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Estado de Minas

Com crise econ�mica, at� executivos viram sem-teto no Rio de Janeiro

A maioria das pessoas em situa��o de rua ainda � de negros de origem pobre, e muitos s�o viciados em drogas, com problemas psicol�gicos ou familiares; mas h� tamb�m ex-executivos, funcion�rios p�blicos aposentados e comerciantes


postado em 06/08/2017 08:22 / atualizado em 06/08/2017 10:29

Durante o dia, o ex-executivo faz exercícios físicos, lê em cafés e livrarias e escreve em seu perfil no Facebook. À noite, coloca roupas simples e um boné para passar despercebido, enquanto se cobre, deitado no banco(foto: AFP / Mauro PIMENTEL)
Durante o dia, o ex-executivo faz exerc�cios f�sicos, l� em caf�s e livrarias e escreve em seu perfil no Facebook. � noite, coloca roupas simples e um bon� para passar despercebido, enquanto se cobre, deitado no banco (foto: AFP / Mauro PIMENTEL)

Vilmar Mendon�a foi gerente de Recursos Humanos de v�rias empresas, mas h� um ano e meio mora nas ruas do Rio de Janeiro, junto a milhares de v�timas da crise da Cidade Maravilhosa. Mendon�a perdeu seu emprego em 2015. Conseguiu se manter com suas economias por algum tempo, mas eventualmente ficou sem dinheiro para pagar o aluguel. Hoje, aos 58 anos, ele dorme em um banco em frente ao aeroporto Santos Dumont, deixa alguns pertences em uma ag�ncia banc�ria da qual � cliente, faz sua higiene em banheiros p�blicos e sobrevive da comida distribu�da por ONGs.

"� uma situa��o terr�vel para mim, mas n�o tenho outra alternativa", diz o ex-executivo, magro, divorciado e sem filhos. Natural de Itaja� (Santa Catarina), ele analisa ofertas de trabalho em seu computador gra�as ao Wi-Fi do aeroporto. Com camisa social e t�nis moderno, Mendon�a n�o aparenta ser um dos milhares de sem-teto da cidade, de seis milh�es de habitantes.

No final de 2016, a prefeitura do Rio registrava 14.279 pessoas em situa��o de rua, o triplo que em 2013. Setenta deles t�m n�vel superior, como Mendon�a, que se formou em administra��o de empresas em S�o Paulo e trabalhou para a subsidi�ria de uma multinacional. Sua situa��o reflete a gravidade de uma recess�o que deixou 13,5 milh�es de desempregados, assim como a realidade de uma cidade que h� apenas um ano inaugurava com pompa os Jogos Ol�mpicos.

Mendon�a fala da dificuldade de procurar e de conseguir ajuda em um momento como esse. Como muitos, ele n�o contou sua situa��o a quase ningu�m. "Quando voc� est� em uma situa��o assim, ningu�m quer estar perto de voc�", comenta. Apesar de tudo, ele acredita que isso � algo passageiro e se esfor�a para n�o deixar a peteca cair.

Durante o dia, faz exerc�cios f�sicos, l� em caf�s e livrarias, escreve em seu perfil no Facebook - onde aparece de terno e gravata - e vai a entrevistas de trabalho, nas quais concorre com centenas de candidatos mais jovens que ele. � noite, coloca roupas simples e um bon� para passar despercebido, enquanto se cobre, deitado no banco, perto das c�meras de seguran�a do aeroporto. "Eu procuro ficar isolado, at� para n�o perder o foco da minha subsist�ncia, porque se eu me juntar com outras pessoas posso conviver com coisas que n�o quero, como drogas ou sujeira", afirma.

Funcion�rios sem pagamento


Embora a maioria dos cariocas estejam acostumados a desviar o olhar, os turistas que passeiam por Copacabana e Ipanema se surpreendem com a quantidade de pessoas sem-teto que encontram pelas esquinas - um cart�o postal muito diferente do anunciado nos guias de viagem.

No centro hist�rico, perto dos Arcos da Lapa, a cada noite grupos de at� 20 pessoas ocupam ruas inteiras, e dezenas dormem sobre papel�es, enrolados em mantas. A imagem impressiona, mas n�o tanto quanto as hist�rias por tr�s de cada morador de rua. A maioria � de negros de origem pobre, e muitos s�o viciados em drogas, com problemas psicol�gicos ou familiares; mas h� tamb�m vendedores ambulantes e funcion�rios p�blicos aposentados, como Gilson Alves.

Alves, de 69 anos, trabalhou durante 35 anos como t�cnico em radiologia em hospitais p�blicos do Rio. Mas devido aos atrasos no pagamento da sua aposentadoria, teve que vender seus pertences e sair do apartamento alugado.

Alves nunca teve uma vida f�cil. Aos cinco anos, perdeu uma perna quando foi atropelado por um bonde. H� dois meses, foi para a rua com uma sacola e, depois de lhe roubarem tudo, foi resgatado pelos servi�os da prefeitura e levado a um dos 64 albergues municipais, com capacidade para 2.200 pessoas.

"Me sinto muito triste, humilhado com esta situa��o, machucado por ter prestado tantos anos de servi�o na �rea de sa�de (...) e n�o ter conseguido construir nada por culpa de um governo", diz.

Ele divide quarto em um albergue da Ilha do Governador com seis pessoas idosas, entre elas Jorge da Cunha, um oper�rio com problemas respirat�rios, de 63 anos, que perdeu seu trabalho h� dois anos.

O lado mais fraco


"A situa��o � cr�tica", reconhece a secret�ria de Assist�ncia Social do Rio, Teresa Bergher.

Muitos brasileiros chegaram ao Rio procurando emprego durante a Copa do Mundo de 2014 e a Olimp�ada de 2016, mas hoje o estado est� com os cofres vazios, v�tima da queda do pre�o do petr�leo e atingido por uma corrup��o end�mica.

O ex-governador S�rgio Cabral (2007-2014) foi condenado a mais de 14 anos de pris�o, acusado de desviar milh�es de reais. Uma parte da quantia recuperada permitiu, em mar�o, pagar os d�cimos terceiros atrasados de cerca de 150.000 funcion�rios p�blicos aposentados.

"O crescimento acelerado de pessoas em situa��o de rua no Rio se deve principalmente � crise econ�mica e tamb�m � falta de pol�ticas p�blicas para o setor", afirma a defensora p�blica Carla Beatriz Nunes.

Diante deste vazio, redes de volunt�rios de igrejas e ONGs oferecem aten��o social, servem caf�s-da-manh� e algumas organizam at� aulas de ioga para os sem-teto.

"Quem paga pela crise � quem tem menos condi��es financeiras, menos estudos", afirma Robson, um oper�rio da constru��o desempregado, de 43 anos, cujo rosto sujo faz com que seus brilhantes olhos azuis sobressaiam ainda mais.


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