
Dom Walmor afirmou que a Igreja n�o � uma “organiza��o n�o-governamental, um partido ou um clube de amigos” e reconheceu a necessidade de "superar ru�dos e equ�vocos internos", sem "negociar o inegoci�vel".
“Quero focalizar a import�ncia de uma compreens�o, de uma participa��o e de apoio de toda a nossa Igreja ao acontecimento do S�nodo para a Amaz�nia. Queremos essa compreens�o por parte de todos os segmentos da sociedade civil, incluindo as inst�ncias governamentais”, disse dom Walmor, arcebispo de Belo Horizonte (MG).
“N�o tem sentido grupo nenhum ou qualquer segmento na igreja atacar o s�nodo, atacar esta ou aquela perspectiva, pois est� garantida sempre a fidelidade � verdade e ao bem", disse o arcebispo durante encontro. “N�o somos pol�ticos como Igreja, n�s dialogamos com eles, n�o somos empreendedores do mundo, dialogamos com eles”.
NOVA LITURGIA
O encontro com o papa Francisco, em outubro, dever� discutir, entre outros assuntos, os novos caminhos para evangeliza��o, a escassez de agentes pastorais, padres e religiosas, a desatualiza��o na prepara��o de leigas e leigos e a participa��o dos fieis na eucaristia. Mas tamb�m est� na pauta a busca de um caminho de participa��o dos povos ind�genas, quilombolas, ribeirinhos, do campo e das cidades, onde as dist�ncias s�o enormes.
A Igreja quer compreender qual liturgia a ser celebrada ali, quais os costumes, tradi��es aut�ctones que podem ser aproveitadas. “Usamos a liturgia romana at� hoje que n�o se difere em nada daquela da bas�lica de S�o Pedro ou de Belo Horizonte”, aponta o bispo em�rito do Xingu, dom Erwin Kr�utler, vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amaz�nica (Repam-Brasil) e membro do Conselho Pr�-Sinodal, que esteve em Belo Horizonte em fevereiro, quando ministrou aula inaugural da Faculdade Jesu�ta de Filosofia, no Bairro Planalto, sob a tem�tica do s�nodo.
'RISCO � SOBERANIA'
A organiza��o do encontro, definido pelo papa Francisco em 2016, vem gerando controv�rsias com setores conservadores da Igreja Cat�lica no Brasil. Pouco ap�s a posse do novo governo brasileiro, o ministro-chefe do Gabinete Institucional, general Augusto Heleno, manifestou preocupa��o com o encontro cat�lico, que, segundo ele, “poderia oferecer riscos � soberania nacional”.
O Planalto, alertado pela Ag�ncia Brasileira de Investiga��o (Abin), que � ligada ao GSI, queria conter o que entende serem avan�os da Igreja Cat�lica contra a agenda do presidente Jair Bolsonaro. O general Heleno declarou ainda que “tem algumas coisas na pauta do s�nodo que s�o de interesse do Brasil. E quem cuida da Amaz�nia brasileira � o Brasil”, e que seria intromiss�o da igreja nos assuntos do governo, declara��es classificadas de “piada” pelo bispo em�rito do Xingu.

O bispo em�rito do Xingu disse n�o entender a raz�o da avers�o do presidente Bolsonaro �s ONGs e defende que � preciso ter uma outra vis�o da Amaz�nia. "Ela � espa�o de vida para povos.” Segundo ele, n�o ser�o feitas propostas pol�tico-partid�rias, "mas vamos chamar a aten��o do mundo inteiro para a situa��o da Amaz�nia e convidar que todo mundo ajude", afirmou. O presidente Bolsonaro chegou a dizer que havia muita influ�ncia pol�tica no s�nodo, o que provocou rea��o entre os bispos.
CONTRAOFENSIVA
Em 1º de setembro, a CNBB lan�ou uma contraofensiva nas redes sociais e em ve�culos de comunica��o cat�licos em defesa do papa Francisco e do S�nodo da Amaz�nia. O prop�sito � rebater cr�ticas dentro e fora da Igreja, como do governo Bolsonaro e de alas conservadoras do clero. A campanha foi divulgada com duas frases para marcar o conte�do nas redes sociais: #euapoioos�nodo e #euapoioopapa.
O S�nodo da Amaz�nia foi convocado pelo papa, em novembro de 2016, portanto ainda no governo Michel Temer, bem antes das elei��es do ano passado, quando 93 bispos se reuniram em Bel�m (PA) para discutir os desafios da Igreja na regi�o e pediram ao papa a convoca��o do encontro.
Dom Kr�utler chegou � regi�o h� 54 anos, aos 26 de idade, e assistiu a muitas perdas em termos de florestas e territ�rios entregues a empresas estrangeiras. “Vi toda minera��o e madeira voltadas para a perspectiva de exporta��o, o agroneg�cio avan�ando em dire��o ao norte, as hidrel�tricas programadas e em execu��o, com consequ�ncias irrevers�veis para a popula��o e o ambiente.”
Para o religioso, � preciso perceber duas interpreta��es sobre a regi�o e sua soberania, a ind�gena que necessita da terra para sua sobreviv�ncia, e quem pensa o solo como com�rcio. “S� falam das riquezas naturais do solo e subsolo e explorar para algu�m l� fora. E qual o ganho da popula��o l�?”, questiona.
O bispo aponta uma dicotomia entre o discurso de “a amaz�nia � nossa” com a pr�tica de todos os governos, que entregam as riquezas sem qualquer retorno para as comunidades locais. E como prova aponta a situa��o prec�ria dos servi�os p�blicos em toda a regi�o, como as escolas, hospitais, saneamento b�sico, num dos estados mais ricos do pa�s, que � o Par�, com jazidas minerais monumentais.
“Isso � injusto, n�o � a vis�o do plano de Deus. Em termos de igreja n�o podemos separar as duas coisas. Me preocupam os anseios, ang�stias e sobreviv�ncia desses povos, tenho essa responsabilidade como cidad�o brasileiro e como ser humano, que tem a obriga��o intr�nseca lutar pela vida”, afirma dom Kr�utler.