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Estado de Minas GERAL

Aquecimento deve piorar inc�ndios na Amaz�nia e destruir 16% do sul da floresta

O alto n�mero de focos de fogo registrado em 2019 se deveu em sua maior parte � queima de �rvores j� derrubadas


postado em 10/01/2020 19:17 / atualizado em 10/01/2020 20:16

A pesquisa considerou modelagens matemáticas para estimar como o aumento das temperaturas e da estiagem(foto: FAB/Divulgação )
A pesquisa considerou modelagens matem�ticas para estimar como o aumento das temperaturas e da estiagem (foto: FAB/Divulga��o )
Estudo estima que queimadas podem liberar at� 17 bilh�es de toneladas de di�xido de carbono na atmosfera, fazendo com que a floresta, que hoje funciona como armaz�m de carbono, se torne um grande emissor do principal g�s-estufa.

Se a Amaz�nia atingiu, em agosto do ano passado, o maior n�mero de focos de queimadas desde 2010, mesmo com uma temporada relativamente �mida, imagine o que poderia acontecer se o clima estivesse mais quente e seco. Foi esse o quadro que um grupo de cientistas buscou desenhar, e o resultado foi preocupante: com o agravamento do aquecimento global, inc�ndios florestais poder�o destruir at� 16% do sul da Amaz�nia at� 2050, liberando at� 17 bilh�es de toneladas de di�xido de carbono na atmosfera.

Nesse cen�rio, a floresta, que hoje funciona como uma esp�cie de armaz�m de carbono, pode se tornar um grande emissor do principal g�s respons�vel pelo aquecimento global, piorando ainda mais o problema, o que pode, por sua vez, intensificar a destrui��o da floresta, em um perigoso processo de retroalimenta��o.

A pesquisa, feita por cientistas no Brasil e nos Estados Unidos, considerou modelagens matem�ticas para estimar como o aumento das temperaturas e da estiagem, provocados pelas mudan�as do clima, podem deixar mais prop�cios os inc�ndios da vegeta��o na por��o sul da Amaz�nia e como tudo isso pode se relacionar com o desmatamento.

A floresta tropical �mida n�o pega fogo sozinha. Quando se fala de queimadas na regi�o, � porque algu�m acendeu o f�sforo. No ano passado, por exemplo, o alto n�mero de focos de fogo registrado em agosto na Amaz�nia se deveu em sua maior parte � queima de �rvores j� derrubadas no intenso processo de desmatamento que ocorreu nos meses anteriores.

Houve, inclusive, uma articula��o de fazendeiros e madeireiros para provocar queimadas, naquele que ficou conhecido como "Dia do Fogo".

Mas essas chamas muitas vezes se espalham e acabam atingindo tamb�m a floresta em p�. Quando ela est� saud�vel, esse inc�ndio � mais dif�cil de se propagar, mas se a vegeta��o est� degradada e esse fogo ocorrer em uma temporada de seca mais intensa, a condi��o para a fogueira perfeita est� formada. � desse inc�ndio florestal de que se trata o estudo. Da "tempestade de fogo que se aproxima no sul da Amaz�nia", como o grupo de cientistas resumiu no t�tulo da pesquisa publicada nesta sexta-feira, 10, na revista Science Advances.

Os pesquisadores - liderados por Paulo Brando, da Universidade da Calif�rnia, em Irvine, e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amaz�nia (Ipam) - trabalharam com modelagens matem�ticas para ver como as intera��es entre mudan�as clim�ticas e desmatamento afetam a quantidade de terra queimada e de gases de efeito estufa emitidos em inc�ndios florestais em uma �rea de 192 milh�es de hectares.


Somente a por��o sul da floresta foi considerada no estudo por j� ser uma �rea mais seca e tamb�m por estar mais degradada. � a �rea que coincide com o chamado arco do desmatamento, por onde ocorre a expans�o da fronteira agr�cola no Acre, sul do Amazonas, Rond�nia, norte do Mato Grosso e sul do Par�.

O grupo observou que, apesar de a floresta prim�ria ficar protegida da maior parte das queimadas provacadas por humanos por causa do seus sub-bosques �midos, o modelo projeta que essa umidade vai diminuir com o passar do tempo, tornando essas florestas cada vez mais vulner�veis.

Papel do desmatamento

O trabalho indica que os inc�ndios florestais devem continuar se intensificando no sudeste da Amaz�nia em cen�rios de mudan�as clim�ticas, mesmo se n�o houver novos desmatamentos. Comparando com dados da d�cada de 2000, o fogo simulado para as pr�ximas d�cadas queimaria �reas maiores, liberando mais energia e emitindo mais CO2 na atmosfera. A estimativa � que a �rea de florestas em risco de queimar com a seca vai dobrar at� 2050 em rela��o aos anos 2010.

Se nessas condi��es ainda se somarem mais desmatamentos, todo esse quadro piora. A �rea queimada chegaria a 22,3 milh�es de hectares, com emiss�o bruta de 17 bilh�es de toneladas de di�xido de carbono. O Brasil hoje, como um todo, emite cerca de 1,9 bilh�o de toneladas de CO2 por ano.

"Por isso defendemos que reduzir o desmatamento � essencial para reduzir a probabilidade de fogo no sudeste da Amaz�nia nas pr�ximas d�cadas", disse Brando ao Estado. O trabalho, que contou com pesquisadores da Centro de Sensoriamento Remoto da Universidade Federal da Minas Gerais, da Nasa e do Woods Hole Research Center, calculou que esfor�os de preven��o de desmatamentos podem reduzir a �rea florestal queimada em at� 30% e reduzir as emiss�es de gases de efeito estufa por inc�ndios na regi�o em 56%.

