
A vacina contra a COVID-19 � item essencial na lista de desejos dos brasileiros neste fim de ano, certo? N�o para 22% da popula��o, segundo levantamento divulgado na semana passada pelo instituto de pesquisas Datafolha. Outro estudo, desta vez do Instituto Paran� Pesquisas, indicou que 52% dos brasileiros n�o querem que a vacina seja obrigat�ria. Considerando-se a popula��o de 209,5 milh�es de habitantes, s�o mais de 46 milh�es de pessoas, com base no resultado do Datafolha, sem a inten��o de se imunizarem contra a doen�a, que j� infectou 6,2 milh�es e matou 185,6 mil no pa�s.
Um dos fatores que ajuda a entender a resist�ncia dessa enorme quantidade de brasileiros � imuniza��o, preferindo se exporem ao risco de contrair uma enfermidade e continuar disseminando o coronav�rus, s�o as falsas informa��es sobre os efeitos colaterais da vacina. Elas se proliferam pelas redes sociais e s�o estimuladas tamb�m por celebridades em v�rios campos da vida nacional, inclusive na pol�tica.
O pr�prio presidente Jair Bolsonaro tem sido um dos grandes divulgadores de teorias da conspira��o, al�m de apresentar dados sem comprova��o ou fonte confi�vel, desincentivando a vacina��o, enquanto v�rios pa�ses, a exemplo dos Estados Unidos e do Reino Unido, j� inciaram campanhas de imuniza��o contra a COVID-19. Exemplo disso � o uso da vacina dos laborat�rios Pfizer/BioNTech, – que Bolsonaro questionou na semana passada do ponto de vista de pretensos efeitos colaterais –, ao passo que o imunizante j� foi aprovado na Su��a, Estados Unidos, Reino Unido, M�xico, Canad�, Ar�bia Saudita e Bahrein.
Para averiguar informa��es enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre pol�ticas p�blicas e a pandemia da COVID-19, foi criado o Projeto Comprova, iniciativa sem fins lucrativos e formada por 28 jornalistas de diferentes ve�culos de comunica��o do Brasil, inclusive o Estado de Minas. O programa tem checado, em m�dia, um boato por dia sobre vacinas contra a doen�a respirat�ria.
Algumas desses fake news j� foram desmascaradas. O Comprova concluiu ser falsa a informa��o de que a China n�o usar� as pr�prias vacinas. N�o h�, tamb�m, comprova��o de que a vacina da Pfizer provocou paralisia em volunt�rios. Diferentemente do que tem sido propagado, as vacinas desenvolvidas at� o momento n�o provocam dano gen�tico. Outro alerta � que a vacina que teria apresentado problemas no Peru n�o est� sendo testada no Brasil, entre outros v�rios boatos checados e desmentidos.
Em entrevista ao EM, S�rgio L�dtke, editor do Comprova, explica que um dos crit�rios do grupo para escolher qual pretensa not�cia ser� checada � o da viraliza��o da informa��o. Por�m, o trabalho � complexo e cheio de armadilhas. Al�m de ser extremamente dif�cil fazer com que o resultado da verifica��o chegue a todas as pessoas alcan�adas pelo boato, muitas vezes, deve-se ter o cuidado para que o trabalho de checagem n�o seja respons�vel por disseminar informa��es falsas.
‘Mentira conveniente'
“N�o podemos exagerar demais na nossa audi�ncia de verifica��o, e � por isso que escolhemos a viraliza��o como nosso corte para decidir se vamos verificar ou n�o alguma coisa. Toda verifica��o pega o boato pela m�o. N�o consigo fazer uma verifica��o sem descrever o boato”, explica L�dtke. Nesse processo de pegar o boato pela m�o, quem faz a checagem pode estar dando um tiro no p� e levando desinforma��o para a cabe�a de pessoas que, por convic��es pol�ticas, religiosas e culturais j� est�o inclinadas a acreditar em uma mentira que lhes seja conveniente.
“Para as pessoas que tendem a acreditar ou acreditam no boato, publicar a verifica��o e levar esse boato junto pode fazer com que ele ganhe vida. Dar combust�vel a algo que n�o teria alcance t�o grande com o meu trabalho de verifica��o”, diz o jornalista. Isso n�o correria se os leitores tivessem mais cuidado ao consumir qualquer tipo de conte�do, como destaca S�rgio L�dtke.
