
O Pa�s, segundo com maior n�mero de mortes e casos do novo coronav�rus no mundo, tem 63.254 �bitos e mais de 1,5 milh�o de infec��es confirmadas.
� a primeira vez desde 1953 que o minist�rio fica tanto tempo sem um titular. Naquele ano, Ant�nio Balbino comandou de agosto a dezembro a pasta interinamente, enquanto tamb�m era chefe do Minist�rio da Educa��o (MEC). As duas pastas haviam acabado de se separar.
Em outras ocasi�es, Bolsonaro foi mais �gil. Quando S�rgio Moro pediu demiss�o do Minist�rio da Justi�a e Seguran�a P�blica, ele foi substitu�do por Andr� Mendon�a em cinco dias. O economista Carlos Decotelli assumiu o MEC tamb�m cinco dias ap�s Abraham Weintraub deixar o posto.
A Educa��o voltou a ficar sem ministro cinco dias ap�s Decotelli ser nomeado, mas, nesse caso, seu substituto deve ser anunciado em breve.
Na pr�pria pasta da Sa�de foi assim quando Luiz Henrique Mandetta (DEM) saiu do posto. Nelson Teich assumiu no dia seguinte. Sob comando interino do general Pazuello, o minist�rio abandonou a defesa do distanciamento social mais r�gido e passou a recomendar tratamentos para a covid-19 sem aval de entidades m�dicas e cient�ficas, como o uso da hidroxicloroquina. A pasta ainda perdeu t�cnicos com d�cadas de experi�ncia no SUS e nomeou militares para cargos estrat�gicos.
Mesmo interino no cargo, Pazuello � apontado por colegas de governo e secret�rios locais de sa�de como mais influente e poderoso do que Teich, �ltimo titular da pasta, que pediu demiss�o em 15 de maio.
Os primeiros movimentos do Minist�rio da Sa�de sob gest�o interina escancararam a mudan�a brusca de posicionamento do governo federal.
Em 20 de maio, o �rg�o publicou orienta��es para uso da cloroquina desde os primeiros sintomas do novo coronav�rus, mesmo sem a droga apresentar efic�cia contra a doen�a. A medida era uma exig�ncia de Bolsonaro e atropelou recomenda��es dos pr�prios t�cnicos do minist�rio e de entidades de sa�de.
O minist�rio tamb�m deixou de defender benef�cios do distanciamento social e tra�ar estrat�gias sobre quarentena. A pasta usa como escudo o argumento distorcido de que o Supremo Tribunal Federal (STF) retirou este poder da Uni�o. Pazuello e seus subordinados t�m dito que cabe a Estados e munic�pios pensarem nestas medidas.
Para o m�dico Sergio Cimerman, coordenador cient�fico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e colunista do Estad�o, o minist�rio est� "ac�falo". "Pazuello est� formando a sua equipe e tomando posi��es. Mas n�o est� sendo embasado por sociedade cient�fica nenhuma. Quando a gente n�o tem um �rg�o federal que d� um norte aos planos de a��o em sa�de, ficamos muito perdido. A popula��o se sente em p�nico", disse, em debate sobre a doen�a transmitido pelo Estad�o na quinta-feira, 2.
No mesmo evento, o ex-secret�rio de Vigil�ncia em Sa�de do minist�rio Wanderson Oliveira apontou "preocupa��o" pelo momento do minist�rio. Para ele, que � epidemiologista, a resposta � covid-19 ficou "err�tica, esquizofr�nica, fragmentada ao longo do tempo". Al�m da pandemia, Oliveira alerta sobre o risco de desmonte da vigil�ncia de doen�as j� conhecidas, como dengue, influenza e sarampo.
O momento de maior exposi��o de Pazuello a cr�ticas ocorreu no come�o de junho, quando, para atender ao desejo de Bolsonaro de reduzir a repercuss�o pela alta de mortos, o minist�rio mudou o formato de divulga��o das estat�sticas. A ideia era esconder mortes de datas anteriores que ainda aguardavam a confirma��o.
O portal com dados do minist�rio chegou a ficar fora do ar, mas a divulga��o foi retomada ap�s forte press�o de Poderes, da sociedade e por decis�o do Supremo Tribunal Federal (STF).
A m�dica sanitarista e presidente da Associa��o Brasileira de Sa�de Coletiva (Abrasco), Gulnar Azevedo, afirma que a "desarticula��o" do minist�rio no combate � covid-19 aumenta o descontrole da pandemia no Pa�s. "H� uma falta total de lideran�a que possa acomodar o processo. O ministro � interino. Um militar que n�o foi formado para isso", disse.
