
Ao menos seis em cada 10 jovens que concluem o ensino m�dio n�o continuam a estudar porque precisam trabalhar ou porque n�o t�m recursos para bancar os estudos, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua: Educa��o 2019, divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).
O levantamento mostra que o ensino superior � hegemonicamente privado no Brasil. Apenas um quarto dos estudantes de gradua��o (26,3%) est�o matriculados em institui��es de ensino superior p�blicas.
O pa�s tem 13,810 milh�es de jovens de 15 a 29 anos que j� t�m ao menos o ensino m�dio completo mas n�o puderam prosseguir com os estudos e ingressar no ensino superior: 44,4% deles argumentaram que precisavam trabalhar, e outros 17,5% alegaram falta de recursos para bancar os estudos.
"Esse motivo da falta de dinheiro � presente principalmente entre essas pessoas que estariam aptas a cursar o ensino superior. A gente tem preponder�ncia do ensino superior privado no Brasil", lembrou Marina Aguas, analista da Coordena��o de Trabalho e Rendimento do IBGE.
A rede p�blica de ensino atende a maior parte dos estudantes brasileiros desde a creche at� o ensino m�dio, per�odo em que a taxa de escolariza��o da popula��o na faixa et�ria avan�a para n�veis de universaliza��o. Em 2019, as institui��es p�blicas concentravam 74,7% dos alunos na creche e pr�-escola, 82% dos estudantes do ensino fundamental regular e 87,4% dos que cursavam o ensino m�dio regular.
"A principal provedora � a rede p�blica, e cai bastante quando a gente vai para gradua��o e p�s-gradua��o. Tem a ver com a nossa lei de educa��o, tem a infraestrutura montada pelos governos locais para prover esse ensino b�sico. Quando a gente parte para o ensino superior, a gente j� percebe a presen�a das institui��es privadas", disse Adriana Beringuy, analista da Coordena��o de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Em 2019, 73,7% dos estudantes de gradua��o frequentavam uma institui��o de ensino privada. Nos cursos de p�s-gradua��o, a rede privada deteve 74,3% dos estudantes nessa etapa de instru��o.
No Brasil, a propor��o de pessoas de 25 anos ou mais de idade que terminaram a educa��o b�sica obrigat�ria - ou seja, conclu�ram, no m�nimo, o ensino m�dio - alcan�ou 48,8% em 2019, ainda menos da metade.
Em 2019, 51% das mulheres passaram a ter ao menos o ensino m�dio completo, contra uma fatia de 46,3% dos homens. Entre os que n�o completaram a educa��o b�sica, 6,4% eram sem instru��o, 32,2% tinham o ensino fundamental incompleto, 8% tinham o ensino fundamental completo e 4,5%, o ensino m�dio incompleto. O porcentual de pessoas com o ensino superior completo subiu de 16,5% em 2018 para 17,4% em 2019.
P�s-gradua��o
As institui��es p�blicas de ensino perderam alunos de mestrado, doutorado ou especializa��o em 2019, ano em que as universidades federais enfrentaram um duro contingencionamento or�ament�rio. A fatia de estudantes nessa etapa da vida acad�mica matriculados na rede p�blica de ensino encolheu de 29% em 2018 para 25,7% em 2019. O ensino privado ganhou espa�o.
A crise de restri��o or�ament�ria no ensino p�blico pode ter ajudado no fen�meno, segundo a analista Marina Aguas. "Obviamente que a gente est� vendo a� uma educa��o que tem sofrido, n�o s� de um ano para o outro, mas ao longo do tempo, com rela��o a verbas para o ensino p�blico", disse Marina.
O n�mero de pessoas em curso de p�s-gradua��o at� aumentou, saindo de 1,528 milh�o em 2018 para 1,568 milh�o em 2019. No entanto, o ensino p�blico de p�s-gradua��o perdeu 40 mil alunos apenas no �ltimo ano, enquanto as institui��es privadas ganharam 81 mil estudantes.
Em abril do ano passado, o Minist�rio da Educa��o, comandando pelo ent�o ministro Abraham Weintraub, bloqueou parte do or�amento das 63 universidades e dos 38 institutos federais de ensino. No fim de setembro, o minist�rio anunciou o descontingenciamento de R$ 1,156 bilh�o para as universidades federais, o que correspondia a pouco mais da metade do que havia sido bloqueado do or�amento do ano passado para as unidades.
No primeiro semestre, o MEC teve contingenciado o equivalente a R$ 5,8 bilh�es. Al�m das universidades e institutos federais, os bloqueios tamb�m atingiram a Coordena��o de Aperfei�oamento de Pessoal de N�vel Superior (Capes), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep) e o Programa Nacional dos Livros Did�ticos.
