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Estado de Minas PANDEMIA

COVID-19: ''O que vai acontecer � um massacre'', diz ex-diretor do Minist�rio da Sa�de

J�lio Croda, ex-diretor do Departamento de Imuniza��es e Doen�as Transmiss�veis, afirma que flexibiliza��o em v�rios estados vai acelerar a dissemina��o do novo coronav�rus


postado em 01/06/2020 04:00 / atualizado em 01/06/2020 10:59

Hospital de campanha em Santo André: cidades ao redor de SP devem apresentar ação conjunta para ter flexibilização(foto: Miguel SCHINCARIOL/AFP %u2013 11/5/20)
Hospital de campanha em Santo Andr�: cidades ao redor de SP devem apresentar a��o conjunta para ter flexibiliza��o (foto: Miguel SCHINCARIOL/AFP %u2013 11/5/20)

O debate sobre a flexibiliza��o do isolamento social em virtude da pandemia do novo coronav�rus come�a a ganhar corpo no Brasil. Estado mais afetado no pa�s, S�o Paulo divulgou, na semana passada, um plano para dar in�cio ao desconfinamento. O Amazonas segue caminho semelhante, mas, no interior, os rumos ser�o decididos individualmente pelos prefeitos. Especialistas, no entanto, alertam: as medidas que tornam a quarentena menos r�gida devem ser tomadas coletivamente, considerando as necessidades de cada regi�o.

O sistema de sa�de de Guarulhos, na Regi�o Metropolitana de S�o Paulo, est� no limite. Na �ltima quinta-feira, um dia ap�s o governador Jo�o Doria (PSDB) anunciar a flexibiliza��o da quarentena no estado, 100% das unidades de terapia intensiva (UTIs) da cidade estavam ocupadas. Ao divulgar o plano, composto por cinco fases, o governo paulista estabeleceu uma s�rie de indicadores para o flexibiliza��o gradual. A capacidade ociosa de leitos � um deles. No dado mais recente sobre a capacidade de leitos em Guarulhos, divulgado no s�bado (30), a taxa de ocupa��o das UTIs diminuiu, chegando a 84,9%.

"O que vai acontecer � um massacre. Quem est� morrendo? Pretos e pobres"

J�lio Croda, ex-diretor do Minist�rio da Sa�de



As cidades que circundam a capital foram divididas em cinco sub�reas. Elas devem apresentar, juntas, propostas para retomar as atividades. Enquanto isso n�o ocorre, apenas os servi�os essenciais podem funcionar. Para aderir � retomada gradual, que come�a nesta segunda em parte do estado, os munic�pios ter�o que seguir, tamb�m, outros crit�rios, como o uso obrigat�rio de m�scaras, a continuidade das medidas de distanciamento em �reas p�blicas e a redu��o da curva de infectados.



Em Guarulhos, o colapso, por ora, � evitado por a��es como a utiliza��o de leitos extras, instalados em salas vermelhas, onde s�o alojados pacientes que, muitas vezes, aguardam a vac�ncia de UTIs.



Segundo o DataSUS, Guarulhos tem 180 leitos de UTI nos hospitais p�blicos – 80 deles exclusivos aos pacientes da COVID-19. H�, ainda, outros 494 leitos cl�nicos. “O munic�pio est� no limite no que se refere aos leitos de UTI para COVID-19, mas a prefeitura est� se empenhando e est� muito pr�xima de ampliar esse n�mero com a contrata��o de leitos privados para garantir a assist�ncia � popula��o”, diz, em nota, a administra��o municipal.

Questionada pelo Estado de Minas sobre o andamento das negocia��es, a prefeitura guarulhense alega que o movimento est� em “fase final”, mas que ainda n�o � poss�vel calcular o montante a ser gasto.

Dilema no Norte do pa�s

O governador amazonense, Wilson Lima (PSC), tamb�m programou o in�cio da flexibiliza��o para hoje. Ao anunciar a medida, ele explicou que o programa vale apenas para a capital, Manaus, visto que no interior a decis�o caber� aos gestores locais. Contudo, em entrevista exclusiva para o Estado de Minas, o infectologista J�lio Croda, ex-integrante do Minist�rio da Sa�de, pesquisador da Funda��o Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), diz que o relaxamento das restri��es n�o pode ser pensado municipalmente.