“Se as pessoas fazem uma leitura mais rasa da verifica��o e leem tamb�m o boato, � poss�vel que muita gente, mesmo lendo a verifica��o, prefira acreditar no boato. Se ela ler toda a verifica��o, acessar todos os links, tenho certeza que mudar� de opini�o. Mas n�o � assim que as coisas acontecem”, lamenta.
A popula��o brasileira � a que mais acredita em fake news no mundo. Essa conclus�o consta num levantamento realizado pela rede para mobiliza��o social Avaaz.org. Outra pesquisa, realizada pela empresa de ciberseguran�a Kaspersky, demonstra que 62% dos brasileiros n�o sabem identificar ou n�o t�m certeza se conseguem diferenciar se uma informa��o na internet � falsa ou verdadeira. Esse mesmo estudo revelou que 16% dos latino-americanos desconhecem completamente o termo fake news.
Segundo S�rgio L�dtke, as pessoas caem no conto das informa��es enganosas porque a narrativa do boato � mais interessante e n�o precisa se ater a fatos e dados. Est� limitada, simplesmente, � imagina��o e criatividade de quem o produz. “Quem produz o boato usa um tipo de narrativa muito atrativa. S� tem como limite a sua criatividade. A falsidade � mais sexy que a verdade. A publica��o da verifica��o est� sempre limitada pelos fatos, pela palavra de um especialista ou por uma base de dados que a gente consulta. Nossas narrativas s�o complexas e nem sempre s�o atrativas. E esse � um problema: como competir com algu�m que n�o tem a m�nima responsabilidade e pode publicar coisas sensacionais e veross�meis?”.
Sofistica��o
As fake news podem ser divididas em sete categorias, segundo o estudo Information Disorder – Desordem de Informa��o, em tradu��o livre – (https://bit.ly/2J4X8T0) publicado em 2017 pela jornalista americana Claire Wardle e pelo iraniano Hossein Derakhshan.
Desde a publica��o do estudo, em 2017, algumas pessoas t�m aprendido, ainda que lentamente, a identificar a desinforma��o. O problema � que os conte�dos falsos tamb�m progrediram para al�m dessas sete categorias, como explica S�rgio L�dtke. Ele apresenta um exemplo de falsidade que foge dos tipos at� ent�o estudados e mostra o estrago que ela pode causar.
“Nesta semana circulou um boato da interrup��o dos testes de uma vacina chinesa no Peru, por ter causado problemas em quatro pessoas. A publica��o n�o mencionava qual era o laborat�rio. Se voc� olhar a publica��o pode pensar que eles esqueceram ou ignoraram, sem inten��o alguma. Se voc� for ver os coment�rios, todo mundo entendeu que seria a CoronaVac. O sujeito joga essa informa��o e isso tem um acesso impressionante e as pessoas compram aquilo como sendo a CoronaVac. E elas pr�prias j� distribuem esse conte�do afirmando que era a CoronaVac, que o Jo�o Doria (governador de S�o Paulo) estaria fazendo isso. Mas, na verdade, era um outro laborat�rio, uma outra vacina que n�o est� sendo testada no Brasil. Existem 13 vacinas sendo desenvolvidas na China. No Peru, houve um problema, que n�o se sabe ainda se est� relacionado com a vacina��o, mas n�o tinha nada a ver com CoronaVac”, explica o editor do Comprova.
A publica��o citada por S�rgio teve dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais. E mesmo sem ter exatamente uma informa��o falsa, apresentou grande potencial de dano. “A publica��o nem sempre precisa mentir e ainda assim consegue causar um efeito de semear algum tipo de desinforma��o. Simplesmente usando a boa-f� ou a torcida das pessoas que recebem aquilo. Tem uma sutileza na produ��o desse tipo de boato. Nesse caso, um grupo de pessoas que j� estava levantando algum tipo de d�vida sobre a vacina que o Butantan (Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, parceiro do laborat�rio chin�s Sinovac Biotech na produ��o da CoronaVac) est� desenvolvendo e que compraram aquilo. Muitas vezes na boa-f� e levaram adiante dizendo: ‘Olha! Era isso que eu tava falando!’ A isso se somam todas as teorias conspirat�rias que acabam envolvendo a vacina e se cria esse tipo de ambiente com pouqu�ssima informa��o”.
