
A assinatura da normatiza��o deve sair ainda no come�o da pr�xima semana. M�dicos do pr�prio minist�rio da sa�de que s�o favor�veis ao uso do medicamento, mesmo sem a comprova��o da efic�cia, j� elaboram o texto em conformidade com a vontade de Bolsonaro. Caber� a Pazuello assin�-lo. Nos bastidores, Teich teria dito que n�o queria colocar em jogo a pr�pria trajet�ria como m�dico para mudar um protocolo sem confirma��es cient�ficas.
Durante a semana, Bolsonaro voltou � carga em defesa da cloroquina para tratamento do novo coronav�rus. A inten��o � ampliar o uso de forma protocolar para quem apresentar os sintomas leves da doen�a. “Se o Conselho Federal de Medicina decidiu que pode usar cloroquina desde os primeiros sintomas, por que o governo federal, via ministro da Sa�de, vai dizer que � s� em caso grave? Eu sou comandante, presidente da Rep�blica, para decidir, para chegar para qualquer ministro e falar o que est� acontecendo. E a regra � essa, o norte � esse", disse Bolsonaro na quinta-feira, em videoconfer�ncia com empres�rios.
No in�cio da noite de ontem, horas ap�s Nelson Teich oficializar sua sa�da do governo, o Minist�rio da Sa�de divulgou nota para anunciar as mudan�as no tratamento de doentes da covid-19 pelo Sistema �nico de Sa�de. Apesar de n�o citar hidroxicloroquina, o comunicado abre brecha para o uso do medicamento. “O Minist�rio da Sa�de est� finalizando novas orienta��es de assist�ncia aos pacientes com covid-19. O objetivo � iniciar o tratamento antes do seu agravamento e necessidade de utiliza��o de UTIs (unidades de terapia intensiva). Assim, o documento abranger� o atendimento aos casos leves, sendo descritas as propostas de disponibilidade de medicamentos, equipamentos e estruturas, e profissionais capacitados”, diz a nota. O objetivo, segundo a pasta, � dar suporte aos profissionais do SUS e acesso “aos usu�rios mais vulner�veis �s melhores pr�ticas que est�o sendo aplicadas no Brasil e no mundo.”
Apesar da insist�ncia do presidente da Rep�blica em adotar o uso da hidroxicloquina no SUS, especialistas apontam os riscos do uso do medicamento. Faltam estudos conclusivos que apontem benef�cios, at� em casos graves. Epidemiologista e professor da Universidade de Bras�lia (UnB), Jonas Brant explica que at� o momento n�o h� nenhum estudo com um n�mero mais robusto de pacientes que tenha evidenciado efeitos positivos do uso da hidroxicloroquina. De acordo com ele, o que provocou uma expectativa de que o rem�dio poderia ser bom foi um pequeno estudo feito com o medicamento na Fran�a, mas isso n�o se confirmou em an�lises maiores. “O uso indiscriminado da hidroxicloroquina na popula��o ir� gerar a falsa sensa��o de que temos uma cura, quando n�o � verdade”, disse.
M�dico sanitarista da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) Bras�lia, Cl�udio Maierovitch pontua que dos estudos divulgados at� o momento, nenhum verificou que a cloroquina funciona para tratamento de pacientes com covid-19. “Alguns estudos verificaram pior – que al�m de n�o funcionar, havia um risco maior para as pessoas que tomavam”, afirmou.
Em abril, por exemplo, um estudo realizado em Manaus foi interrompido ap�s a ocorr�ncia de mais mortes no grupo de pessoas que estava tomando hidroxicloroquina do que as que n�o estavam usando o medicamento. O grupo de pesquisadores, que inclu�a funcion�rios da Fiocruz, consideraram que as informa��es coletadas at� ent�o eram suficientes para interromper o estudo e n�o expor mais pessoas. A dose usada na pesquisa era a mesma de um estudo feito na China.
De acordo com o sanitarista Cl�udio Maierovitch, at� o momento a maior parte dos estudos divulgados n�o mostra vantagem no uso do rem�dio. Ele mencionou o estudo publicado esta semana no Journal of the American Medical Association (JAMA), nos Estados Unidos, segundo o qual o medicamento n�o � capaz de evitar mortes de pacientes com covid-19 e ainda pode gerar mais problemas com o uso.
Jonas Brant explica, ainda, que resultado de testes de laborat�rio � uma coisa, outra � fazer em pessoas. Ainda que o rem�dio mostre efic�cia em testes do tipo, pode n�o apresentar benef�cios quando � aplicado em humanos. “Se eu colocar desinfetante no v�rus, ele morre. Mas se eu tomar, vou morrer de intoxica��o”, exemplificou. O Minist�rio da Sa�de autorizou o uso da hidroxicloroquina para casos muito graves de pacientes hospitalizados, ap�s an�lise do m�dico que cuida do caso.
Infectologista do hospital Em�lio Ribas, Jamal Suleiman aponta que o que se sabe sobre a hidroxicloroquina no momento � que � uma �tima droga para tratar a mal�ria e que tem uma atividade em doen�as inflamat�rias, como l�pus. J� em rela��o � covid-19, o uso em hospitais se d� como um ensaio cl�nico, controlado, para avaliar os efeitos do rem�dio em pacientes graves. At� o momento, n�o foi poss�vel provar que o produto muda a hist�ria natural da doen�a, reduzindo o tempo de interna��o e a mortalidade.
Na comunidade cient�fica, h� posi��es mais contundentes contr�rias do medicamento. “J� � hora de mudar o discurso de 'n�o temos evid�ncias suficientes de que a cloroquina funciona e que precisamos de mais estudos'. J� temos evid�ncias suficientes de que a hidroxicloroquina n�o � eficaz no tratamento de covid-19 e apresenta riscos card�acos que n�o devem ser negligenciados”, afirma Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ci�ncias Biom�dicas (ICB) da USP. Ela defende o encerramento dos estudos sobre a subst�ncia “para dar espa�o para outros medicamentos mais promissores”.