“Quando um paciente de uma cidade que n�o tem UTI precisa de um leito, ele � encaminhado a uma das vagas dispon�veis naquela macrorregi�o. A decis�o de flexibilizar ou restringir o isolamento tem que ser tomada em conjunto, entre todas as cidades de uma macrorregi�o. Todas ser�o impactadas por um aumento no n�mero de casos. As cidades n�o podem ser olhadas individualmente, pois 80% dos nossos munic�pios t�m menos de 20 mil habitantes e a maioria n�o conta com leitos de UTI”, explica.

Segundo ele, a aus�ncia de diretrizes vindas do governo federal torna complicada a situa��o enfrentada por unidades federativas e cidades. “Sem o apoio da presid�ncia e com estados e munic�pios pressionados pela iniciativa privada para reabrir mesmo sem leitos, o que vai acontecer � um massacre. Quem est� morrendo? Pretos e pobres, que moram em comunidades carentes, onde o v�rus circula mais intensamente, j� que a popula��o de baixa renda n�o consegue cumprir o distanciamento social. Nas classes altas, o v�rus circula menos e h� mais leitos no setor privado. Em compensa��o, nas classes pobres, h� mais circula��o e faltam leitos”, afirma.

Júlio Croda, ex-diretor do Departamento de Imunizações e Doenças Transmissíveis(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
J�lio Croda, ex-diretor do Departamento de Imuniza��es e Doen�as Transmiss�veis (foto: Wilson Dias/Ag�ncia Brasil)
Entrevista/J�lio Croda

Infectologista da Fiocruz e ex-diretor do Departamento

de Imuniza��es e Doen�as Transmiss�veis do Minist�rio da Sa�de

Jo�o Doria anunciou a flexibiliza��o da quarentena em algumas cidades de S�o Paulo. Para aderir, � preciso ter capacidade ociosa de leitos. Mesmo assim, a decis�o do governador pode trazer consequ�ncias �s cidades que, como Guarulhos, est�o com o sistema de sa�de no limite?
� bom sempre regionalizar a quest�o. Precisamos entender como os leitos s�o regulados para uma determinada regi�o. Quando um paciente de uma cidade que n�o tem UTI precisa de um leito, ele � encaminhado a uma das vagas dispon�veis naquela macrorregi�o. A decis�o de flexibilizar ou restringir o isolamento tem que ser tomada em conjunto, entre todas as cidades de uma macrorregi�o. Todas ser�o impactadas por um aumento no n�mero de casos. As cidades n�o podem ser olhadas individualmente, pois 80% dos nossos munic�pios t�m menos de 20 mil habitantes e a maioria das cidades n�o t�m leitos de UTI. Por isso, o olhar precisa ser regionalizado.

Como convencer os brasileiros sobre a necessidade das medidas restritivas mesmo em meio �s flexibiliza��es anunciadas em algumas partes do pa�s?
Acho muito dif�cil. J� est�vamos em situa��o dif�cil, com o governo federal sem apoiar o isolamento. O Minist�rio da Sa�de n�o publicou materiais t�cnicos, com indicadores precisos, que apontem as regi�es de sa�de que precisam de mais restri��es ou que podem iniciar a flexibiliza��o. Alguns estados, como Minas, Rio Grande do Sul e S�o Paulo, fizeram isso de modo independente. Sem o apoio da presid�ncia e com estados e munic�pios pressionados pela iniciativa privada para reabrir mesmo sem leitos, o que vai acontecer � um massacre. Quem est� morrendo? Pretos e pobres, que moram em comunidades carentes, onde o v�rus circula mais intensamente, j� que a popula��o de baixa renda n�o consegue cumprir o distanciamento social. Nas classes altas, o v�rus circula menos e h� mais leitos no setor privado. Em compensa��o, nas classes pobres, h� mais circula��o e faltam leitos, principalmente nas regi�es Norte e Nordeste. A decis�o � do gestor local, mas do ponto de vista t�cnico, o Minist�rio da Sa�de tem que fornecer as ferramentas para as tomadas de decis�o.

Por que o senhor resolveu deixar o Minist�rio da Sa�de?

