Obras do VLT do Rio revelam ossadas deixadas para tr�s com demoli��o de igreja
Constru�do em estilo barroco, o templo seguia a tradi��o cat�lica da �poca de sepultar fi�is abastados no interior de sua estrutura, o que faz com que os pesquisadores acreditem que os corpos sejam de membros da elite carioca de outras �pocas.
postado em 25/08/2018 17:31 / atualizado em 25/08/2018 17:54
Escava��es das obras do Ve�culo Leve sobre Trilhos (VLT) revelaram ossadas de pessoas que teriam pertencido � elite do s�culo XVII, no Centro do Rio de Janeiro, onde era localizada a Igreja de S�o Joaquim (foto: Tomaz Silva/Ag�ncia Brasil)
Em uma cidade que viveu obras constantes para os grandes eventos dos �ltimos anos, fazia tempo que um canteiro no centro da cidade n�o chamava tanta aten��o. A descoberta de 15 ossadas humanas no percurso da nova linha do ve�culo leve sobre trilhos (VLT) do Rio de Janeiro concentrou curiosos na Avenida Marechal Floriano, enquanto arque�logos meticulosamente tomavam notas e trabalhavam na coleta de informa��es para a retirada de parte dos restos mortais.
Os corpos encontrados foram deixados para tr�s quando a Igreja de S�o Joaquim foi destru�da em 1904, em meio �s reformas urbanas do prefeito Francisco Pereira Passos. Constru�do em estilo barroco, o templo seguia a tradi��o cat�lica da �poca de sepultar fi�is abastados no interior de sua estrutura, o que faz com que os pesquisadores acreditem que os corpos sejam de membros da elite carioca de outras �pocas.
Tr�s dos 15 esqueletos j� foram retirados pela empresa Artefato Patrim�nio Arqueol�gico, contratada pela concession�ria VLT Carioca para cuidar de todo o material de import�ncia hist�rica que se esperava encontrar no caminho dos bondes. O Instituto do Patrim�nio Hist�rico e Art�stico Nacional (Iphan) acompanha o trabalho e determinou que o destino final dos corpos ser� a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
Coordenadora da pesquisa arqueol�gica, Madu Gaspar contou que a as ossadas precisar�o ser levadas para um local onde possam secar lentamente, porque o solo do Rio de Janeiro � repleto de umidade, o que atrapalhar� a conserva��o.
“O Rio tem uma hist�ria antiga. Se for aberta qualquer via, aparecer�o ind�cios e testemunhas das antigas ocupa��es. N�o s� as coloniais, como as pr�-coloniais, antes da invas�o europeia”, disse ela, explicando que o trabalho n�o � apenas retirar os restos mortais das covas. “� um trabalho muito lento. Os ossos s�o fr�geis e t�m que ser trabalhados com muito cuidado. � preciso fazer um bom registro, com desenhos, fotografias e tomadas topogr�ficas para que possamos juntos reconstruir essa hist�ria”.
O arquiteto do Iphan Paulo Vidal destacou ainda que a igreja demolida tem sua hist�ria intimamente ligada � do Col�gio Pedro II, que fica ao lado das escava��es. Pesquisadores relacionam a funda��o do col�gio � estrutura do Semin�rio de S�o Joaquim. Quando o imp�rio inaugurou o col�gio, em 1837, foi rezada uma missa com a presen�a da fam�lia real, e Pedro II, na �poca com 12 anos, era um dos presentes.
“Houve uma missa, como era de praxe, e provavelmente a missa foi aqui na Igreja de S�o Joaquim. A igreja tem uma s�rie de hist�rias para ser contada a partir desses achados”, disse Paulo.
(foto: Tomaz Silva/Ag�ncia Brasil)
Cemit�rio de escravos
Para preservar ao m�ximo a hist�ria no trajeto do VLT, o Iphan vem recomendando cuidados como lajes menos profundas para os trilhos e pequenos desvios. Al�m da Igreja de S�o Joaquim, foi localizada uma parte do passado escravagista do Brasil no caminho do VLT. No Largo de Santa Rita, a metros de dist�ncia, foi encontrado um cemit�rio para pessoas traficadas da �frica para trabalhos for�ados no pa�s.
No caso desse cemit�rio, Paulo conta que a op��o foi manter os corpos no local e n�o fazer interven��es. Al�m disso, ser� sinalizada a presen�a do cemit�rio por uma quest�o de respeito � mem�ria e conscientiza��o. “L� h� uma quest�o diferente porque temos uma comiss�o onde os representantes de entidades de matriz africana participam e decidimos que vamos mexer o m�nimo poss�vel no cemit�rio. H� uma quest�o do respeito � ancestralidade que � inerente � cultura africana”.
Estudos indicam que os africanos mortos nos tumbeiros ou ao chegarem ao Rio eram enterrados em frente � Igreja de Santa Rita, atual Largo de Santa Rita, entre 1722 e 1769. O local ficava perto do mercado de escravos da Pra�a XV e distante do Largo da Carioca, onde ficava a nobreza. Os corpos teriam sido descartados em covas rasas, muitos, cobertos de doen�as, como as bexigas de var�ola, provocadas pelas p�ssimas condi��es do translado.
Escava��es para constru��o dos trilhos do VLT encontram achados arqueol�gicos que pode ser do Cemit�rio de Pretos Novos do Largo de Santa Rita, no centro do Rio de Janeiro (foto: Tomaz Silva/Ag�ncia Brasil)
Curiosidade
O trabalho dos arque�logos reuniu cariocas que viram as not�cias sobre os corpos na TV e na internet. A t�cnica de enfermagem Gislaine Cristina, de 55 anos, estava levando o filho para resolver quest�es burocr�ticas no Departamento Estadual de Tr�nsito (Detran) e parou para acompanhar as escava��es. “N�o me surpreendeu porque j� se tinham feito outras descobertas como no Cais do Valongo, mas foi a oportunidade de ver perto”, disse ela.
Enquanto tentavam identificar se os corpos eram de crian�as ou adultos, pelo tamanho, os pedestres apontavam e faziam fotos. “A igreja ficava no meio do caminho. Derrubaram e asfaltaram. O que estava embaixo ficou”, disse o aposentado Paulo Ros�rio, de 58 anos.