
Apesar de a Lei do Div�rcio vigorar desde 1977, os dados sobre o tema s� come�aram a ser inclu�dos nas estat�sticas anuais de Registro Civil na d�cada seguinte. At� aquele ano, o desquite era o dispositivo legal, mas n�o possibilitava uma nova uni�o formal. O levantamento aponta mais de 7 milh�es de dissolu��es registradas no Pa�s entre 1984 e 2016, ou 580 div�rcios por dia, ante 29 milh�es de matrim�nios.
No per�odo, os casamentos subiram 17%. J� os div�rcios aumentaram 269%. Na pr�tica, o Brasil passou a contar com tr�s gera��es de casais legalmente separados. � o caso da fam�lia Dias Batista, de Sorocaba (SP), que coleciona tr�s div�rcios conclu�dos e outro em andamento - e ainda assim permanece unida.
O patriarca da fam�lia, Wilson Dias Batista, de 85 anos, se divorciou duas vezes. A primeira foi em 1978. J� seu filho, o advogado Cl�udio Dias Batista, de 51 anos, se divorciou da ex-mulher Cleonice Lagemann, a Cleo, de 47, em 2014. E um filho deles tamb�m est� em processo de div�rcio.
No primeiro div�rcio do pai, Cl�udio era um menino de 12 anos. Wilson conta que, na �poca, a separa��o era dif�cil. “Precisava que um c�njuge alegasse alguma coisa contra o outro”, lembra. Tamb�m tinha de realizar a separa��o judicial e, s� ap�s o prazo, convert�-la em div�rcio.
“Era tanta dificuldade que as pessoas pensavam muito antes de iniciar um processo”, afirma Cl�udio, que hoje atua na �rea do Direito da Fam�lia. A exig�ncia do per�odo de car�ncia s� caiu em 2010. No segundo div�rcio do pai, neste ano, nem foi preciso levar o caso ao juiz.
Apesar do pr�prio hist�rico de separa��es, Wilson lamenta o div�rcio do filho. “Gosto muito dela, me deu sete netos”, diz. O mais velho tem 25 anos. A mais nova, 11. Cl�udio e Cleo se conheceram em S�o Roque, no interior. Ele, locutor de r�dio, foi apresentar um evento no qual ela era modelo. “Foi paix�o imediata”, conta o advogado. Hoje, o casal compartilha a guarda de tr�s filhas menores.
Neste Natal, Cl�udio viajou com os filhos para o Guaruj�, enquanto Cleo ficou em Sorocaba, cuidando do ex-sogro e da tia do ex-marido, Martinha Batista, de 99 anos. “N�o fa�o por obriga��o, mas por amor. Continuam sendo minha fam�lia”, diz Cl�o.
Cl�udio tem uma namorada que j� foi apresentada � fam�lia. Cleo tamb�m est� em um novo relacionamento, que mant�m sob discri��o. Mas isso n�o a impede de cuidar da tia do ex.
“Ela � a filha que n�o tive. N�o tinha nenhuma obriga��o de cuidar de mim, mas me trouxe para morar com ela”, diz dona Martinha, prestes a completar 100 anos. L�cida, ela se aposentou como meteorologista e nunca quis se casar. “Fui ao cardiologista e ele disse que meu cora��o aguenta mais uns 20 anos. Isso porque eu nunca tive marido.”
Um dos filhos do ex-casal est� em processo de div�rcio, ap�s tr�s meses de uni�o. O per�odo curto n�o surpreende Claudio. “Na sociedade contempor�nea, os relacionamentos come�am e se desfazem com muita rapidez, mas nem sempre a legisla��o acompanha”, afirma. “A guarda compartilhada, por exemplo, � um grande avan�o, mas pressup�e que o casal tenha um relacionamento bom.”
Divorciada h� quase dois anos, a banc�ria Mariana Pereira, de 42, compartilha com o ex-marido a guarda de um gato, o Eddie, que sempre trataram como filho. “Foi um acordo bem natural para n�s dois”, conta. O acordo, segundo afirma, fez da separa��o menos dolorosa. “O Eddie � parte da nossa fam�lia e a solu��o para que nenhum de n�s ficasse sem v�-lo fez bem para n�s dois.”
Fortalecimento
Para especialistas em Direito da Fam�lia, uma das raz�es do “boom” de div�rcios � o recuo do preconceito. “As pessoas desquitadas, especialmente as mulheres, eram extremamente estigmatizadas”, diz Luiz Kignel, s�cio da PLKC Advogados. “Houve uma mudan�a cultural em que se compreendeu que o div�rcio n�o � um mal. Os casais que se separam n�o optaram pela solid�o, mas pela felicidade.”
O avan�o da legisla��o - que permitiu div�rcio em cart�rio e retirou o prazo de separa��o - � outro motivo para a alta, segundo defende M�rio Luiz Delgado, diretor do Instituto dos Advogados de S�o Paulo (Iasp). “Isso n�o significa o enfraquecimento do casamento como institui��o, mas sim o fortalecimento”, diz. “Com esse cen�rio, nenhum casamento vai continuar por conveni�ncia, medo ou dificuldade de ser dissolvido.” As informa��es s�o do jornal
O Estado de S. Paulo
(F�bio de Castro, Felipe Resk, Jos� Maria Tomazela e Isabela Palhares)