
"Nosso trabalho � salvar vidas. Mas neste momento, al�m da pandemia da Covid-19, enfrentamos tamb�m uma infodemia global, com desinforma��es viralizando nas redes sociais e amea�ando vidas ao redor do mundo", diz um trecho da carta.
O documento traz uma s�rie de exemplos de desinforma��o sobre o coronav�rus que circulou na internet, como um boato que afirmava que a Covid-19 foi desenvolvida como uma arma biol�gica pela China. Outra mentira que foi compartilhada nas redes sociais dizia que a coca�na era uma cura para a doen�a.
As informa��es falsas sobre a Covid-19 que circulam no Brasil, especificamente no Twitter, t�m forte influ�ncia pol�tica. � o que explica Raquel Recuero, doutora em Comunica��o e Informa��o e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Ela est� trabalhando em uma pesquisa sobre a circula��o de desinforma��o sobre o novo coronav�rus.
"Essas desinforma��es est�o profundamente conectadas com a polariza��o pol�tica que o Brasil passou durante as elei��es", fala. "A gente tem um conjunto de autoridades que legitima formas de desinforma��o, de teorias da conspira��o e afins", explica.
A professora diz que essas desinforma��es n�o circulam de maneira aleat�ria. Elas est�o em redes que foram formadas diante de alinhamentos pol�ticos e, por isso, t�m uma forte liga��o com esse discurso.
O documento assinado pelos profissionais de sa�de prop�e duas medidas para combater a dissemina��o das informa��es falsas. A primeira requer que a rede social corrija a publica��o veiculada. "Para isso, devem alertar e notificar cada pessoa que viu ou interagiu com a desinforma��o sobre sa�de em suas plataformas e compartilhar uma corre��o bem elaborada preparada por verificadores de fatos independentes", pede.
A segunda proposta � para as plataformas "desintoxicarem" seu algoritmo. "Isso quer dizer que o alcance das mentiras nocivas, assim como dos grupos e p�ginas que as compartilham, ser�o reduzidos no feed de not�cias dos usu�rios, ao inv�s de amplificados", explica a carta.
Raquel ressalta algumas atitudes que v�m sendo tomadas pelas redes sociais para minimizar a circula��o de informa��o falsa, como a amplia��o de filtros e a sinaliza��o da desinforma��o. Na segunda-feira, por exemplo, o Instagram colocou um "alerta de fake news" em uma publica��o compartilhada pelo presidente Jair Bolsonaro.
No entanto, a pesquisadora fala que � dif�cil desmentir essas publica��es porque na maior parte das vezes eles n�o s�o completamente falsas. "� sempre mais dif�cil de lidar com a informa��o que � s� parcialmente falsa", afirma. Ela cita como exemplo a hidroxicloroquina.
"Tem um estudo dizendo que ela (a hidroxicloroquina) teria funcionado em um caso espec�fico e, deste caso espec�fico, ela vira uma cura. N�o existe nenhum estudo dizendo que ela curou, mas a interpreta��o sobre algo que aconteceu � que ela seria uma cura", fala.
Desinforma��o sobre sa�de veio antes do coronav�rus
A carta lembra que o compartilhamento de desinforma��o sobre sa�de j� vinha acontecendo antes do surgimento do coronav�rus e eram relacionados, por exemplo, ao c�ncer e aos transtornos do espectro autista. O texto alerta para os perigos das mentiras que circulam nas redes sociais. "(Elas) promovem curas falsas e incentivam o medo de vacinas e dos tratamentos eficazes", alega.
"Trabalhamos em hospitais, cl�nicas e departamentos de sa�de p�blicos no mundo inteiro e estamos bastante familiarizados com os impactos reais desta infodemia. Somos n�s que cuidamos dos beb�s hospitalizados por sarampo, uma doen�a completamente preven�vel, que j� havia sido eliminada em pa�ses como os EUA, mas que agora ressurge gra�as, principalmente, �s fake news anti-vacina��o", exemplificam os profissionais.
O documento � assinado por m�dicos, enfermeiros, cientistas, professores, epidemiologistas e institutos que atuam na �rea da sa�de.