Apesar do salto de casos (de 218 mil para mais de 1,5 milh�o) e mortos (de 14,8 mil para mais de 60 mil) na gest�o Pazuello, o presidente tem repetido que o ministro interino faz boa gest�o e pode ser efetivado. "Estamos com uma falta na Sa�de, mas se bem que o Pazuello est� indo muito bem. A parte de gest�o est� excepcional. Coisa nunca vista na hist�ria. Sabemos que ele n�o � m�dico, mas ele est� com uma equipe fant�stica no minist�rio", disse no dia 25 de junho, em transmiss�o nas redes sociais.
Pazuello j� acompanhou o chefe em manifesta��o pr�-governo em Bras�lia, com aglomera��o, e j� foi visto sem m�scara em evento no Pal�cio do Planalto. As duas situa��es contrariam recomenda��es de autoridades de sa�de para evitar propaga��o do v�rus.
Secret�rios de Estados e munic�pios, em geral, preferem Pazuello ao antecessor, Teich. Segundo gestores do SUS, como n�o h� mais esperan�a de que o minist�rio coordene a estrat�gia de quarentena, serve de consolo maior abertura para o di�logo e agilidade para entrega de recursos e equipamentos demonstrados por Pazuello.
O ministro interino tem ainda bom tr�nsito no meio pol�tico. Nas �ltimas duas semanas ele recebeu aliados do presidente Bolsonaro e lideran�as do Centr�o, grupo de partidos que tem recebido cargos e verba para votar com o governo no Congresso Nacional.
Ele se reuniu, nestes dias, com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e os deputados Arthur Lira (PP-AL), Marcel Van Hattem (Novo-RS), F�bio Rabalho (MDB-MG), Ricardo Barros (PP-PR), Hugo Leal (PSD-RJ) e Giovani Cherini (PL-RS).
Pazuello, no entanto, dispensa declara��es � imprensa. Desde que assumiu o comando da Sa�de, n�o esteve em nenhuma entrevista coletiva - sequer naquela que anunciou a maior pauta positiva de sua gest�o: uma parceria para pesquisa e produ��o da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a farmac�utica AstraZeneca.
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O general foi pin�ado do "banco de talentos" das For�as Armadas para entrar no Minist�rio da Sa�de. Primeiro, ele ocupou o cargo de secret�rio-executivo na gest�o de Teich. Neste per�odo j� era apontado por secret�rios locais como o verdadeiro ministro da Sa�de.
Desde a sa�da de Mandetta, em 16 de abril, t�cnicos com mais de uma d�cada de atua��o no SUS t�m deixado o minist�rio. Um exemplo � o ex-secret�rio Wanderson Oliveira, que tem passagens pela pasta desde 2001.
Sob o comando interino de Pazuello, cargos estrat�gicos da pasta foram loteados por militares. H� mais de 20 nomeados, sendo 14 da ativa. Eles est�o, principalmente, em postos na gest�o de dados, recursos humanos, or�amento, log�stica e contratos.
O ministro interino fez ainda mudan�as em cinco das sete cadeiras de secret�rios da Sa�de. Para secret�rio-executivo, o "n�mero 2" do minist�rio, foi nomeado o oficial da reserva Elcio Franco Filho.
O PL, partido do Centr�o, emplacou o doutor em bioqu�mica Arnaldo Correia de Medeiros como secret�rio de Vigil�ncia em Sa�de (SVS), posto-chave para elabora��o da estrat�gia de combate � covid-19 e outras doen�as. O coronel Luiz Otavio Franco Duarte tornou-se secret�rio de Aten��o Especializada (SAES), respons�vel, entre outros pontos, pelo custeio de leitos pelo Pa�s.
Seguidor de Olavo de Carvalho, escritor considerado "guru do bolsonarismo", o m�dico H�lio Angotti Neto foi nomeado secret�rio de Ci�ncia, Tecnologia, Inova��o e Insumos Estrat�gicos (SCTIE). A pasta trata da an�lise de novos tratamentos para o SUS e desenvolvimento do parque fabril de medicamentos.
Ativista "anti-aborto", o m�dico Raphael C�mara de Medeiros Parente assumiu a Secretaria de Aten��o Prim�ria (SAPS), que organiza a��es de cuidados b�sicos em unidades de atendimento.
Al�m dos novos secret�rios, Pazuello manteve no minist�rio a m�dica Mayra Pinheiro, secret�ria de Gest�o do Trabalho e da Educa��o (SGTES). Filiada ao Novo, Pinheiro � defensora do presidente Bolsonaro e tornou-se porta-voz do minist�rio sobre a cloroquina. Al�m dela, segue na pasta o coronel Robson Santos Silva, secret�rio Especial de Sa�de Ind�gena (SESAI).
Procurado para comentar a gest�o de Pazuello, o Minist�rio da Sa�de afirmou que "assumiu o compromisso" de garantir "efetividade de a��es" contra a covid desde o come�o da pandemia. A pasta tamb�m disse que trabalha com corpo t�cnico qualificado, mantendo a "normalidade das atividades da pasta".