Queria deixar o Minist�rio da Sa�de desde o ano passado, mas fiquei por conta da COVID-19. Iria ficar at� o fim da pandemia, pois, como sempre disse o ex-ministro (Luiz Henrique) Mandetta, n�o podemos abandonar o paciente. Mas, por conta das discuss�es sobre o (fim) do distanciamento social, n�o queria ser respons�vel pelo tanto de �bitos que j� tivemos. Nesse ritmo, vamos ter 80 mil �bitos. Com a flexibiliza��o, vamos ter uma acelera��o, com recordes atr�s de recordes de casos e mortes. Vamos flexibilizar sem ter condi��es. Sa�, em 24 de mar�o, onde houve ruptura entre as recomenda��es do minist�rio e os pensamentos do presidente sobre o tema. Tanto que, cerca de 20 dias depois, Mandetta saiu. Enquanto ele defendia o isolamento social, o presidente era contra.



Interioriza��o do caos

Um estudo do Instituto de Comunica��o e Informa��o em Sa�de (Icict), ligado � Fiocruz, aponta que, de 9 a 16 de maio, nos munic�pios com popula��o entre 20 mil e 50 mil habitantes, a cada dia, seis cidades registraram, pela primeira vez, �bitos em decorr�ncia da doen�a. Na mesma semana, entre cidades ainda menores – com popula��o entre 10 mil e 20 mil –, a cada 24 horas, cinco munic�pios passaram a constar na lista de localidades com baixas causadas pelo coronav�rus.


A interioriza��o da doen�a pode trazer consequ�ncias aos hospitais instalados nas grandes metr�poles. “A doen�a chegou primeiro �s capitais. O coronav�rus tem uma evolu��o cl�nica lenta, com o paciente, muitas vezes, ficando v�rios dias na UTI. Ent�o, quando chega �s cidades menores, a tend�ncia � que as pessoas busquem atendimento nas capitais, onde as UTIs v�o estar lotadas”, pontua Diego Xavier, epidemiologista e pesquisador do Icict.



No Amazonas e no Par�, por exemplo, mais de 20% da popula��o mora em �reas com poucos recursos m�dicos. Se, no in�cio da pandemia em solo amazonense, Manaus concentrava grande parte dos casos, o panorama agora � outro. “Norte e Nordeste t�m sofrido mais com a doen�a pois, historicamente, o sistema de sa�de nessas regi�es � deficit�rio. Ent�o, qualquer oscila��o para mais ou para menos no servi�o faz chegar ao limite extremo. Por isso, l� colapsou primeiro. No Sul e no Sudeste h� contingente populacional muito maior. Logo, mesmo tendo mais dinheiro para investimentos, quando a demanda de outros munic�pios come�ar a chegar, teremos essa situa��o (esgotamento do sistema)”, acrescenta o epidemiologista.

Mudan�as na contagem

Al�m de S�o Paulo, outro estado brasileiro ultrapassou a China, epicentro inicial da pandemia, em n�meros de infectados pela COVID-19: o Rio de Janeiro. A mais recente atualiza��o da doen�a em terras fluminenses aponta 53.388 doentes e 5.344 mortos.

Mesmo ante o cen�rio, a �ltima semana foi cercada de pol�micas: na capital, o boletim da �ltima ter�a-feira contabilizava 1.177 mortes a menos que o levantamento do dia anterior. Isso porque a cidade comandada por Marcelo Crivella (Republicanos) passou a contabilizar, apenas, os sepultamentos cujos atestados de �bito deixam claro que o coronav�rus foi a causa da morte.

Retomada no Nordeste

Com 46.506 infectados – al�m de 2.956 �bitos –, o Cear� tamb�m anunciou um plano de retomada. Nesta segunda-feira, ind�strias voltam a operar. A expectativa � liberar, gradualmente, o funcionamento do com�rcio em duas semanas.

Outro estado fortemente afetado pela COVID-19, com 37.296 caos e 2.900 mortes, o Par� p�s fim ao lockdown e come�ou, na semana passada, uma flexibiliza��o “degrau a degrau”, nas palavras do governador Helder Barbalho (MDB). A partir de amanh�, por exemplo, shoppings, igrejas e sal�es de beleza – cumprindo crit�rios sanit�rios – j� podem reabrir em Bel�m e outras regi�es paraenses.


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