"Nossa an�lise mostra que precisamos de uma abordagem dupla para proteger as florestas remanescentes das press�es crescentes do desmatamento para expans�o agr�cola e do risco de inc�ndio causado pela mudan�a do clima. Regionalmente, decis�es que reduzam o desmatamento, impe�am a fragmenta��o da floresta e evitem fontes de igni��o para inc�ndios, amortecer�o as bordas da floresta contra as atividades de queimadas", complementa o pesquisador Doug Morton, da Nasa, tamb�m autor do estudo.

"No entanto, tamb�m precisamos de uma estrat�gia global para reduzir as emiss�es de gases de efeito estufa. Sem progresso no n�vel global, a regi�o amaz�nica aquecer� e secar� nas pr�ximas d�cadas, de maneira a tornar os inc�ndios mais prov�veis, mais extensos e mais prejudiciais do que s�o hoje", ponderou em entrevista ao Estado.

Os autores consideram que a atividade generalizada de queimadas que ocorreu no ano passado na Amaz�nia para limpeza de �reas j� desmatadas poderia ter desencadeado inc�ndios ainda maiores e mais danosos se o clima estivesse mais seco. A temporada no ano passado foi mais �mida em outros anos. "Essa combina��o de seca com circunst�ncias econ�micas que favorecem o aumento do desmatamento foi uma combina��o que levou a consequ�ncias desastrosas em 2005", exemplifica Morton.

Com uma seca intensa por causa de um El Ni�o e desmatamento em n�veis elevados, 2005 teve nos meses de julho e agosto o recorde de queimadas da s�rie hist�rica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e, no consolidado do ano, o segundo maior n�mero de focos (213.720), s� perdendo para 2004 (218.637), que, por sua vez, teve a maior taxa de desmatamento do s�culo 21.

Para os pesquisadores, o que est� acontecendo agora com os inc�ndios na Austr�lia deveria ser encarado como um sinal de alerta para o Brasil.

"As mudan�as clim�ticas j� resultaram em condi��es mais quentes e secas em muitas regi�es propensas a inc�ndios. Somente em 2019, vimos condi��es clim�ticas extremas de inc�ndio no Alasca, Calif�rnia e agora na Austr�lia. Embora os ecossistemas sejam diferentes, a receita � a mesma", explica Morton.

"Como mostra nossa pesquisa, regi�es que ficam mais quentes e secas permitem que os inc�ndios se intensifiquem e se espalhem mais rapidamente. Hoje, essas circunst�ncias est�o ocorrendo na Austr�lia. Em nossa an�lise, as mudan�as clim�ticas v�o empurrar a regi�o amaz�nica para condi��es clim�ticas de maior risco de inc�ndio nas pr�ximas d�cadas, com potencial de aumentar as �reas afetadas pelo fogo, mesmo em florestas protegidas", diz.

Brando defende que este estudo sirva de alerta para o governo brasileiro assim como deveria ter sido o relat�rio do Painel Intergovernamental sobre Mudan�a Clim�tica (IPCC) para a Austr�lia. Em 2007, o corpo cient�fico internacional afirmou, com alto grau de confian�a, em seu quarto relat�rio, que ondas de calor e inc�ndios iriam crescer em intensidade e frequ�ncia no pa�s.

"� um pouco a mesma mensagem que estamos passando: durante ondas de calor e secas, a probabilidade de inc�ndios florestais catastr�ficos � gigantesca e vai aumentar no futuro. Se n�o tiver a��o forte para evitar, vamos ter consequ�ncias. Estamos mostrando isso com n�meros", afirma Brando.

Para lembrar: Amaz�nia teve 30% mais focos de fogo em 2019
O bioma amaz�nico teve ao longo de todo o ano passado 89.178 focos de queimadas, alta de 30% em rela��o ao ano de 2018, que registrou 68.345 focos.

O m�s mais quente foi agosto, com cerca de 1/3 das queimadas do ano - na ocasi�o foram registrados 30.901 focos, o maior volume de fogo desde 2010 e o triplo de agosto de 2018. As imagens de queimadas ganharam o mundo e chamaram a aten��o da comunidade internacional, que fez duras cr�ticas ao Brasil.

O governo Bolsonaro decidiu, ent�o, mandar as For�as Armadas para a regi�o por meio de uma Garantia da Lei e Ordem (GLO). O esfor�o levou � redu��o das queimadas em setembro e outubro, que registrou o menor n�mero de focos da s�rie hist�rica do Inpe (que come�ou em 1998), mas o desmatamento, por outro lado, continuou crescendo. V�rios estudos, como do Ipam e da Nasa, relacionaram as queimadas com o alto �ndice de derrubada da floresta.

Em novembro e dezembro, os focos de queimadas voltaram a subir na compara��o com 2018. Em novembro, foram 11.298, contra 8.881 no mesmo m�s do ano anterior. E em dezembro, mesmo com o in�cio da temporada de chuvas, houve 3.275 focos, contra 1.842 em dezembro de 2018.

O desmatamento, por sua, vez, continuou em alta. De 1º de agosto a 17 de dezembro, o Deter, sistema de alertas do Inpe, indicou para uma �rea desmatada de 4.419 km², contra 2.164 km² observados nos �ltimos cinco meses de 2018.

Se o ritmo continuar, a expectativa � que a taxa oficial de desmatamento do per�odo de 2019 a 2020 supere a taxa registrada no ano passado. Entre agosto de 2018 e julho de 2019, o sistema Prodes apontou para uma perda de quase 10 mil km² da Amaz�nia, uma alta de 29,5% em rela��o aos 12 meses anteriores.


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