
Salvador, 26 - Um dia ap�s o acidente que matou 18 pessoas durante a travessia entre Mar Grande e Salvador, a Igreja do Largo de Vera Cruz, de onde saiu a lancha Cavalo Marinho 1, amanheceu cercada de moradores. Entre eles estava Marcelo Moreira, de 49 anos, que sobreviveu � trag�dia. Moreira viajava � capital baiana para ver pela primeira vez o filho que acabara de nascer. “Estou emocionado por ter escapado e poder conhecer meu filho”, contou.
O sobrevivente foi um dos passageiros que tomou pela manh� o ferry boat - um catamar� com capacidade para 800 pessoas que transporta ve�culos -, �nica alternativa de deslocamento nesta sexta-feira pelas �guas. Ap�s o acidente, a circula��o das linhas regulares entre Vera Cruz e Salvador foi suspensa por tr�s dias, por luto.
Moreira se lembrava dos momentos dif�ceis que havia vivido no dia anterior. “Foi uma afli��o. Consegui nadar e me agarrar a um bote. Havia na �gua uma menina, que ainda estava viva, e eu consegui pux�-la.” Ele tamb�m avistou uma mulher, agarrada a um bote, que gritava que n�o aguentava mais de dor. “Depois, ela afundou.
Outro sobrevivente � espera do ferry boat era o agente de sa�de Dirceu Souza, de 43 anos, pai de dois filhos. Ele recorda que estava perto da borda da lancha quando a embarca��o foi atingida pela primeira onda. “Falei para o meu amigo que ia virar. Foi quando a segunda onda bateu e nos ca�mos na �gua.”
Morador de Vera Cruz, Souza recorda que foi puxado pelas �guas para baixo do barco e ficou alguns segundos submerso at� encontrar for�as para subir � tona. Durante a desesperada luta para sobreviver, ele machucou a perna com materiais que estavam na lancha. Para ele, o acidente foi uma “fatalidade”.
Chuva e vento
A lancha Cavalo Marinho 1 virou por volta das 6h30 desta quinta, pouco ap�s iniciar o trajeto, enquanto chovia e ventava forte na regi�o. Segundo informa��es oficiais, 18 morreram e 89 foram resgatadas. A Secretaria de Seguran�a P�blica da Bahia informou nesta sexta que as v�timas j� foram identificadas: 13 eram mulheres, 2, homens e 3, crian�as. Uma delas � o beb� Davi Gabriel Monteiro, de 6 meses, que morreu ap�s duas horas de tentativa de reanima��o.
Um dos corpos identificados foi do agente penitenci�rio Tiago Henrique Muniz Barreto, de 35 anos. Seu pai, o coronel do Ex�rcito Eduardo Antonio Muniz Barreto, contou que ficou sabendo do acidente �s 8 horas e da morte do filho, �s 11 horas. “Perdi meu filho. Ele teve traumatismo craniano”, lamentou o militar durante o vel�rio, realizado no Cemit�rio do Campo Santo. Tiago deixou dois filhos.
Eduardo espera que as autoridades apurem com rigor as causas da trag�dia. “� preciso agora ter paci�ncia e aguardar as conclus�es da investiga��o.”
Para um amigo da fam�lia, o administrador Roberto Borba Moreira, o que aconteceu a cerca de 200 metros da praia de Mar Grande, bem diante da Igreja, “foi um crime”. No vel�rio, ele questionava a autoriza��o para que a lancha operasse.
“Essa lancha tem 60 anos. Como pode um barco desses continuar operando com aquele mar? Como pode um barco n�o suportar que as pessoas passem todas para o mesmo lado em uma emerg�ncia? � uma trag�dia que podia ter sido evitada.”
Segundo Moreira, Tiago ia a Salvador para ver um apartamento para alugar. “N�s �amos juntos, mas acabei ficando na cama. Parecia que alguma coisa estava me prendendo em casa”, contou o administrador, que vive em Vera Cruz, mas tem im�veis em Salvador.
Suspensas na noite de quinta, as buscas foram retomadas na manh� desta sexta. Pescadores avaliavam que restos da embarca��o e eventuais v�timas podem ter sido arrastadas pelas correntes para outras praias. Na mar� alta, era poss�vel avistar os restos do barco encalhado nos recifes a dois quil�metros de onde emborcou.
(Pablo Pereira, enviado especial)