
Qual � a posi��o da Igreja Cat�lica, pela sua CNBB, neste caso da crian�a que foi abusada e agora submetida a uma cirurgia de aborto, com decis�o judicial?
Como j� expressado v�rias vezes, a Igreja lamenta profundamente todo o ocorrido. A Igreja � sempre a favor da vida e n�o pode aprovar forma alguma de viol�ncia.
Por essa posi��o, ela foi transformada em uma pecadora para o resto da vida?
N�o sei de onde veio essa interpreta��o. Com certeza, n�o � da Igreja. Para todas as pessoas existe sempre a chance de se redimir, basta querer. Cada pessoa responde pelo seu grau de consci�ncia e uma menina agora com dez anos n�o pode ser tratada do mesmo jeito que adultos.
A Igreja n�o corre o risco de se isolar das comunidades, uma vez que o problema grav�ssimo do abuso � real e presente entre a popula��o?
A Igreja est� pr�xima �s pessoas, em suas alegrias e especialmente em suas dores, em suas vulnerabilidades. Basta prestar aten��o a tudo que � feito em termos de solidariedade e defesa dos direitos humanos. O problema do abuso �, como indicado na pergunta, grav�ssimo. Essa gravidade exige envolvimento de toda a sociedade, no apoio �s fam�lias, no empenho, por exemplo, para que haja educa��o acess�vel a todas as crian�as, direito � alimenta��o, sa�de, afeto etc. A quest�o, portanto, n�o � da Igreja, mas de um contexto de omiss�o, que atinge a todos, indistintamente.
A gente v� discursos agressivos contra o aborto, como o da deputada Flordelis, do Rio, que agora � acusada na Justi�a de mandar matar o pr�prio marido. O sr. n�o teme que a Igreja acabe sendo comparada e at� associada ao discurso dessas pessoas?
Essa � uma situa��o espec�fica, que n�o pode ser comparada a nenhuma outra. A generaliza��o � um defeito do ser humano e das sociedades, defeito que necessita ser vencido. Situa��es complexas exigem prud�ncia na avalia��o, paci�ncia na busca pela verdade e discernimento entre os fatos.
A Igreja n�o teria de ser mais tolerante e compreensiva para com a realidade do mundo de seus fi�is?
A Igreja se orienta pela caridade. Isso, por�m, n�o significa abrir m�o dos valores maiores, como � o caso da vida, da vida das crian�as e dos demais vulner�veis. Existe uma antiga frase que articula caridade com verdade. Tolerar, portanto, n�o pode significar aceitar situa��es inaceit�veis. N�o se resolvem problemas estruturais com respostas imediatistas.
H� outros tipos de abusos contra crian�as e jovens que preocupam o clero atualmente no Brasil?
Todos n�s conhecemos as in�meras formas de agress�o �s crian�as. H� poucos dias, a CNBB foi procurada para participar, em outubro, de campanha de conscientiza��o a respeito do trabalho infantil. E vamos participar junto com outras entidades. Al�m disso, a fome, a aus�ncia de condi��es escolares, a inexist�ncia de atendimento de sa�de s�o formas cotidianas de viol�ncia sofridas pelas crian�as e pela maior parte da popula��o brasileira. Fico com a impress�o de que, por serem formas cr�nicas de viol�ncia, situa��es cotidianas, j� nos acostumamos com elas e n�o s�o mais vistas com viol�ncias. N�s acabamos s� nos assustando quando nos deparamos com situa��es extremamente ruins, como � o caso da viol�ncia sofrida pela menina de S. Mateus. Fico ainda mais assustado se, daqui a alguns dias, outra not�cia tomar o lugar dessa e, como diz certa m�sica brasileira, fecharmos a "janela de frente para o crime" e voltamos para dormir tranquilamente.
Qual � a posi��o da CNBB sobre a pandemia, que j� tem quase 120 mil mortos no Pa�s. Como o sr. avalia a posi��o do governo Bolsonaro?
Como dito antes, a Igreja se preocupa com todas as formas de agress�o � vida, dentre as quais a que diz respeito �s v�timas da covid-19. Preocupa-se, por certo, com as que morreram, mas tamb�m com as que n�o encontram atendimento nos hospitais lotados, com a corrup��o na sa�de e tantas outras formas de agress�o � vida. Mesmo que eu esteja sendo repetitivo, nunca � demais dizer que todas as formas de agress�o � vida incomodam. A CNBB j� se manifestou a respeito da atua��o do atual governo federal. Ela o fez ao se tornar uma das entidades construtoras do Pacto pela Vida e pelo Brasil, com mais cinco outras grandes institui��es brasileiras e posteriormente subscrito por aproximadamente uma centena de outras institui��es.
No caso espec�fico da crian�a violentada no Esp�rito Santo, qual � o caminho que a Igreja prega para ela e a fam�lia neste caso? Haver� acolhimento?
Acolhimento sempre houve e haver�, pois isso faz parte da identidade da Igreja. N�o � um aspecto secund�rio. Considero estranho esse tipo de discurso em torno do banimento, da expuls�o, da exclus�o de quem quer que seja, ainda mais de uma crian�a que acima de tudo � v�tima. � claro que acolhimento implica, entre outros aspectos, mudan�a de vida e onde isso for necess�rio, a Igreja acolher� ajudando a transformar a vida. Especificamente quanto � menina mencionada na pergunta, lembro que, no �ltimo dia 19, o presidente da CNBB, D. Walmor Oliveira de Azevedo, enviou of�cio � Promotoria da Inf�ncia e da Juventude de S�o Mateus, por meio do qual afirmou, conforme transcrevo do pr�prio of�cio, que as "redes (cat�licas) de institui��o de ensino est�o � disposi��o para, graciosamente, oferecer educa��o integral a essa menina, garantindo-lhe preserva��o da identidade, acompanhamento psicopedag�gico especializado, no horizonte do humanismo crist�o". Al�m disso, ofereceu ainda apoio � fam�lia no que for necess�rio.