Quase quatro anos depois da gestante Jandyra Magdalena dos Santos Cruz, morrer ao se submeter a um aborto clandestino em uma cl�nica de Campo Grande (zona oeste do Rio), e ter seu corpo esquartejado e carbonizado, tr�s acusados por esse e outros crimes foram condenados pelos jurados do 4º Tribunal do J�ri do Rio de Janeiro, na madrugada desta sexta-feira, 10.
O falso m�dico Carlos Augusto Gra�a de Oliveira foi condenado a 26 anos e seis meses de pris�o pelos crimes de homic�dio, aborto (tr�s vezes, de Jandyra e mais duas gr�vidas) e por forma��o de quadrilha; Rosemere Aparecida Ferreira, que gerenciava o grupo, fazia contato com as clientes e repartia o dinheiro entre a equipe, recebeu pena de 35 anos e seis meses de pris�o por homic�dio, aborto (tr�s vezes), destrui��o de cad�ver e forma��o de quadrilha; e Vanusa Vais Balcine, que dividia o comando da quadrilha e levou Jandyra at� a cl�nica, de carro, foi condenada a 15 anos e seis meses de reclus�o por aborto seguido de morte, aborto (tr�s vezes), destrui��o de cad�ver e forma��o de quadrilha. Outros tr�s acusados pelo crime ainda ser�o julgados.
O julgamento se estendeu por 12 horas. O juiz Gustavo Gomes Kalil, que presidiu a sess�o, fixou regime inicial fechado para todos os r�us, que n�o poder�o recorrer em liberdade. Na senten�a, o magistrado destacou que a quadrilha era organizada e sofisticada, com complexa divis�o de tarefas, operou durante anos no Rio e cobrava entre R$ 2 mil e R$ 5 mil por aborto, recebendo em torno de R$ 1 milh�o por m�s. "O neg�cio explorava o desespero de mulheres que engravidavam e, pelos mais variados motivos, recorriam a eles", disse, ressaltando que n�o foram observadas regras de seguran�a m�dica b�sica para o procedimento. "N�o havia m�dico, cirurgi�o, anestesista, centro de terapia intensiva", ressaltou.
Ele destacou ainda que a v�tima tinha apenas 27 anos e deixou duas filhas, de 9 e de 12 anos. "A perda precoce e violenta da m�e causa indubit�vel preju�zo ao psiquismo das crian�as, que se viram privadas para todo o sempre do precioso conv�vio materno, quando ainda estavam no pleno desenvolvimento de suas personalidades", afirmou, citando ainda o sofrimento da m�e e do ex-marido da v�tima.
Em rela��o ao fato de o corpo de Jandyra ter sido encontrado carbonizado, sem os membros superiores e inferiores e sem a arcada dent�ria, o juiz afirmou que o direito ao corpo � uma das facetas da dignidade da pessoa humana. "A v�tima fatal n�o teve seu direito ao corpo respeitado nem ap�s a morte. Uma m�e n�o pode velar o cad�ver da pr�pria filha", finalizou.
O processo foi desmembrado em rela��o aos r�us Carlos Antonio J�nior, M�nica Gomes Teixeira e Marcelo Eduardo de Medeiros, que ainda ser�o julgados.