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Estado de Minas PANDEMIA

Estudo preliminar sugere que Manaus pode ter atingido imunidade de rebanho

Capital amazonense chegou ao �ndice de 66% da popula��o infectada; artigo - ainda sem revis�o por pares - baseia-se em combina��o matem�tica e an�lises sorol�gicas feitas em amostras de sangue


22/09/2020 16:49 - atualizado 22/09/2020 17:07

Manaus vivenciou pico da epidemia em meados de maio, quando aproximadamente 46% da população local já havia contraído a COVID-19; nos dois meses seguintes, índice teria se estabilizado em torno de 66%(foto: Clóvis Miranda/Defensoria Pública do Estado do Amazonas)
Manaus vivenciou pico da epidemia em meados de maio, quando aproximadamente 46% da popula��o local j� havia contra�do a COVID-19; nos dois meses seguintes, �ndice teria se estabilizado em torno de 66% (foto: Cl�vis Miranda/Defensoria P�blica do Estado do Amazonas)
Estudo divulgado nesta segunda-feira, 21, na plataforma medRxiv aponta que quando a cidade de Manaus (AM) vivenciou o pico da epidemia de COVID-19, em meados de maio, aproximadamente 46% da popula��o local j� havia contra�do o SARS-CoV-2. Um m�s depois, o percentual de infectados teria atingido 65% e, nos dois meses seguintes, teria se estabilizado em torno de 66%.

Na avalia��o dos autores, essa taxa de infec��o “excepcionalmente alta” sugere que a imunidade de rebanho pode ter contribu�do significativamente para determinar o tamanho final da epidemia na capital amazonense.

“Ao que tudo indica, a pr�pria exposi��o ao v�rus levou � queda no n�mero de novos casos e de �bitos em Manaus. No entanto, nossos resultados indicam uma soropreval�ncia bem mais alta do que a estimada em estudos anteriores, diz Ester Sabino, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de S�o Paulo (FM-USP) e coordenadora da pesquisa – conduzida com apoio da Funda��o de Amparo � Pesquisa do Estado de S�o Paulo (Fapesp).

As conclus�es apresentadas no artigo – ainda sem revis�o por pares – baseiam-se em uma combina��o de modelagem matem�tica e an�lises sorol�gicas feitas em amostras de sangue doado � Funda��o Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do Amazonas (Hemoam) entre os meses de fevereiro e agosto.

“Selecionamos amostras de mil doadores em cada m�s e analisamos a presen�a de anticorpos contra o SARS-CoV-2. Em seguida, fizemos uma s�rie de corre��es nos resultados por meio de modelagem matem�tica”, conta � Ag�ncia Fapesp o primeiro autor do estudo, Lewis Buss, mestrando no Instituto de Medicina Tropical e no Departamento de Medicina Preventiva da FM-USP.

Esse tipo de an�lise est� sujeito a uma s�rie de vieses que precisam ser compensados, explica Buss. Um deles � o fato de os doadores de sangue serem, de modo geral, mais jovens e saud�veis (assintom�ticos) do que a m�dia da popula��o. Al�m disso, no caso espec�fico de Manaus, h� tamb�m uma representatividade maior do sexo masculino.

Outro ponto considerado pelos pesquisadores foi a sensibilidade do teste sorol�gico usado, estimada em 85% para indiv�duos assintom�ticos ou com doen�a leve (a taxa de falso negativo, portanto, pode chegar a 15%). O ajuste-chave, por�m, foi o que buscou corrigir o decl�nio natural da soropreval�ncia contra o SARS-CoV-2 – algo que tem sido observado em inqu�ritos sorol�gicos feitos em diversos pa�ses.

“Algo que ficou evidente em nosso estudo – e que tamb�m est� sendo mostrado por outros grupos – � que os anticorpos contra o SARS-CoV-2 decaem rapidamente, poucos meses ap�s a infec��o. Isso est� claramente ocorrendo em Manaus, o que mostra a import�ncia de fazer medidas seriadas para entender a evolu��o da doen�a”, afirma Buss.