As fake news foram divididas em sete categorias, segundo o estudo Information Disorder – Desordem de Informa��o, em tradu��o livre – (https://bit.ly/2J4X8T0) publicado em 2017 pela jornalista americana Claire Wardle e pelo iraniano Hossein Derakhshan. S�o elas:
- Manipula��o do Conte�do - quando a informa��o ou imagem genu�na � manipulada para enganar
- Conte�do Fabricado - conte�do novo que � 100% falso, criado para ludibriar, prejudicar
- Falsa Conex�o - quando manchetes ilustra��es ou legendas n�o confirmam o conte�do
- Falso Contexto - quando o conte�do genu�no � compartilhado com informa��o contextual falsa
- Conte�do Enganoso - uso enganoso de informa��es para enquadrar uma quest�o ou um indiv�duo
- S�tira ou Par�dia - nenhuma inten��o de prejudicar, mas tem potencial para enganar
- Conte�do Impostor - quando fontes genu�nas s�o imitadas
Sa�de desmentiu 84 boatos, entre cura e contraprova
N�o � verdade que a vacina contra a gripe aumenta a chance de contamina��o pelo coronav�rus. Tamb�m n�o � verdade que m�scaras doadas pela China ao Brasil foram propositalmente infectadas. Assim como tamb�m n�o procede a informa��o de que m�dicos tailandeses conseguem curar a COVID-19 em 48 horas. Beber �gua a cada 15 minutos, ch� de bicarbonato com lim�o, caf�, erva-doce, gargarejo com vinagre, alho fervido e �gua t�nica n�o eliminam a doen�a do organismo. Tomar u�sque com mel, infelizmente, tamb�m n�o.
Estas s�o algumas das 84 ‘not�cias’ falsas sobre o coronav�rus que tiveram que ser desmentidas pelo Minist�rio da Sa�de (www.saude.gov.br/fakenews) em seu site oficial desde o in�cio da pandemia. Voltada para informa��es falsas sobre o coronav�rus, outra pesquisa da Avaaz, realizada em abril deste ano, (bit.ly/30I3sEV) mostra que 94% dos brasileiros entrevistados viram pelo menos uma informa��o falsa sobre a doen�a. Percentual de 73% acreditaram em, ao menos, um conte�do ‘desinformativo’ sobre a pandemia. Em n�meros absolutos, significa que 110 milh�es de brasileiros ca�ram em pelo menos uma mentira sobre a COVID-19.
O primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro. Entretanto, em janeiro j� circulava em grupos de WhatsApp uma corrente afirmando que o diretor do Hospital das Clinicas (sabe-se l� de qual cidade) afirmava que uma nova ‘gripe fatal’ poderia ser curada com ch� de erva-doce, pois o preparado caseiro teria ‘a mesma subst�ncia do medicamento Tamiflu’. Esse antigo boato j� circulava desde 2009, �poca do surto de gripe su�na, e foi ‘requentado’ ap�s surgirem os primeiros casos de coronav�rus na China.
A hist�ria da erva-doce foi a primeira ‘not�cia’ falsa que teve que ser desmentida pelo Minist�rio da Sa�de. Uma das mais recentes, tamb�m recha�ada pela pasta, � a de que o ministro da Sa�de, Eduardo Pazuello, teria publicado em suas redes sociais a seguinte mensagem: “Atestado de �bitos (sic) n�o poder�o mais notificar ‘suspeita de COVID-19’. Ter�o que fazer a contra-prova (sic) e constar apenas com o devido resultado positivo, a farra vai acabar”.
O primeiro ind�cio da mentira � que Pazuello n�o possui perfis em redes sociais. O segundo � a sequ�ncia de erros de portugu�s no texto, caracter�sticas t�picas das fake news. Outros s�o as express�es e palavras de ordem que d�o a falsa impress�o de que o usu�rio sempre est� desmascarando alguma farsa, como a recorrente frase “a farra vai acabar”.
A respeito das notifica��es de �bitos, o Minist�rio da Sa�de advertiu: “Informamos que s�o inclu�dos nos n�meros oficiais os casos em que o resultado do teste foi positivo. Os casos de pacientes que vieram a �bito e o resultado do teste ainda n�o foi conclu�do constam como �bitos em investiga��o nos dados divulgados pela pasta”.
