
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, est� no olho do furac�o que atingiu o Brasil nas �ltimas semanas, pela divulga��o de informa��es sobre o aumento do desmatamento na Amaz�nia, e que se intensificou nos �ltimos dias, impulsionado pela prolifera��o de queimadas. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Salles, de 44 anos, fala sobre a repercuss�o internacional dos dois fen�menos, as cr�ticas � pol�tica do governo para a Amaz�nia e a proposta de conciliar desenvolvimento econ�mico com preserva��o ambiental.
Confira a seguir os principais trechos:
A quest�o do desmatamento na Amaz�nia ganhou grande repercuss�o nacional e internacional. Como o senhor v� as cr�ticas � pol�tica do governo para a Amaz�nia?
Desde a Constitui��o de 1988, o Brasil seguiu uma agenda ambiental que n�o soube conciliar o desenvolvimento econ�mico e a preserva��o. A Amaz�nia � muito rica em recursos naturais, mas com uma popula��o muito pobre. S�o mais de 20 milh�es de brasileiros que vivem na Amaz�nia e a maioria vive muito mal: sem sa�de, sem educa��o adequada, com �ndice de saneamento baix�ssimo. Ent�o, temos de encontrar uma forma inteligente de tratar a quest�o, que reconhe�a a import�ncia da conserva��o, do cuidado ambiental, mas d� dinamismo econ�mico em escala e em impacto suficientes para aquela popula��o. N�o adianta falar do potencial da floresta, se as fam�lias que vivem l� est�o na mis�ria.
Como o senhor avalia a repercuss�o que o desmatamento e as queimadas na Amaz�nia est�o tendo no Pa�s e no exterior?
At� certo ponto � natural que, neste momento de mudan�a de comportamento, de discuss�o de atividades econ�micas na Amaz�nia, haja essa instabilidade. Uma parte dessa repercuss�o se deve, sem d�vida, � desinforma��o. At� porque n�o interrompemos nada do que vinha sendo feito para justificar essa mobiliza��o. Mas � preciso levar em conta que outra parte dessa campanha contra o Brasil vem de entidades ambientalistas, de ONGs descontentes com o fim dos recursos fartos que elas recebiam, porque estamos fechando a torneira.
N�o � s� o pessoal das ONGs que est� criticando o governo. A revista The Economist, que � respeitada em todo o mundo, publicou recentemente uma reportagem de capa sobre o desmatamento na Amaz�nia.
Tem muita gente s�ria com entendimento incompleto ou enviesado sobre o que a gente est� tentando fazer. A f�rmula para lidar com esse problema � informa��o. Por isso, estou indo no fim de setembro com o presidente a Nova York e Washington. Logo em seguida, vou a alguns pa�ses da Europa para fazer esse esclarecimento. Vamos mostrar o que o Brasil j� faz e tudo que queremos fazer. Aqueles que tiverem disposi��o para ouvir e debater v�o mudar, em alguma medida, de opini�o. Agora, h� outros canais fora do Brasil e aqui que n�o querem ver a realidade.
O presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, chamou as queimadas na Amaz�nia de "crise internacional" e disse que a quest�o deve ser discutida na reuni�o do G-7 (grupo que re�ne os pa�ses ricos), que come�a neste s�bado. Como o senhor analisa isso?
O presidente Macron est� querendo tirar dividendos pol�ticos da situa��o, sobretudo no momento em que suas pr�prias pol�ticas ambientais n�o est�o sendo bem-sucedidas, em especial no que se refere ao n�o cumprimento das metas de redu��o das emiss�es de carbono previstas no Acordo de Paris.
Parece que h� um desejo de ambientalistas do Brasil e do exterior e tamb�m de governos, especialmente na Europa, de transformar a Amaz�nia em "patrim�nio da humanidade". O que o senhor pensa sobre essa proposta?
A Amaz�nia � um patrim�nio brasileiro. Essa hist�ria de que pertence � humanidade � uma bobagem. N�s temos soberania sobre a Amaz�nia. Somos n�s que temos de escolher um modelo, que tem de ser vi�vel economicamente, de prote��o da nossa floresta. Somos n�s tamb�m que temos de implement�-lo. O cuidado com a Amaz�nia, que inspira aten��o no mundo inteiro, � bem-vindo, mas a autonomia de fazer isso � da popula��o brasileira.
O discurso em favor da regulariza��o de atividades econ�micas na Amaz�nia n�o estimula a explora��o irregular da regi�o? O governo n�o passa a mensagem de que est� fazendo vistas grossas?
O governo n�o faz vista grossa. O problema � que a Amaz�nia � uma �rea correspondente a 48 pa�ses europeus. Da mesma forma que a gente v� os pa�ses europeus invadidos por imigrantes ilegais sem que eles consigam controlar isso, mesmo sendo muito mais ricos e tendo muito mais infraestrutura e um territ�rio muito menor que o nosso, aqui voc� n�o vai conseguir controlar uma regi�o t�o grande quanto a Amaz�nia s� na base da fiscaliza��o e de opera��es de comando e de controle. Ou voc� identifica quais s�o os incentivos corretos para estruturar uma solu��o econ�mica para a Amaz�nia ou n�o vai ter opera��o de fiscaliza��o que d� conta.
Diante dos acontecimentos, a impress�o � de que houve um relaxamento na fiscaliza��o no atual governo. Como est� a fiscaliza��o da Amaz�nia?
Em julho, o Ibama fez a maior opera��o de fiscaliza��o de sua hist�ria. Foram 17 equipes simult�neas em diferentes Estados e regi�es. Houve a maior quantidade de apreens�o de madeira, ve�culos, m�quinas, autos de infra��o. Isso mostra que n�o h� orienta��o do governo, nem minha nem de ningu�m dentro do Minist�rio do Meio Ambiente, para impedir fiscaliza��es. Agora, os �rg�os de fiscaliza��o ambiental em n�vel federal - o Ibama e o ICMBio - v�m perdendo or�amento e pessoal ano a ano. Hoje, t�m apenas 50% das vagas preenchidas. � uma situa��o que n�s herdamos. Mas a fiscaliza��o � feita tamb�m pela Pol�cia Militar, por �rg�os estaduais. Quando eles deixam de cumprir o seu papel tamb�m aumenta a atividade ilegal.
O presidente Jair Bolsonaro tem defendido a libera��o da minera��o na Amaz�nia, inclusive em terras ind�genas. Qual a sua posi��o nesta quest�o?
Existem 850 garimpos na Amaz�nia, a maioria em terras ind�genas. N�o � o Bolsonaro que vai liberar. Ali�s, os ind�genas n�o s�o cooptados pelo homem branco. S�o eles que praticam a minera��o, que ajudam muitas vezes a retirada ilegal da madeira de suas pr�prias terras e recebem recursos para isso. Portanto, fingir que essa realidade n�o existe � a pior pol�tica p�blica que pode haver. Se pudermos ter uma discuss�o madura, sensata, aberta sobre o tema, e fazer a regulamenta��o, a formaliza��o dessas atividades, para poder fiscalizar de maneira efetiva, ser� muito melhor para a economia do Pa�s, para a gera��o de emprego e principalmente para a preserva��o do meio ambiente.