A soropreval�ncia bruta encontrada na pesquisa, ou seja, sem qualquer tipo de corre��o, variou de 0,7% em mar�o, para 5,5% em abril, 39,9% em maio, 46,3% em junho, 36,5% em julho e 27,5% em agosto. Com os ajustes do modelo matem�tico, por�m, os n�meros estimados foram respectivamente: 0,7%, 5%, 45,9%, 64,8%, 66,1% e, novamente, 66,1%.

Estrat�gia semelhante foi adotada para o munic�pio de S�o Paulo, onde os pesquisadores analisaram amostras de sangue doado na Funda��o Pr�-Sangue entre fevereiro e agosto. Tamb�m nesse caso foram selecionadas mil amostras por m�s e, al�m disso, foi adotado um crit�rio de cotas geogr�ficas para dar representatividade a moradores de todas as regi�es da cidade.

A soropreval�ncia bruta encontrada na capital paulista variou de 0,9% em mar�o para 3% em abril, 5,3% em maio, 11,9% em junho, 9,6% em julho e 12,1% em agosto. Ap�s os ajustes do modelo os n�meros foram respectivamente: 0,8%, 3,1%, 6,9%, 16,1%, 17,2% e 22,4%.

“As duas cidades t�m curvas epidemiol�gicas muito diferentes e � muito dif�cil explicar o porqu� apenas com base nos dados sorol�gicos”, diz Buss. “Talvez a informa��o nova � que a soropreval�ncia j� era alta em Manaus quando os �bitos come�aram a cair, o que sugere a contribui��o da imunidade coletiva. Em S�o Paulo, por outro lado, a soropreval�ncia � bem mais baixa e a curva, mais achatada. � prov�vel, portanto, que outros fatores tenham influenciado a queda no n�mero de novos casos na capital paulista”, avalia.

Ester destaca que ap�s atingir o pico de �bitos, entre maio e junho, a capital paulista entrou em uma esp�cie de plat�. “Ao contr�rio do observado em Manaus, por aqui a queda est� ocorrendo lentamente e os dados de agosto est�o semelhantes aos do come�o de abril. Mas hoje vemos muito mais pessoas usando m�scaras e, embora o com�rcio tenha reaberto, a mobilidade ainda est� restrita e as escolas permanecem fechadas, bem como os cinemas e teatros. � poss�vel que esses fatores tenham segurado o crescimento da doen�a por aqui”, diz. "Vale ressaltar que caso a curva fosse semelhante � de Manaus S�o Paulo teria tido uma mortalidade tr�s vezes maior", alerta a pesquisadora.

Atualmente, o grupo coordenado por Ester est� conduzindo an�lises sorol�gicas com amostras de doadores do Rio de Janeiro (RJ), Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE), Curitiba (PR), Belo Horizonte (MG) e Campo Grande (MS). Os resultados ser�o divulgados em breve.

“Trabalhar com dados de bancos de sangue nos permite mensurar a soropreval�ncia de uma determinada doen�a de forma mais r�pida e barata do que os estudos que v�o de porta em porta coletando amostras”, diz.

No entanto, ressalta a pesquisadora, a estrat�gia tem suas limita��es, sendo a principal delas a diferen�a de perfil entre os doadores de sangue e a popula��o geral da cidade, o que requer cuidados para tornar a amostragem representativa.

“Quando come�amos a pesquisa em S�o Paulo, com o aux�lio da Fapesp, uma das primeiras coisas que fizemos foi estudar a geografia dos doadores de sangue para poder estratificar melhor as amostras. Com os recursos da iniciativa Todos Pela Sa�de (do Ita� Unibanco) e os kits de sorologia doados pela farmac�utica Abbott, conseguimos expandir as an�lises para as demais capitais”, conta.

“Ao comparar Manaus e S�o Paulo vemos curvas epidemiol�gicas muito diferentes, apesar de as pol�ticas p�blicas para conter a dissemina��o da doen�a terem sido adotadas em datas pr�ximas e o �ndice de isolamento social n�o ser radicalmente diferente nos dois lugares. O pr�ximo passo � analisar as curvas das outras cidades para, em seguida, criar modelos que nos permitam entender quais fatores pesaram mais em cada caso”, diz Ester.

A pesquisa tem sido conduzida no �mbito do Centro Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagn�stico, Gen�mica e Epidemiologia de Arbov�rus (CADDE), financiado por Fapesp, Medical Research Council e Fundo Newton (os dois �ltimos do Reino Unido).


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