DESIGUALDADE AINDA � GRANDE
Os dados sobre a escolariza��o da popula��o brasileira v�m melhorando, mas ainda mostram uma forte desigualdade, especialmente a partir da adolesc�ncia, quando parte expressiva dos jovens ainda interrompe os estudos. O pa�s tem 10,1 milh�es de jovens de 14 a 29 anos que n�o frequentam a escola nem conclu�ram o ensino m�dio, sendo que 7,2 milh�es deles s�o pretos ou pardos.
As informa��es s�o da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua: Educa��o 2019, divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE). Os dados mostram que o abandono escolar se agrava a partir dos 15 anos. Metade dos rapazes que abandonaram a escola alega que precisavam trabalhar. Entre as mulheres, quase um quarto delas (23,8%) deixaram os estudos porque ficaram gr�vidas.
"Os motivos da evas�o, do abandono, s�o diferentes. O que chamou mais aten��o foi a diferen�a entre homens e mulheres. A quest�o do trabalho para os homens pesa muito mais. � �bvio, se olhar a realidade heterog�nea do Brasil, a gente sabe que muita gente tem de trabalhar cedo porque precisa prover dinheiro para dentro de casa, para alimenta��o, para o sustento. Mas impressiona como a quest�o da gravidez entre as mulheres faz com que haja uma ruptura da quest�o escolar. Isso chamou a aten��o. �bvio que o trabalho � importante, mas, para as mulheres, a quest�o da gravidez foi tamb�m decisiva", disse Marina Aguas, analista da Coordena��o de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Segundo o IBGE, elevar a instru��o e a qualifica��o dos jovens � uma forma de combater a expressiva desigualdade educacional do Pa�s, mas tamb�m pode facilitar a inser��o no mercado de trabalho, reduzir empregos de baixa qualidade e a alta rotatividade, especialmente em um contexto econ�mico desfavor�vel.
Apenas 41,8% dos adultos pretos ou pardos acima de 25 anos tinham conclu�do o ensino b�sico obrigat�rio em 2019, contra uma fatia de 57% da popula��o branca na mesma faixa et�ria. Os pretos e pardos tinham, em m�dia, 8,6 anos de estudos, enquanto os brancos tinham estudado 10,4 anos, quase dois anos a mais.
"A popula��o branca tem quase dois anos a mais de estudo que a popula��o preta ou parda, mostrando a� mais uma vez essas diferen�as de acesso � educa��o, ainda que � educa��o b�sica", disse Adriana Beringuy, analista da Coordena��o de Trabalho e Rendimento do IBGE.
As taxas ajustadas de frequ�ncia escolar l�quida - que mostram as pessoas em idade escolar que cursam a etapa adequada de ensino para a respectiva idade - evidenciam que o atraso e a evas�o afetam mais a popula��o negra ao longo do progresso da vida escolar. "O desequil�brio, as desigualdades, o in�cio dos gargalos j� come�a no ensino fundamental. As pessoas falam que o grande problema seria o ensino m�dio, ele n�o come�a no ensino m�dio, ele j� se manifesta nesses anos finais no ensino fundamental", ressaltou Adriana Beringuy.
At� a faixa de 10 anos, brancos e negros tinham uma taxa de frequ�ncia escolar l�quida similar, perto de 96%. Entre os 11 e 14 anos, o resultado descia a 90,4% entre os brancos, mas despencava a 85,8% entre os pretos ou pardos. Quando considerada a taxa ajustada de frequ�ncia escolar l�quida ao ensino m�dio entre as pessoas de 15 a 17 anos, o resultado foi de 79,6% para os brancos e de 66,7% entre os pretos ou pardos.
"Se o cara j� vem atrasado, ele tem mais chance de sair (da escola) nessa idade, e tem o pr�prio trabalho concorrendo com o estudo. A gente queria mostrar esse marco que acontece de 14 para 15 anos, e como � importante pensar o que fazer nessa idade para que esse jovem permane�a na escola", explicou Marina Aguas.
A pesquisadora do IBGE lembra que j� existe uma discuss�o ampla sobre como tornar o Ensino M�dio mais atraente para os jovens, mas ressalta que � preciso tamb�m levar em considera��o a necessidade de parte expressiva dos alunos que precisa conciliar os estudos com o trabalho e afazeres dom�sticos.
"N�o � s� uma quest�o de atra��o pela escola, de querer aprender, estudar, mas a quest�o do trabalho, tem de fazer com que ele tamb�m tenha tempo para o trabalho", opinou Marina. "Como tornar a educa��o mais atrativa e, principalmente, de conseguir conciliar nas idades j� maiores com o trabalho, a quest�o da gravidez, dos afazeres dom�sticos. Tudo isso faz com que o tempo da pessoa seja dividido em v�rias tarefas", concluiu.