O principal vil�o
A populariza��o das redes sociais concedeu aos usu�rios um poder at� pouco tempo concentrado apenas nas m�os dos grandes ve�culos de comunica��o: o de produzir e divulgar conte�do. Entretanto, essa possibilidade tamb�m fez nascer em muitas pessoas o sentimento de que existe um compl� mundial das empresas de m�dia para esconder algumas informa��es da sociedade. A tradu��o para essa falsa ideia s�o as frases caracter�sticas que acompanham a maioria das fake news nas redes sociais: “Repassem antes que seja tarde” ou “Isso a m�dia tradicional n�o mostra”.
Uma das principais raz�es para a m�dia tradicional n�o noticiar certos fatos ou conte�dos em algumas ocasi�es � simples: �s vezes o tal ‘fato’ n�o aconteceu. Informa��es falsas publicadas em redes como Facebook ou Twitter permitem que o usu�rio possa buscar com maior facilidade o respons�vel pela postagem. Entretanto, as famosas correntes que circulam pelo WhatsApp n�o s�o rastre�veis e tornam o aplicativo de mensagens o grande vil�o da desinforma��o.
Segundo o fil�sofo e professor Pablo Ortellado, a altera��o de funcionalidades do WhatsApp � um fator de risco. Isso porque o aplicativo come�ou como uma ferramenta de mensagens privadas e, com o tempo, foi adquirindo caracter�sticas de divulga��o de conte�do em massa, alcan�ando milh�es de pessoas.
“Mensagens que viralizaram no WhatsApp terminaram tendo impacto enorme no p�blico. Conseguimos medir isso por pesquisas de opini�o, que correntes de WhatsApp chegam a dezenas de milh�es de brasileiros”, disse Pablo em entrevista � r�dio CBN.
Segundo ele, o sigilo de mensagens � necess�rio quando se trata de envios individuais, mas deveria ser relativizado nos casos de remessas massivas. “Essas correntes de WhatsApp t�m a mesma prote��o de sigilo aplicada a mensagens de um para um. Isso � uma combina��o muito ruim. Permite que se lancem campanhas negacionistas sobre a COVID-19 ou atacando institui��es democr�ticas de maneira oculta, porque n�o � poss�vel encontrar o autor da mensagem”, afirmou.
Fiocruz no bombardeio
Pesquisa desenvolvida pela Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que 73,7% das informa��es e not�cias falsas sobre o coronav�rus circularam pelo WhatsApp. Outros 10,5% foram publicadas no Instagram e 15,8% no Facebook. A pr�pria funda��o que realizou o estudo muitas vezes tem seu nome envolvido no conte�do mentiroso. Entre essas fake news propagadas pelo WhatsApp, 71,4% citam a Fiocruz como fonte.O que � o coronav�rus
Coronav�rus s�o uma grande fam�lia de v�rus que causam infec��es respirat�rias. O novo agente do coronav�rus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doen�a pode causar infec��es com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
V�deo: Por que voc� n�o deve espalhar tudo que recebe no WhatsappComo a COVID-19 � transmitida?
A transmiss�o dos coronav�rus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secre��es contaminadas, como got�culas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal pr�ximo, como toque ou aperto de m�o, contato com objetos ou superf�cies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.
V�deo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronav�rus?
Como se prevenir?
A recomenda��o � evitar aglomera��es, ficar longe de quem apresenta sintomas de infec��o respirat�ria, lavar as m�os com frequ�ncia, tossir com o antebra�o em frente � boca e frequentemente fazer o uso de �gua e sab�o para lavar as m�os ou �lcool em gel ap�s ter contato com superf�cies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
V�deo: Flexibiliza��o do isolamento n�o � 'liberou geral'; saiba por qu�Quais os sintomas do coronav�rus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas g�stricos
- Diarreia
Em casos graves, as v�timas apresentam:
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avan�am na identifica��o do comportamento do v�rus.
- Pneumonia
- S�ndrome respirat�ria aguda severa
- Insufici�ncia renal
V�deo explica por que voc� deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o v�rus
Nas redes sociais, a propaga��o da COVID-19 espalhou tamb�m boatos sobre como o v�rus Sars-CoV-2 � transmitido. E outras d�vidas foram surgindo: O �lcool em gel � capaz de matar o v�rus? O coronav�rus � letal em um n�vel preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar v�rias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS n�o teria condi��es de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um m�dico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronav�rus.
Coronav�rus e atividades ao ar livre: v�deo mostra o que diz a ci�nciaPara saber mais sobre o coronav�rus, leia tamb�m:
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