilantes da unidade n�o bastaram para impedir o crime. Em 2012, a Secretaria de Sa�de comprou 900 c�meras. Segundo o Tribunal de Contas do DF (TCDF), apenas 95 foram instaladas e o sistema nunca funcionou. A licita��o acabou suspensa. “Acho que temos seguran�a no hospital. Esse foi um evento muito raro, de grande pesar, mas temos uma vigil�ncia a contento”, justificou o diretor do Hran, Jos� Adorno.
O que chama a aten��o no sequestro � que o acesso para o alojamento onde estavam Sara e o filho dela � uma das portarias mais movimentadas do hospital. Vigilantes ficam de plant�o ininterruptamente, segundo a institui��o. O hor�rio em que a crian�a foi tirada do local tamb�m n�o coincide com o de visitas. O Executivo local garante que a situa��o das c�meras ser� regularizada, mas n�o define prazo.
Muitos curiosos se amontoaram na emerg�ncia e no ambulat�rio. A funcion�ria p�blica Kamilla Freitas, 26 anos, chegou ao hospital ainda durante as buscas. Ela estava � procura de uma consulta para a filha L�gia, 3. “N�o consigo imaginar o tamanho da crueldade de algu�m que faz uma coisa dessas. Imagina o que essa m�e est� sentindo?”, lamentou a moradora do Lago Sul. A enfermeira aposentada Ivonice Set�bal Mour�o, 65 anos, observava de longe. “Um hospital de refer�ncia deixar acontecer uma coisa como essa? � algo que n�o se explica. Como m�e e av� fico sem ch�o”, comentou.
Retrato falado
Mesmo com a repercuss�o do caso, a Pol�cia Civil n�o comentou a investiga��o.
Segundo o diretor do hospital, a Divis�o de Repress�o ao Sequestro trabalha em um retrato falado baseado em informa��es de funcion�rios e de pacientes.
A Divis�o de Comunica��o da Pol�cia Civil (Divicom) explicou, em nota, que, durante as investiga��es nenhum detalhe seria noticiado. “Qualquer informa��o divulgada pode colocar em risco a vida da crian�a”, resume o texto.
A m�e, a sogra e uma cunhada de Sara estiveram na delegacia que investiga o caso, mas n�o conversaram com a imprensa. Elas passaram parte da noite no local, amparadas por assistentes sociais e por um psic�logo.
Durante a noite, equipes da PCDF realizaram dilig�ncias atr�s de suspeitas de terem cometido o crime. O conselheiro tutelar da Estrutural Djalma Nascimento tamb�m esteve no local. Ele contou que acompanha a m�e desde a �poca do pr�-natal. “A fam�lia � muito humilde. O pai do beb� est� desempregado. A m�e estava empolgada em poder levar a crian�a para casa”, disse.
Mem�ria
O caso Pedrinho

Esse rapto � o caso de sequestro de beb� mais famoso do Brasil. Desde o desfecho, em 2002, quando policiais de Bras�lia descobriram o paradeiro do garoto, em Goi�nia, ele ganhou as capas de jornais e de revistas, inspirou novela, foi tema de document�rios e de um livro.
O drama da fam�lia de Pedrinho come�ou em janeiro 1986, na maternidade do Hospital Santa L�cia, em Bras�lia, e s� acabou 16 anos depois. Disfar�ada de enfermeira, Vilma Martins Costa chegou ao quarto onde a m�e de Pedrinho se recuperava do parto e roubou o beb�.
Vilma simulou uma gravidez e sequestrou a crian�a para for�ar o companheiro, Osvaldo Martins Borges, a se casar com ela. Osvaldo se separou da fam�lia e criou Pedrinho com Vilma, em Goi�nia, como se fosse seu filho leg�timo. A farsa s� foi descoberta em 2002, ap�s a morte de Osvaldo. A suspeita do crime foi confirmada com teste de DNA, em 8 de novembro daquele ano. Antes do teste, os pais verdadeiros de Pedrinho, Jayro Tapaj�s e Maria Auxiliadora Braule Pinto, chegaram a fazer ao todo cinco exames de reconhecimento de paternidade.
Vilma Martins foi condenada por sequestro e registro falso. Ganhou a liberdade condicional em agosto de 2008, ap�s cumprir cinco dos 19 anos da pena. Pedro mudou-se para a casa dos pais biol�gicos, em 2003. Formado em direito no UniCeub, advogado de um famoso escrit�rio de Bras�lia, est� casado e tem um filho, com 4 anos. A fam�lia vive em um apartamento da Asa Norte. Pedro � um dos advogados de A�cio Neves (PSDB-MG), citado em dela��o da JBS.
Colaboraram Breno Fortes e J�ssica Eufr�sio (estagi�ria sob supervis�o de Mariana Niederauer)
